"Conheça algumas pessoas legais..."

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Uma semana depois de começarem a mexer no apartamento de Tulipa, naquele sábado á noite ela e Daniel estavam terminando de pendurar alguns mini quadros de releituras de grandes obras de Van Gogh, Monet e alguns outros pintores "pops" nas paredes do banheiro da suite dela. Segundo Daniel era o ambiente perfeito para se admirar obras como aquelas, "só no banheiro encontramos tempo pra prestar atenção nas coisas" ele disse.
Eram quase dez horas da noite quando eles penduraram o último quadrinho, olharam um para o outro e sorriram satisfeitos.
- Então...acho que meu trabalho aqui terminou.- Disse Daniel enxugando a testa com a mão.
- E não é que isso se tornou um lugar habitável enfim?
- Eu te disse que se confiasse em mim não iria se decepcionar.
- Convencido...- Tulipa se inclinou na piá para molhar o rosto e o pescoço. - Só por que pendurou uns quadros por aí, pintou umas paredes já quer levar o crédito todo.
- "Só?" Só fiz isso? Ah Tulipa, você é um doce de prima.
- Obrigada!- ela espirrou água no rosto dele enquanto chacoalhava as mãos.
Os dois foram para sala/cozinha em busca de algo para beber e comer. Pegaram duas latas de Coca e um pacote de salgados e foram para a espreguiçadeira que Daniel havia colocado na varanda bem ao lado da mesinha que ele havia repaginado. Aquele era o cantinho especial deles desde então. Nem os barulhos do trânsito tiravam daquele lugar o ar de descontração e relaxamento .
- Vai voltar pra casa hoje? - Tulipa perguntou a ele.
- Talvez...
- Por que, "talvez"?
- Por que ainda é muito cedo pra sabe onde meu dia vai acabar.
- São mais de dez horas...
- E você está em Nova York. A cidade praticamente acorda a partir de agora.
Os dois fizeram um breve silêncio. Tulipa sentiu-se um pouco embaraçada pela última observação. Algo tipicamente caipira, e brasileiro demais. Como ela poderia pensar que um Nova Yorquino cogitasse ir para casa às dez em um sábado a noite.
"Ridícula". Ela pensou.
- Quer fazer alguma coisa? - Daniel interrompeu o silêncio.
- Tipo?
- Sei lá... Sair pra beber. Conhecer algumas pessoas legais... Ir á uma boate gay... Comprar drogas no outro lado da ilha ...- Daniel apontou em direção á enorme Ponte do Brooklyn que podia se avistar ao longe.
Tulipa riu.
- Não sei se já estou pronta para a fantástica noite de Nova York.
- Cinema?
Ela deu uma risada meio debochada.
- Você não tem cara de quem pegue cineminha aos sábados com uma prima.
- Sempre há a primeira vez...
- Sei...
Outro silêncio estranho, até que Tulipa com um olhar provocador disse:
- Quais são os seus planos?
- Não tenho planos.
- Mas o que você normalmente faria em uma noite de sábado, caso não estivesse na varanda do apartamento da sua prima recém chegada dos "quintos dos internos" ?
Os dois gargalharam.
- Não existe um roteiro.- Daniel deu de ombros. - Eu apenas saio por aí, encontra umas pessoas e deixo as coisas irem acontecendo.
- Entendi...
- Mas se quiser ficar aqui se enchendo com essa porcaria...- Daniel balançou o saco de salgadinhos em frente ao rosto, o colocou de volta entre os dois e balançou sua lata de Coca. - ...e falando besteira, também posso fazer isso.
- Seria legal.- ela jogou um salgadinho em direção a boca dele, que acabou batendo no queixo. - Mas acho que seria legal andar por aí, encontar pessoas, ver o que acontece.
Entendo a provocação dela, Daniel apenas deu um sorrisinho com o canto da boca e meneou a cabeça como se dissesse: " ok."
- Eu só queria ir até a casa da titia pra tirar essa roupa suada e mandar uns e-mails.
- Para a mamãezinha no Brasil?
Tulipa nem respondeu, só jogou mais um salgadinho em direção ao olho dele, que acertou em cheio.

Assim que chegaram em casa cada um foi em busca do chuveiro mais próximo.
Tulipa tomou um banho rápido, lavou os cabelos e enquanto sentia a água escorrendo em seu corpo pensava sobre o e-mail que estava prestes a enviar, especialmente em para quem. Ângelo.
Já era hora de dar a ele algumas notícias.
Desde que chegará a Nova York não tinha feito nenhum contato com ele. E por mais que ela estivesse ciente da crueldade que isso representava, sabia também que era necessário. Quanto menos se comunicassem mais fácil e suportável a ausência de um na vida do outro se tornaria.
Saiu do banho e ainda enrolada na toalha pegou seu celular e jogou-se na cama para começar a digitar o e-mail mais difícil de toda sua vida até agora.
Antes de começar colocou uma de suas bandas favoritas pra tocar em um pequeno aparelho de som que funcionava por bluetooth.
Respirou fundo e pensou: "vamos lá."

Tulipa 🌷 Parte I Onde histórias criam vida. Descubra agora