CAPÍTULO I

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ROSIE CRAWFORD

Todos os dias eram a mesma coisa. Acordar, ir pra faculdade, chegar em casa e ligar para os meus pais - os adotivos, claro, até porque nunca conheci os verdadeiros. Sempre nessa ordem, eu já estava cansada dessa monotonia.
Vinha pensando nisso voltando da faculdade à tarde, observando cada detalhe da avenida onde estava meu apartamento. Todas as luzes, bares e restaurantes brincavam com o céu estrelado de Las Vegas. É uma pena que eu jamais aproveitara nada disso por ser a certinha e sempre seguir as regras. Mas eu estava exausta de tudo aquilo, eu quero diversão e aventura.

Finalmente após caminhar longos 7km cheguei no meu apartamento amarelo desbotado onde o senhor Thomas - dono do edifício - me esperava todos os dias caso a garotinha morena bonita sofresse alguma coisa.

— Boa noite, senhor Thomas. Faz muito tempo que o senhor está aí? — passei pelo hall de entrada, me dirigindo até o pequeno elevador de madeira um pouco mofado.

— Claro, garota. Estou sempre esperando a bela dama chegar para que eu possa ir pra casa sem me preocupar com os perigos de Las Vegas. — ele se levantou de seu pequeno banco velho e apertou o botão do elevador, antes que eu mesma pudesse fazer isso.

— O senhor vem sendo muito gentil comigo, espero que não seja pelo interesse do seu filho em mim. Até porque ele não tem chance alguma. — entrei rapidamente no elevador antes que o senhor Thomas pudesse falar mais alguma coisa. Gargalhei até chegar ao 12° andar, onde eu morava.

Coloquei os pés em casa e automaticamente retirei meu salto azul marinho, o mesmo que me atrapalhou o dia inteiro e fez brotar um calo no meu dedinho do pé esquerdo.
Liguei meu chuveiro e rapidamente me vi nua diante ao espelho. Realmente morar sozinha me deixou um pouco magra. Não que eu tenha preguiça de cozinhar, eu até gosto mas as minhas comidas não são muito boas e como eu passo a maior parte do dia na faculdade, acabo por comer salgadinhos e coisas não muito nutritivas.
Terminei de tomar meu banho e coloquei um daqueles macacões pra dormir de flanelas bem quentinhas, liguei a TV no meu quarto e avancei num pote de sorvete. Fiquei horas e horas vendo qualquer programa ruim na TV até pegar no sono.

"Rosie, Rosie. Minha querida e a mais bela filha deles, o pecado em beleza. Algo está por vir, algo grandioso e que te deixará em pânico. A profecia irá se cumprir, fique atenta, criança. Que os deuses estejam ao seu lado!"

Acordei aos prantos e suando frio, meu pijama de flanela grudava na minha pele molhada. Sem perder tempo, corri para o banheiro novamente e tomei um banho bem frio para me acalmar. O que havia acontecido? Que sonho era aquele? Com certeza é culpa do sorvete que eu comi.

Fiquei várias horas pensando em tudo até pegar no sono novamente. Só fui acordar quando o barulho dos carros e ônibus passando na avenida me deixaram surda. Ontem à noite eu estava tão avoada com aquele sonho idiota que esqueci de fechar a janela.
Olhei para o despertador ainda com os olhos fechados e relutantes pra abrir. O QUE? NÃO ACREDITO QUE ME ATRASEI, CLAIRE VAI ME MATAR. Claire é minha melhor amiga, estudava pedagogia e eu medicina, éramos amigas desde o ensino médio, nos conhecemos na escola e como minha família adotiva mora longe, ela foi a única pessoa que me acolheu, ela é minha irmã.
Me apressei escovando os dentes e prendi meus cabelos castanhos e compridos em um rabo de cavalo alto, passei um pouco de blush na bochecha e um gloss não muito chamativo. Não sou do tipo vaidosa e preocupada com a beleza mas naquela manhã eu estava horrível.
Corri feito uma maluca pela avenida até chegar na faculdade, nem deu tempo de cumprimentar o porteiro que eu tenho amizade. Eu parecia uma maratonista correndo pelo Campus até o portão principal afim de encontrar a Claire. Quando vi seus cabelos ruivos reconhecíveis até de quilômetros de distância apertei o passo até ela. Claire é linda, típica ruiva de pele clara e desejada por onde passava, era uma pena que Claire nunca se interessava por nenhum garoto que eu apresentava a ela.

— Você se atrasou! Olha, eu quase fui pega matando aula pela diretora só por esperar você aqui. — ela falou em um tom ríspido e me agarrou pelo braço. Ela disse que faria uma surpresa pra mim, mas se eu soubesse que essa surpresa envolvia matar aula...

— O que vamos fazer? Isso é errado, Clar. — Paramos na porta do ginásio poliesportivo, onde tinha quadras de basquete e uma imensa piscina para que os alunos treinassem.

— Você precisa conhecer o paraíso. Deixa de ser certinha, Roseta. — ela riu da minha cara, a ruivinha sabia que eu odiava ser chamada assim, mas ela é teimosa como eu nunca vi alguém ser.

— Já disse que não gosto que me chamem assi... — nem pude terminar de dizer quando ela abriu uma porta até a quadra e vi as dezenas de garotos suados e musculosos treinando. — Uau. — escapou sem que eu percebesse.

— Veja só, mas não faça tanto barulho. Eu disse que valeria a pena, eu já volto, vou me encontrar com o Alex. — Alex era o garoto que ela sempre olhava mas nunca teve coragem de conversar, ele é um galinha e eu jamais aprovei isso. Revirei os olhos para ela e fiz uma careta. Nossa amizade era a coisa mais linda.

Fiquei espiando os garotos jogarem até que me entediei por completo, e caminhei pelos arredores da quadra. Fiquei observando os jardins, os canteiros e as flores coloridas. Tudo era tão mais interessante do que garotos suados correndo atrás de uma bola...
Até que eu ouvi uma voz desconhecida chamar por mim.

"Rosie, venha cá que eu estou lhe esperando."

Por mais que minha mente relutasse para não seguir a voz, meu corpo vazia outra coisa. Fui seguindo e seguindo até parar embaixo da arquibancada do estádio, onde aconteciam jogos da faculdade.
Nada além de escuridão e pó embaixo daquele lugar. Foi quando um homem encapuzado apareceu bem diante a mim - uns cinco palmos de distância.

— Oh, que honra encontrá-la, uma pena que nosso tempo seja curto, quero dizer, o seu tempo. — o homem estranho deu passos curtos em minha direção o que fez com que eu desse um pra trás, me esbarrando com uma barra de ferro da arquibancada. — Não tenha medo, prometo que será rápido e indolor.

— Que-Quem é você? Po-Pode levar tudo. — ele iria me matar? Mas por que se eu nem o conhecia?

— A única coisa que eu devo levar é sua vida. — ele gargalhou tão alto que meus pelos do corpo se arrepiaram. Vi que embaixo de sua túnica ele carregava uma espada, a qual retirou do cinto e ergueu contra mim.
Levantei meu braço como uma forma de me proteger, mas seria em vão, meu fim era aquele. Meu corpo morto ficaria ali e aposto que ninguém me encontraria.
Até que uma espada reluzente atravessou o homem encapuzado e eu só pude ver sangue preto escorrer e jorrar da cratera aberta em seu tórax. Meu coração saltou pela boca quando meus olhos se depararam com o homem loiro mais lindo que eu já vi em toda a minha vida, eu estava hipnotizada e fiquei mais ainda quando seus lábios se mexeram:

— Temos um longo caminho pela frente, irei te explicar tudo. Mas primeiro, terá que confiar em mim, Rosie. — o loiro disse me deixando mais confusa ainda. Quem é ele? Como ele sabia meu nome? — Relaxa, meus irmãos ficaram felizes em vê-la e temos explicação para tudo.

Resolvi confiar nele, foi a única coisa que me restou, estendi uma das minhas mãos para ele o que fez com que ele desse um sorriso largo e sincero. Ele passou as mãos pela minha cintura e me entrelaçou contra seu corpo, até que surgiram asas negras em suas costas e num piscar de olhos estávamos no céu. QUE DIABOS ACABOU DE ACONTECER?

After The ProphecyOnde histórias criam vida. Descubra agora