8. Coisa de Capuz

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Sebastiana estava quase morta

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Sebastiana estava quase morta. Por um fiozinho. Ursos parrudos e fedorentos iam se empilhando ao redor da duende, fazendo os pulmões da coitada sufocarem debaixo da pelugem. Naquele instante, tudo parecia perdido. Não poderia haver escapatória. Era Noelo quem tinha o pé na cova.

Foi quando algo aconteceu.

Um barulho. Um som imponderável ecoando à distância, como se as próprias árvores berrassem entre si. Os sentidos de Noelo entrarem em conflito: parecia o grito de alguém por socorro, o tipo de manifestação que manifestava uma tempestade a surgir. Ela não entendia. Os ursos, por suas vezes, tiveram reação similar, porém diferente: ouviram bem o ruído, que fora suficiente para chamar-lhes a atenção, de modo que a vida de Sebastiana fosse poupada no último minuto. E aí o grito soou de novo. Silêncio. Passos... Correria na neve.

Havia alguém por ali.

Noelo engoliu em seco, tentando aquietar-se ao máximo para não atrair atenção para si mesma. Os ursos, malditos, dispersavam-se enfim, atraídos pelos barulhos misteriosos e deixando a moçoila em paz. Passaram-se alguns minutos, então. Longos minutos, silenciosos minutos. E logo não havia mais nenhuma criatura a ser vista, o silêncio gelado perdurando. Era bom, aquilo. Sebastiana estava salva.

― O que você tá fazendo aqui? ― uma voz curiosa indagou atrás da oficial, no que a moçoila virou-se para trás, surpresa.

A duende deu um salto no lugar, arregalando os olhos e deixando escapar uma exclamação. Era aquela pessoa criança, Clara, quem aparecia de frente a Noelo, sorrindo um sorriso torto, os cabelos ruivos escondidos debaixo de um gorro típico de Polo Norte.

― Eu pergunto o mesmo ― respondeu a duende, olhando com desconfiança para a pessoa e levantando uma sobrancelha. A cabeça de Noelo demorava a compreender aquele cenário. ― O que você está fazendo aqui?

― Salvando você, ora bolas! ― retrucou outra voz, indignada, vindo à esquerda de Sebastiana, outra vez fazendo-a saltar no lugar. Era agora a pessoa garoto de treze anos quem aparecia, vindo das árvores: o tal de Rafael. ― De nada por afugentar os ursos malvados!

A cara da duende se dobrou de maneira esquisita. O cérebro dela mergulhava em águas árticas.

― Perdão? O que você falou? ― inquiriu, sem entender o que aquelas palavras significavam.

Rafael cruzou os braços, impaciente, se aproximando, junto da garotinha, de Sebastiana.

― Fomos nós que salvamos você... Sabe? Atraindo a atenção dos ursos e enganando-os ao fazê-los pensar que havia alguém para eles perseguirem.

― A gente berrou bem altão! ― exclamou Clara, animada com os próprios feitos. ― E aí os ursinhos saíram de cima de você! Foi bem legal!

Exato. Nós salvamos você, tá vendo? De nada. Não estamos cobrando hoje, excepcionalimente.

O Paradeiro das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora