The Big Apple.

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Quando acordou Tulipa demorou alguns segundos para compreender que não estava mais em seu antigo quarto, sequer em seu antigo país. Era hora de arregaçar as mangas e encarar essa nova vida que começava a se desenhar.
Tinha um visto para estudo, agora o que iria estudar ela ainda não sabia. Mas precisava decidir isso o mais rápido possível, pois seria a única coisa que atrapalharia sua estadia em Nova York.
Procurou algo para vestir, escovou os dentes e respirou fundo antes de sair do quarto e conhecer o restante da sua nova "Família".

Ao chegar na copa encontrou sua tia e mais três pessoas sentadas em volta de uma pequena mesa redonda de seis lugares, com um café da manhã tipicamente americano á sua espera.
- Aí está ela!- bradou sua tia assim que a viu. - Não disse que ela é linda! Sente-se, darling!Please.
Tulipa ficou confusa, não tinha certeza se devia saudar os demais em inglês ou em português, na dúvida disse apenas um "hi" meio encabulado e pouco sonoro.
- Pode falar em português, querida. Seu tio é americano, mas a convivência fez com que ele ficasse fluente em nossa língua. Não é querido?
- Sim. Aliás, grande prazer te conhecer, Tulipa. Seja bem vinda em nossa casa. - O tio o saudou com um português meio arrastado e carregado de sotaque sulista americano. Tulipa só sabia que ele era herdeiro de uma família muito rica, e gerenciava hotéis e restaurantes da família.
- Eu agradeço,tio, por sua gentileza.
- Ah, e esses são Beatrice e Daniel, seus primos.
Os dois apenas sorriram para Tulipa.
Um certo desconforto se formou, mas Tia Beatriz logo rompeu o silêncio.
- Pensa em fazer algo hoje, Tulipa?
- Talvez ver meu apartamento...caso...seja possível.
- Claro,meu bem! Beatrice pode te acompanhar. Não é B?
A prima apertou os lábios e tomou mais um gole de café antes de dizer que:
- Infelizmente não posso,mommy. Tenho alguns compromissos na faculdade e marquei de almoçar com Noah. Ah, Noah é meu noivo, prima. Sabe como são essas coisas né? Me compreende?
O "compreende" foi quase que soletrado e carregado de uma falsidade que quase era palpável.
- Claro.
- Eu levo ela. - Daniel resmungou por trás do exemplar do Times que lia, ou fingia ler, enquanto os demais debatiam sobre quem levaria Tulipa até seu apartamento. - Desde que...papai devolva meus cartões.
"Ótimo". Tulipa pensou. "Sou a barganha de uma chantagem."
- E para que você precisaria de seus cartões, Daniel? - o tio inquérito, desconfiado.
- Pagar táxis, levar minha prima brasileirinha para comer algo tipicamente novaiorquino. Talvez visitar um museu...enfim, um pacote completo de turismo.
- Dan,o apartamento é só algumas quadras daqui...- a mãe tentou amenizar o clima ruim que se formou entre Daniel e o pai. - E podemos levar Tulipa a esses lugares qualquer outro dia, hoje ela quer apenas conhecer o apartamento dela. Não é, querida?
De algum modo Tulipa sentiu uma certa conexão com Daniel, talvez por seu tom de voz grave e seu jeito despojado de falar tenham mostrado a ela que os dois tinham muito em comum.
- Na verdade...- Pigarreou.- Dar uma volta seria legal pra me situar melhor ....
Daniel enfim voltou sua atenção para ela, e olhando em seus olhos arqueou uma das sombrancelhas e deu um meio sorriso de canto de boca, desses bem safados.
- Nesse caso, eu dou algum dinheiro para Dan.Tudo bem para você querido? - Beatriz olhava para o marido com aqueles grandes olhos castanhos e pidões, mandando uma mensagem de "por favor, não faça uma cena agora."
- Eu dou dinheiro á Tulipa. Assim ela escolhe o que quer fazer, Daniel será apenas um acompanhante.
Venha! - disse o tio limpando a boca e levantando-se da mesa. - O dinheiro está em meu escritório, tenho alguns guias e panfletos de New York too. Oh, sorry, quis dizer "tãobem".
Tulipa riu e disse: - I understand, uncle.

A tia falou sério sobre o apartamento ser a poucas quadras dali, pois uns quinze minutos depois de terem saído de casa ela e Daniel estavam abrindo a porta do apartamento que um dia havia sido do pai dela.
Ela sabia que ele tinha morada ali enquanto fez seu mestrado, então de certa forma agora ela iria conhecer um novo Bruno, aquele de antes de seus vícios, cheio de sonhos. Tulipa ainda não sabia muito bem como encarar isso.

Tulipa 🌷 Parte I Onde histórias criam vida. Descubra agora