Capítulo II - Anomalias

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Seattle, 16 de Janeiro de 2019, 21:05PM
Rathbone's House

ΩΩΩ

Eu jamais havia sido tomado por uma raiva tão inebriante quanto naquele momento. Minha mãe estava de cabeça baixa, ainda que ninguém mais pudesse, eu vi a milimétrica gota, uma solitária lágrima escorrer por seu rosto e cair no chão. A precisão com que eu havia visto aquilo foi sobrenatural e alimentou ainda mais meu ódio por Mikael. Eric estava paralisado olhando a cena, através de minha visão periférica pude vê-lo sentar no sofá lentamente.
Num completo momento impulsivo eu me esqueci da dor e me levantei da cadeira de rodas dando dois rápidos passos até a mesa de centro, sem sequer calcular meus atos ou pensar na dor que qualquer movimento me traria. Segurei com a mão esquerda uma das garrafas de cerveja vazia de Mikael e lancei em direção a ele com toda a força que eu era capaz de colocar naquele lançamento, a garrafa atingiu a parte superior direita de suas costas se estilhaçando por completo, deixando um profundo corte na área atingida. Mikael se virou para mim com um olhar de fúria, sem demonstrar nenhuma expressão de dor, por mais que suas costas estivesse jorrando sangue. Ele então se pôs a caminhar em direção a mim, dando a volta pela mesa de centro.
Eric finalmente decidiu intervir, o mesmo se levantou do sofá e veio em direção ao pai, o puxando pelo ombro esquerdo.

- Pai, vamos lá. Chega. Já deu. - Ele disse com um claro medo na voz.
- Não se meta, Eric! - Mikael gritou para meu irmão e se virou empurrando-o de volta para o sofá, fazendo-o cair sentado no mesmo.
- NÃO TOQUE NELE! - Gritei em fúria e desferi um soco exatamente no ferimento causado pela garrafa aproveitando a vantagem de ter ele de costas, Mikael gemeu de dor enquanto curvava-se levemente para frente. Ele então cerrou o punho e, com o braço esticado na horizontal, girou o corpo, desferindo-me um soco diretamente no rosto. Meu corpo infelizmente retomou os sentidos físicos e a dor daquele soco foi claramente sentida por mim. Caí em cima da mesa de centro de vidro temperado, não sabia ao certo se tinha me ferido com o vidro e antes que eu pudesse raciocinar, Mikael me levantou do chão pela camisa.
- MIKAEL! - Gritou minha mãe. - Eu vou chamar a polícia!
- Não! - Disse Eric.
- Chama! - Respondeu Mikael. - Seu filhinho já é suspeito de envolvimento na morte de Jackson Black, agora agrediu o possível sucessor dele. Então ligue para a polícia, VADIA! LIGUE! - Ele disse enquanto me levantava pela camisa. Minha mãe e seu marido trocavam sérios olhares, ela engoliu seco e ele sorriu, em seguida me lançou contra o armário onde se encontrava a tv da sala. A tela se quebrou e a tv desligou ao se chocar com meu corpo.
- PAI! - Eric gritou e se levantou novamente do sofá.
- Não ouse levantar a voz para mim, Eric Rathbone Mendez, se não... - Mikael foi em direção ao meu irmão novamente, dessa vez mais alterado, eu sabia que no mínimo Eric iria sofrer o que minha mãe sofreu, então eu não suportei. Todos os anos de sarcasmo, crueldade e violência verbal velada vieram a minha mente.
- AAAAHHH! - Eu gritei, mas não por dor, e sim fúria por tudo o que eu e minha mãe havíamos passado. Eu estava apoiado no armário, encostado na tv de 50 polegadas com a tela estilhaçada, ao ouvirem meu grito todos olharam para mim e eu, completamente fora da consciência de meus atos, levantei a tv e lancei-a em direção a Mikael. Alguns cabos ligados a TV se desplugaram, outros arrebentaram completamente. Eu nunca fui capaz de erguer uma tv daquele porte com tanta facilidade.

Mikael caiu abruptamente no chão ao lado do sofá, visualizando a vantagem sobre ele que era consideravelmente mais alto que eu, caminhei até o vão ao lado do sofá onde Eric estava de pé a frente e levantei minha cadeira de rodas. Eu não pensava, apenas agia, dessa forma fui até Mikael e deferi nele incessantes e repetitivos golpes com a cadeira de rodas, visando a região do tórax para cima. Após o quinto golpe ele não se movia mais para tentar se defender. Minha mãe e Eric estavam paralisados, mas ao verem Mikael sem reação vieram até mim. Eric retirou a cadeira de rodas de minhas mãos e minha mãe me abraçou, apoiando minha cabeça em seu ombro direito. Eu estava ofegante, sentindo minhas pálpebras pesarem uma tonelada e quando menos percebi... Tudo escureceu.

Ômega - O herdeiro do marOnde histórias criam vida. Descubra agora