Sebastiana estava quase morta. Por um fiozinho. Ursos parrudos e fedorentos iam se empilhando ao redor da duende, fazendo os pulmões da coitada sufocarem debaixo da pelugem. Naquele instante, tudo parecia perdido. Não poderia haver escapatória. Era Noelo quem tinha o pé na cova.
Foi quando algo aconteceu.
Um barulho. Um som imponderável ecoando à distância, como se as próprias árvores berrassem entre si. Os sentidos de Noelo entrarem em conflito: parecia o grito de alguém por socorro, o tipo de manifestação que manifestava uma tempestade a surgir. Ela não entendia. Os ursos, por suas vezes, tiveram reação similar, porém diferente: ouviram bem o ruído, que fora suficiente para chamar-lhes a atenção, de modo que a vida de Sebastiana fosse poupada no último minuto. E aí o grito soou de novo. Silêncio. Passos... Correria na neve.
Havia alguém por ali.
Noelo engoliu em seco, tentando aquietar-se ao máximo para não atrair atenção para si mesma. Os ursos, malditos, dispersavam-se enfim, atraídos pelos barulhos misteriosos e deixando a moçoila em paz. Passaram-se alguns minutos, então. Longos minutos, silenciosos minutos. E logo não havia mais nenhuma criatura a ser vista, o silêncio gelado perdurando. Era bom, aquilo. Sebastiana estava salva.
― O que você tá fazendo aqui? ― uma voz curiosa indagou atrás da oficial, no que a moçoila virou-se para trás, surpresa.
A duende deu um salto no lugar, arregalando os olhos e deixando escapar uma exclamação. Era aquela pessoa criança, Clara, quem aparecia de frente a Noelo, sorrindo um sorriso torto, os cabelos ruivos escondidos debaixo de um gorro típico de Polo Norte.
― Eu pergunto o mesmo ― respondeu a duende, olhando com desconfiança para a pessoa e levantando uma sobrancelha. A cabeça de Noelo demorava a compreender aquele cenário. ― O que você está fazendo aqui?
― Salvando você, ora bolas! ― retrucou outra voz, indignada, vindo à esquerda de Sebastiana, outra vez fazendo-a saltar no lugar. Era agora a pessoa garoto de treze anos quem aparecia, vindo das árvores: o tal de Rafael. ― De nada por afugentar os ursos malvados!
A cara da duende se dobrou de maneira esquisita. O cérebro dela mergulhava em águas árticas.
― Perdão? O que você falou? ― inquiriu, sem entender o que aquelas palavras significavam.
Rafael cruzou os braços, impaciente, se aproximando, junto da garotinha, de Sebastiana.
― Fomos nós que salvamos você... Sabe? Atraindo a atenção dos ursos e enganando-os ao fazê-los pensar que havia alguém para eles perseguirem.
― A gente berrou bem altão! ― exclamou Clara, animada com os próprios feitos. ― E aí os ursinhos saíram de cima de você! Foi bem legal!
― Exato. Nós salvamos você, tá vendo? De nada. Não estamos cobrando hoje, excepcionalimente.
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O Paradeiro das Estrelas
FantasyA população de Polo Norte entra em desespero quando estrelas do natal são roubadas na calada da noite, no que dois elfos azarados se vêem numa inquietante investigação pela misteriosa Floresta Áurea. Afinal, haverá uma conspiração enganando a todos...