Foi Por Pouco

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Pouco a pouco eu vi as feridas se formando em meu corpo, a dor ultrapassava os limites do que eu aguentava, eu já não estava suportando mais... Eu não poderia fazer muito barulho, pois eu não queria que os meus pais soubessem o que estava acontecendo, então eu passei todo o tempo com um pano na boca, para que não corresse o risco de deixar escapar um grito sequer, para completar: o quarto dos meus pais era ao lado do meu, então qualquer barulho eles iriam notar que algo de errado estava acontecendo.
Liam estava desesperado ao meu lado, ele não sabia o que fazer, apenas passava constantemente as mãos no cabelo, roía as unhas, seu coração estava acelerado, a angustia em saber que eu poderia morrer a qualquer momento estava o consumindo por inteiro, mas ele não podia fazer nada... Não importa o que ele fizesse, as feridas não iriam parar de surgir.
Meu pai estava indo trabalhar, ele trabalha em uma agência de videogames (um trabalho bem legal), ele não tem carro, mas tem uma moto, o que segundo ele já é o suficiente. Como de costume, todos os dias antes de ir trabalhar, ele falava “Tchau amor, tchau B” (B era um apelido que meu pai me dera quando eu era um bebê). Isso era tudo que eu precisava para saber que ele estava indo trabalhar.
Em determinado momento, as feridas simplesmente pararam, mas a dor ainda ficara.
—Liam, as feri...das pararam.—Disse Ben, enquanto aparentava estar prestes a desmaiar.
Liam foi em casa buscar os materiais necessários para fazer um bom curativo, ele rapidamente voltou e estava pronto para agir.
—Olha, isso pode doer um pouco.—Diz Liam, enquanto pega o álcool.—Coloca o pano na boca!
Ben obedece e pega a camisa mais próxima e coloca na boca.
—Espera... Tem certeza do que está fazendo?—Pergunta Ben.
—Claro, minha mãe é enfermeira. Eu sei como fazer um curativo.—Responde Liam—Agora se prepara.
Ele abre o recipiente que continha álcool dentro e despeja contra as feridas, a ação foi instantânea, Ben começa a se debater, a ardência era maior do que quando as feridas estavam se formando. Depois da ação do álcool, Liam finalmente começa a fazer o curativo, ele realmente sabia o que estava fazendo, pois o curativo ficou impecável.
—Prontinho—Disse ele, com um sorriso.
—Valeu, cara... Mas quanto tempo isso vai levar para se curar?—Perguntou Ben.
—Olha, de dois em dois dias o curativo tem que ser trocado, se você não magoar... É bem provável que leve uma semana e cinco dias para sarar.

A direção da Escola George H. W. Bush ficou sabendo do que havia acontecido e imediatamente enviou especialistas para consertar o portão da escola, ou melhor, colocar outro portão, pois o outro estava destruído.
Era por volta das nove e meia da manhã, quando uma camionete branca, com detalhes pretos e com o nome escrito “Master of Gates” (um nome bem peculiar para uma empresa) para em frente a escola trazendo consigo um novo portão prateado no suporte de carga.
Logo em seguida, dois funcionários descem do veículo. Eles trajavam uma roupa completamente cinza e usavam um chapéu de mesma cor com o logo da empresa e botas pretas. Com muito esforço eles tiram o portão do suporte de carga da camionete e o carregam para o local de entrada da escola.
—Quem será que fez isso com esse portão?—Perguntou um deles.
—Vândalos!
Eles removem o que havia sobrado do antigo portão e imediatamente começam a fazerem o que lhes foi mandado. Um barulho estranho desperta a curiosidade de um dos funcionários, que guiado pela coragem resolve ver o que foi.
Ele caminha lentamente e cautelosamente, ele passa de sala em sala repetindo as palavras “Olá e Tem alguém aí?”, mas havia algo errado, a porta de uma das salas que se encontrava no canto esquerdo no final do corredor estava fechada. O funcionário imediatamente vai até lá, e ao se aproximar ele percebe que o barulho que ele havia escutado vinha de lá. Ele força a porta, mas não a conseguia abrir, ele tentou por vários minutos e não obteu sucesso... Até que em um determinado momento ele simplesmente decidiu dar chutes na porta e finalmente consegui. Ao entrar na sala, ele se assusta com o que estava vendo: uma garota amarrada em uma cadeira, com muito sangue em seu corpo, quase inconsciente que falava “Me ajuda!”.
—Ah, meu Deus.—Disse ele, enquanto foi em direção da garota e a desamarrou.
Ele a pega nos braços, a colocou na caminhonete da empresa e a leva para o hospital, o mesmo hospital que ela havia ficado por vários dias (John Hopkins).

Ben já estava melhor, as dores já haviam passado. Ele e Liam estavam no quarto conversando sobre o que havia acontecido, até que ele pensa em algo que fazia muito sentido.
—Liam, eu fiz aquele desenho através dela, ela que tinha as habilidades.
—E...?
—E se eu me comunicar com ela através do desenho? Ou... Ou até mesmo da escrita.—Diz Ben, empolgado.
Liam se mostra surpreso, “Como eu não pensei nisso?”, pensou ele. Aquilo era uma ótima idéia, bastava Ben escrever alguma coisa e através da conexão entre os dois, ela iria escrever o mesmo e vice-versa, assim eles poderiam se comunicar e saberem mais.
Naquele mesmo dia, Ben esperou que todos da casa já estivessem dormindo para pôr seu plano em prática. Eram onze e quinze da noite quando ele vai até o porão, para garantir que não seria interrompido. Ele levou consigo um lápis de cor preta e uma folha de papel ofício. Ele começa a fazer movimentos lentos, letras por letras até finalmente construir uma frase: Qual é o seu nome?
Passaram-se trinta minutos e nada, por alguns instantes ele pensou em desistir, porém a sua vontade de saber mais era maior.
Uma hora havia se passado, Ben estava quase dormindo, mas como eu disse “a sua vontade de saber mais era maior” e para garantir que não iria dormir, ele vai até a cozinha preparar uma xícara de café, quando percebi que a sua mãe já estava lá, ele tenta voltar lentamente sem fazer barulho, mas não teve jeito, pois sua mãe logo o viu.
—O que faz acordado uma hora dessa, Ben?—Perguntou ela.
—É... Eu... Eu vim beber água, mãe.—Diz ele, usando suas técnicas de atuação, já que passara dois anos estudando teatro.
A Senhora Grayson cai na sua lábia e logo se retira da cozinha dizendo:
—Não esquece de apagar a luz!
Ben respira aliviado e imediatamente começa a prepara o café, ele tira do armário uma caneca do homem aranha, coloca quatro dedos de café e duas colheres de açúcar.
Com a caneca em mão, ele volta para o porão, onde passaria mais três horas esperando até finalmente pegar no sono.

No outro lado da cidade, Rachel estava tomando soro inconsciente na mesma cama, no mesmo quarto que havia ficado antes. Um dos enfermeiros era muito amigo de Thomas e logo entrou em contato com ele através de uma ligação às seis e quinze da manhã.
Thomas não havia dormido de tão preocupado que estava, ele estava ciente de que sua esposa e seus dois filhos não estavam em casa quando ele chegou e ainda não haviam chegado Thomas estava sentado no chão, encostado na porta do quarto de Rachel passando constantemente uma das mãos a cabeça enquanto segurava um retrato da mesma com a outra, quando seu telefone tocou.
Ele viu que era do seu amigo enfermeira, por alguns instantes ele ficou com medo de atender e receber uma má notícia, mas atendeu.
—Tom, sua filha... Ela está aqui.
Thomas se levanta e rapidamente diz:
—Mark, ela estar bem?
—Ela estar inconsciente, mas vai ficar bem!
—Está bem, eu estou indo para aí agora.
Thomas entra no carro e vai a todo vapor.

O paradeiro de Meredith, Logan e Mike era desconhecido, não se sabia onde eles poderiam está agora, possivelmente comemorando pois “finalmente mataram Rachel” — o que eles queriam a muito tempo —.

Thomas logo chega no hospital, ele rapidamente vai até o quarto onde ela estava e pergunta:
—O que aconteceu?
—Ela estar com vários cortes na barriga, ela... Ela perdeu muito sangue, Tom—Disse o enfermeiro—Um funcionário da empresa Master of Gates a encontrou   ontem na escola onde ela estuda. Se ela passasse mais três horas lá, ela com certeza estaria morta agora.
—Meredith.—Sussurou Thomas.
—O quê?—Perguntou o enfermeiro.
—Nada, nada.—Responde Thomas—Mark, quando ela vai acordar?
—Ela pode acordar a qualquer momento!
Thomas se encaminha até a cadeira mais próxima, que se encontrava perto de uma mesa. Ele novamente havia trazido vários lápis de cores e folhas e os colocou na mesa, Thomas estava muito cansado pois ainda não tinha dormido desde o outro dia, ele então coloca a cabeça sobre a mesa e rapidamente dorme.

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