20° andar

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Andar térreo

- Aperta no 20 por favor - aquela voz, nem vou olhar pra ele, vai que minha imaginação é bondosa demais

Dessa vez tive sorte, estamos apenas nós dois, sinto seu cheiro, algo parecido com o Malbec, mas é mais encorpado, mais forte, pelo reflexo do painel vejo suas mãos grandes saindo pelas mangas do paletó, e eu? sentadinha aqui no meu banquinho de ascensorista fingindo não estar imaginando essas mãos me apertando e me deixando cada vez mais molhada, nunca vi seu rosto, tenho medo de me decepcionar, e um cara desses não ia ser pro meu bico né? ele trabalha no 20° andar, lá só tem escritórios de advocacia e uma sala que nunca vi ninguém procurar, é de um tal de Lui que é pintor, artista plástico, sei lá o nome... mas o bonitão ali deve ser mais um dos advogados fodões ou clientes igualmente ricos, só queria que a maioria não fosse tão esnobe, mas.... o elevador apitou o andar, não sou obrigada a dizer, mas é ele, e acho que está distraído pq ainda não saiu daqui

- Seu andar senhor

- Ah obrigado - e se foi - e eu segurei a porta aberta mais um pouquinho só pra ver ele de costas, fiquei olhando até a hora que ela fechasse e eu voltasse a minha vida.

Infelizmente hoje vou ter que dobrar turno, pode isso gente? não, mas é emergência, a filha da Lia que faz o outro turno sofreu um acidente e vou ter que cobrir por aqui hoje, sai por uns 15 minutos do elevador pra dar aquela alongada e já voltei, no período da noite aqui quase não se tem o que fazer, só ficam poucos funcionários que precisam esticar o turno mesmo, então estou a 20 minutos circulando pelos andares sem ninguém, até que resolvo apertar o 20°, o elevador sobe e assim que abre as portas vejo o cara dos meus sonhos molhados vindo pelo corredor em minha direção, seguro o elevador pra ele e o levo até a garagem no subsolo, vejo pelo relógio que está quase na hora de ir embora também, estou extremamente cansada e apenas quero ir pra casa, amanhã logo cedo terei de estar aqui, me assusto ao ouvir sua voz

- Você trabalhando até essa hora, e a outra moça?

- Teve um problema e eu precisei ficar, mas já estou indo embora

- Entendi, boa noite então

Que estranho ele ter vindo falar comigo, esses advogados são tão egocêntricos, quanto maiores as causas e os ganhos mais metidos ficam, saí do elevador, troquei de roupa e estava saindo pela saída dos funcionários, uma porta lateral que se abre com o crachá, estava indo até o ponto de ônibus quando um carro grande começa a me perseguir, merda, merda, merda, to lascada, quando o carro para do meu lado, buzina e abre os vidros eu finjo que não vi, mas ouço meu nome sendo chamado, era aquela voz

- Oi, tudo bem? o senhor precisa de alguma coisa? - pela primeira vez vi seu rosto, e imediatamente me arrependo de nunca ter olhado antes, ele tem o rosto quadrado com um furinho no queixo, os cabelos na altura dos ombros estão soltos emoldurando um sorriso lindo e olhos castanhos que ficaram pequenininhos com o tamanho do sorriso

- Eu não, mas pelo horário você precisa de uma carona

- Que isso, o ponto de ônibus é logo alí

- E aquele passando era o último ônibus da noite estou certo?

- Merda! Desculpe, mas é verdade, me atrasei

- Entra aqui que te deixo em casa

Lascada sozinha ou lanhada com um bofe desses? nem preciso dizer qual escolhi né? Entrei no carro rapidinho, eu estava com frio, pois trouxe apenas uma roupa leve pois saio no meio da tarde e não a esse horário, ele percebeu e ligou o ar quente do carro pra mim, passei meu endereço à ele e por mais que tentasse não parava de olhar suas mãos no volante, sua calça apertando as coxas, o cheiro de seu perfume me excitava mas eu não tinha o que fazer, cruzei as pernas para tentar amenizar a situação, mas no semáforo ele deu aquela ajeitadinha no pacote e por todos os santos pq fui olhar? devia estar pelo menos a meia bomba e minha calcinha sofreu um diluvio aqui...

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