Capítulo 20 - Camila e Shawn

377 26 0
                                        

A recuperação de meu pai foi rápida, ele passou a noite no hospital por conta da observação médica necessária, e para o caso de sentir qualquer outro incômodo nas pernas. Fomos pela manhã buscá-lo no hospital, eu e Mendes, e fomos para casa onde estava minha mãe e Sofia.

─ Alejandro! Graças a Deus! ─ exclamou minha mãe aliviada e encontrou meu pai em um abraço.

─ Eu estou bem!. Graças a esses anjos que são nossas filhas, está tudo bem ─ ele disse fazendo minha mãe se afastar e dar um sorriso.

─ São perfeitas. Inclusive, Camila querida... você quer ficar mais tempo aqui? ─ disse minha mãe voltando o olhar para nós.

Olhei para Mendes e depois de volta a minha mãe ─ Não sei mãe... Você ficará sozinha em casa?

─ Na verdade prefiro que fique para dar suporte ao seu pai. Daqui 3 semanas eu terei de voltar para Chicago. Seria o tempo que passaríamos juntas.

Olhei-a novamente e, de relance notei um olhar alegre também nos rostos de meu pai, Sofia e de Mendes. Então minha alegria também veio à tona.

─ Ok então. Agora as visitas serão para você em Chicago ─ ela riu e assentiu.

─ Sim, e o que acha de eu vender a casa filha? Assim alugo alguma lá em Chicago e quando quiserem, vocês podem ir lá me visitar ─ disse ela.

─ Acho que não é problema! Aliás, Mendes precisa sair um pouco da praia e conhecer a cidade ─ falei olhando para o rapaz ao meu lado e que me retribuiu com um sorriso.

─ Combinado. Mas então... Sr. Mendes é amigo de minha filha? ─ indagou minha mãe nos fazendo rir por sua pergunta inocente.

─ Bem... Digamos que eu pedi sua filha em namoro ─ ele respondeu trazendo automaticamente o rubor para suas bochechas me fazendo depositar um beijo casto em seu rosto.

─ Olha só, não queria vir para casa de seu pai e agora tem um namorado. Acho que fiz certo então ─ ela brincou.

O momento familiar se estendeu em mais alguns comentários sobre meu namoro com Mendes e logo o dia ia chegando o fim. No fim da tarde, Mendes me chamou para ir caminhar na praia.

─ Sua mãe é engraçada.

─ Sim, ela é... é a minha alegria em forma de gente ─ sorri ao indicar a comparação.

─ Amor... ─ disse Mendes parando nossa caminhada, me fazendo olhar para ele ─ Eu tenho algo pra te dizer e não sei bem como começar.

─ Pode falar amor, não precisa ter medo ─ respondi olhando em seus olhos.

Mendes me olhava e segurava minha mão enquanto entrelaçava nossos dedos. Eu mantinha meu olhar em seu rosto baixo.

─ Eu... eu estava com Marcus na noite do incêndio da igreja. Ele estava um pouco mais embriagado do que o normal. Estávamos caminhando na praia quando passamos na frente da igreja e ele viu seu pai entrando. Quando eu vi ele estava com a garrafa da bebida e um isqueiro na mão e eu corri para impedir que ele fizesse aquilo, mas... ─ ele hesitou e meus olhos começavam a se encher de lágrimas ─ Eu tentei impedir dizendo a ele que haviam pessoas na igreja e ele não quis me ouvir. Ele ateou o fogo na lateral e ele se alastrou. Marcus saiu correndo e eu fui atrás dele, não fiquei para ajudar as pessoas que estavam lá e nem o seu pai. Eu me culpo dia e noite por isso e não queria que você deixasse de saber disso porque você tem o direito de saber... Eu mudei depois que te conheci. Eu te amo Camila, por favor me perdoa por ter sido um fraco e influenciado por uma pessoa como o Marcus ─ ele disse e finalmente olhou para mim também com os olhos marejados de lágrimas.

Eu não conseguia processar nada depois daquela confissão de Mendes. Minha cabeça girava em confusão, dividida entre acreditar nele e perdoá-lo e outra parte revoltada por ele não ter prestado socorro ao meu pai que, por sinal, poderia ter morrido.

─ Mendes, eu... Eu preciso de um tempo pra processar tudo isso que você falou. Me desculpa ─ falei e rapidamente soltei nossas mãos correndo em direção minha casa. Quando entrei, fui correndo para meu quarto. Ouvi alguns chamados de meu pai e Sofia mas não queria conversar com eles naquele momento. Me deitei em minha cama e só conseguia chorar pensando em tudo que acabara de ouvir tentando entender da melhor forma a posição de Mendes. Tentando pensar o porquê do comportamento antigo que ele tinha quando era amigo de Marcus, aquele crápula!Tentando entender o porquê daquele ser querer quase matar meu pai. Chorei por tanto tempo que acabei por dormir e acordar só no outro dia.

Quando amanheceu, abri os olhos completamente pesados de sono e ainda úmido das lágrimas do dia anterior. Me levantei saindo do quarto e indo até o banheiro, lavei meu rosto tentando amenizar a vermelhidão que havia restado. Tomei um banho morno para também amenizar um incômodo que sentia pelo corpo, só então segui novamente ao quarto para pegar qualquer roupa para passar o dia. Assim que desci, fui até a cozinha e encontrei meu pai sentado à mesa com um olhar preocupado para mim.

─ Bom dia filha. O que houve com você ontem? Entrou em casa correndo e não a vimos mais ─ ele disse.

─ Bom dia papai. Eu estou bem ─ respondi vagamente.

─ Camila, sei muito bem que não nasceu ontem e muito menos eu. Conte ao seu pai o que está acontecendo. Mendes já ligou algumas vezes desde ontem.

Aquelas últimas palavras provocaram efeito contrário em mim que me fez olhar para meu pai rapidamente.

─ Mendes ligou? O que ele disse? ─ indaguei.

─ Nada. Apenas perguntou se você estava bem e que eu avisasse quando você acordasse.

─ Não avise nada papai. Por favor, eu lhe peço.

─ O que houve? Vocês começaram a sair agora e... ─ eu o interrompi.

─ Papai, por favor. Eu mesma irei resolver o problema e Mendes não precisa saber nada ─ eu disse mas não fazia ideia de como iria fazer qualquer coisa.

─ Está bem. Não está mais aqui quem disse.

Saí da cozinha em direção a sala externa da casa onde ficava o piano de meu pai. Decidi que ficaria ali por algumas horas do dia tentando reconstruir em mim o que sempre me ajudava em horas como aquela: a música.

𝐓𝐇𝐄 𝐋𝐀𝐒𝐓 𝐒𝐎𝐍𝐆 • 𝚁𝙴𝚅𝙸𝚂𝙸𝚃𝙴𝙳Onde histórias criam vida. Descubra agora