E eu não sei o que fazer, você é lindo

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     Eu estava esperando um monte de outras coisas que não fossem o que eu encontrei quando invadi a sala de registros. Achei o arquivo dele facilmente e passei os dedos levemente sobre aquilo. Todas as coisas médicas não eram muito de interesse para mim, por que elas não me diziam exatamente o porquê de ele estar aqui. Só me diziam o que tinha de errado com ele. Ele tinha uma fobia social induzida por um trauma e um caso moderado de transtorno obsessivo compulsivo, pra simplificar. Cavei mais fundo nas informações sobre sua vida, determinado a descobrir o que tinha sido o tal trauma. Eu li um relatório da polícia, outro de um terapista e uma avaliação psicológica feita pelo seu psiquiatra. Partindo das palavras de alguns profissionais insensíveis, eu consegui juntar (embora presumindo bastante coisa) os eventos dos últimos trágicos seis meses da sua vida.

     Ele tinha se tornado amigo de dois garotos, ou homens, ambos com vinte e poucos anos, sendo que o mais adulto tinha 23 e era 9 anos mais velho do que Frank naquela época. Os dois o deram um sentimento de alívio da sua comum vida de pária social. Eles o colocaram sob suas asas e o apresentaram um mundo tempestuoso cheio de drogas e violência. O sexo, no entanto, veio depois quando ambos o estupraram dentro do carro do mais velho. Então, como se nada tivesse acontecido, o mandaram para casa, prometendo que o veriam na manhã seguinte. No outro dia, quando se encontraram de novo, fizeram a mesma coisa. Logo, ambos se mandaram, tinham conseguido o que queriam. Frank estava assustado e envergonhado demais pra contar pra alguém por que acreditava que tinha sido sua culpa, como a maioria das vítimas de estupro acredita. Ele achava que não podia dizer pra ninguém já que não acreditariam nele, por que para ele meninos não podiam ser estuprados. Ele guardou tudo para si mesmo e isso apodreceu. Então, se tornou fanático com o fato de era "sujo", desenvolvendo a necessidade de tomar banhos o tempo todo. E foi ficando cada vez pior, até que seus pais começaram a notar. Senti uma onda de ódio dos pais do Frank. Eles deviam ser completamente ignorantes para não notar que seu filho estava tomando banhos demais e que ele tinha medo de interagir com outros seres humanos. Os dois o confrontaram e ele teve um verdadeiro colapso. Eles, não intencionalmente, o fizerem perceber a real magnitude do que havia acontecido.

     Ele pensou que era ridiculamente irônico que justo aquilo contra o qual seus pais mais se opunham tivesse ocorrido, então começou a rir. Sua risada logo se tornou insana e histérica. Ele se isolou da sociedade, temendo que todos lá fora quisessem machucá-lo. Já no hospital, sua risada se dissolveu em uma ira incontrolável e, depois, em um choro copioso. Todos temiam que ele tivesse perdido a cabeça e então o colocaram à força na terapia, onde descobriram que haviam abusado sexualmente dele. Quando a terapia se provou inútil, considerando seu estado mental, ele foi aceito em uma instituição mental de segurança mínima. Era ali onde se esperava que ele pudesse realmente começar a melhorar. Após tudo isso, ainda não tinham certeza de quão suicida ele estava e não queriam se arriscar. Com pais tão ricos, achei que ao entregá-lo a um hospital psiquiátrico eles tinham buscado a saída mais fácil e covarde de todas. Eram o tipo de pessoa que achavam que, por viverem em tão alta sociedade, seria socialmente inaceitável ter um filho que havia sido estuprado e que teve um colapso nervoso. Inferno, e eles ainda precisavam aceitar que seu filho tinha feito sexo (mesmo que totalmente contra sua vontade) com um homem!

     Enquanto empilhava seu arquivo de volta, senti uma sensação nauseante aumentar em meu estômago. O garoto tinha razão - ninguém achava que meninos ou homens podiam realmente ser estuprados. Eu só não entendia por qual motivo ele iria querer conversar comigo. Entedia por que Ben achou que Frank teria medo de mim - eu tinha mais ou menos a mesma idade que aqueles dois estupradores. Mas eu não conseguia esquecer o sentimento de que havia algo além disso no motivo dele falar comigo essa manhã. Deixei o escritório e fechei a porta, incapaz de esquecer sensação nauseante no meu estômago. Pobre garoto, agora eu sabia por que ele tinha um olhar tão triste e por que não havia amor em seu rosto. E eu estava certo (aliás, quando não estou?) - seus lábios realmente contavam uma tragédia.

A Splitting of the Mind (Tradução)Where stories live. Discover now