A população de Polo Norte entra em desespero quando estrelas do natal são roubadas na calada da noite, no que dois elfos azarados se vêem numa inquietante investigação pela misteriosa Floresta Áurea. Afinal, haverá uma conspiração enganando a todos...
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Fortemente guardado por uma pequena legião de guardas armados da cabeça aos pés, o escritório máximo e oficial da madame Saturnália da Intrépida Guarda Real de Polo Norte surgiu aos olhos de Sebastiana, envolto numa repentina nuvem de pó de ouro. Com os sentidos conflitando-se entre si mesmos, a duende firmava no chão os pés, impedindo-se de tombar contra o piso, no que Saturnália observava-a com suas íris divergentes, o narigão empinado feito pipa no ar. Noelo soprou boca afora um suspiro de surpresa.
― Espero que a senhorita já tenha mandado aquelas duas pessoas crianças para bem distante a este ponto, Noelo! ― brigou Alafina, a cara feia feito gato molhado, no que as unhas longas roçavam contra o tecido do saquinho brilhoso em cima da mesa. ― Acabo de ser informada de sua total incompetência para com a missão que dei-lhe para cumprir no dia de ontem. É claro, meu Nicolau, é claro que uma criaturazinha como esta tonta não saberia se dar nem com uma tarefa tão simples como esta! Eu devia ter sido mais sábia e a mandado para catar cocô de rena, sinceramente. É claro, é claro!
Engolindo em seco, Sebastiana ergueu o próprio rosto na direção da velha, vendo-a passar nos dentes uma língua afiada feito faca. Já bastava, tão enfim. Já era. Já não era mais possível! Noelo não ficaria ouvindo desaforos tão imbecis naquele momento. Não mesmo! Não quando algo de fato importante e perigoso estava acontecendo lá fora.
― Madame Saturnália, a senhora não entende... ― começou a tentar explicar a moçoila, imediatamente interrompida pela outra como que Sebastiana tivesse acabado de pisar de salto alto no dedão do pé de Alafina.
― Perdoe-me a rudeza, mas quem não entende aqui é você, meu floquinho de neve ― falou a velha, indignada. ― Você só deverá dirigir-me a palavra caso eu assinale para que assim seja feito, está me compreendendo? Ou será que essas noções são complexas demais para caber na cabeça de uma pobre sulista?
Estapeada na cara, Sebastiana sentiu orelhas, testa, nariz e língua esquentarem-se feito lava. Não poderia tolerar mais aquela loucura. Não queria saber mais daquela indecência. Era preciso agir. Era preciso que houvesse um baque.
PAF!
Sem cerimônias, a mão de Noelo foi de encontro à mesa lisa da patroa, deixando um estampido ecoante berrar tensão pelo escritório. Finalmente igualando suas colorações, os olhos de Alafina Saturnália esbugalharam-se, brancos que nem pérola, no que a velha abafou um grito de surpresa, logo interrompida pela outra.
― Por tudo que é mais natalino, madame Saturnália, faça um favor ao mundo e cale essa sua boca preconceituosa por pelo menos um minuto! ― bradou Sebastiana, tomada de fúria e impaciência. ― Eu estava com as duas crianças agora mesmo, antes da senhora me teletransportar. Há algo sobre elas que eu descobri. Algo grande, algo importante... Relacionado ao roubo das estrelas do natal na Floresta Áurea. Só que não há tempo pra explicações. É preciso agir logo, com urgência máxima. Senão, será tarde demais e as estrelas já não estarão mais nesta dimensão! A senhora precisa me escutar!
De olho em Noelo com globos oculares estreitados, Alafina havia parado de mexer as unhas no saquinho brilhoso em cima da mesa, abrindo um sorriso tênue com seus lábios cadavéricos. Ao se ajeitar na cadeira, a velha balançava a cabeça de um lado para outro num balancê divertido, como que fazendo os passos de uma dança endemoniada. Sebastiana achou estranho, mas não se intimidou: continuou fitando a superior de cima para baixo, bem de onde estava, a mesma mão ainda estática contra a mesa.
― Veja se não temos uma lunática entre nós... ― murmurou a duende mais velha, cheia de desdém e deboche derramados na voz. ― A sulista que se acha investigadora... Rá, rá! Parece até coisa de ficção. O que será que vem depois? A rena que não sabia voar? Conta outra! Não é como se alguém em sã consciência fosse acreditar em seja lá que conto de natal você esteja cozinhando aí na sua cabecinha azul, Noelo. Nem todos são loucos assim...
Sebastiana estava enlouquecendo. Só podia. Não havia outra explicação. O cérebro da duende entulhava-se com tantos pensamentos negativos e pressões vindas de tantas diferentes direções que ela nem sabia como reagir direito às palavras ácidas da outra. Deveria ela chorar, afinal? Gritar? Ficar com raiva? Pedir ajuda? Não, estupidez. Nada disso resolveria problema algum. O que era para ser feito era diferente, bem sabia a moçoila. Havia tempo passando. Um tempo que não voltaria, a partir do instante que uma leva de estrelas mágicas ultrapassasse um Portal Preciso.
― Desculpe, madame Saturnália ― pediu a duende, abaixando a cabeça e os olhos para a mesa da patroa, vendo-se de repente interessada num sinuoso brilho dourado. ― Não quis... ser rude com a senhora, jamais...
Sebastiana entreviu a outra alargar o sorriso na boca.
― Não importa o que você quis ou não, floco de neve ― afirmou a velha, ranzinza como sempre. ― O que importa é sua petulância com sua superior. Não tolerarei esse seu comportamento deplorável, está me ouvindo? Considere-se para sempre despedida desta organização e, por que não, expulsa desta cidade na qual seus pezinhos sujos estão pisando. Desejo vê-la bem longe daqui o quanto antes. Não há tempo a perder com gente imprestável, eu sempre digo. Não há tempo a perder.
Curioso. Com aquilo Noelo concordava, incrivelmente. Não haveria tempo a perder com gente imprestável e finalmente a moçoila conseguia enxergar. O brilho dourado lhe chamava, por fim, bem ali, tão perto, tão na cara, todo o tempo. Como dissera Saturnália e muito bem dito, não havia tempo a perder!
E então os dedos de Sebastiana não perderam segundos ao enrolarem-se no saquinho brilhoso em cima da mesa, para a surpresa de Alafina e dos guardas que as espiavam ao redor. O desejo de madame Saturnália seria prontamente atendido. Não haveria tempo a perder.
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