Segura minha mão

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Nota do Bolacha: *morto feat. enterrado*

Na pequena, abafada cozinha do apartamento que dividia com a mãe e com a avó, Manuela terminava de compor um novo texto para, em seguida, encaminhar no número de Fernando, enquanto ouvia o som dos breves estalos do milho de pipoca, no interior do microondas a estourar.

Ela mirou a caixa de mensagens vazia, desde a noite anterior, quando lhe encaminhara uma mensagem de boa noite. Rolou a conversa apenas por vício, soltou um longo suspiro e bloqueou a tela em seguida, tendo um breve vislumbre de seu reflexo na tela sem brilho.

Esperava o dia todo por uma mensagem do melhor amigo, após aquele tão conturbado, último dia de aula. Ela sabia ter prometido ao garoto que respeitaria seu espaço.

Mas seu peito anciava por alguma satisfação, por mínima que fosse, a respeito daquele comportamento estranho por parte do rapaz.

A hipótese que Jean levantara naquela manhã na escola vinha lhe martelando a mente a tarde toda. Fernando estaria romanticamente interessado em alguém? Se assim fosse, não teria ela sido a primeira a saber? O garoto sempre tivera em si uma confidente.

Por quem poderia ser? Seria seu interesse romântico, o exato motivo de sua omissão?

Seria tão ruim assim, para que o deixasse com receio de confessar?

Ou seria apenas um delírio seu?

Talvez Fernando estivesse a viver outro dilema, que nada tivesse a ver com um romance.

Ela não sabia. E lhe sufocava não saber. No entanto, ela bem sabia que só lhe restava era esperar. Fernando viria até si, se precisasse de algum conforto. Sempre fora daquela maneira, afinal.

Ela acordou de seus devaneios, ao som do estridente alarme do forno microondas.

A garota suspirou, largou o celular sobre o gabinete da cozinha e levou as mãos aos cabelos castanhos, enrolando-os num coque improvisado. O calor lhe irritava. Destravou a pequena porta e, com o cuidado de não se queimar, pegou o pacote - agora bastante estufado - para em seguida despejar seu conteúdo dentro de uma tigela grande, arredondada de plástico, deixando que algumas pipocas se derramassem, espalhadas sobre a madeira do móvel.

Tomou o objeto entre as mãos e se dirigiu até a sala, onde Marina se encontrava deitada no sofá. Tinha uma almofada sobre a barriga, sobre a qual descansava os cotovelos enquanto mexia no celular.

Vez por outra, ela ajeitava as armações arredondadas sobre o nariz, enquanto tinha os olhos vidrados na tela do aparelho.

Manuela externou um risinho. Andou até o sofá em passos largos, sentando ao lado da amiga e alocando a bacia entre seus corpos.

- Mari, larga teu boy um pouquinho e pega pipoca. - disse, tendo como resposta da menina de bela pele morena um tímido sorriso de canto.

- Nós ainda não estamos namorando... - a garota resmungou, se colocando sentada, deixando o celular de lado, ainda abraçando a almofada. - E eu nem to falando com o Ciro.

Manuela lhe estendeu a tigela, tendo uma expressão risonha perante a reação da morena perante à provocação. Marina, tendo o rosto levemente enrubescido, pegou um punhado, para em seguida provar do sabor artificial do milho preparado devagar.

Ainda de boca cheia, ela retomou a palavra:

- Tava falando com o Gui. - ainda que Manuela não tivesse perguntado, ela a satisfez.

- Hum, sobre? - Manuela quis saber, de boca cheia.

- Nada demais, as mesmas aleatoriedades de sempre. - a garota de óculos resmungou, pegando para si mais um punhado da pipoca. Com a mão livre, tirou uma mecha dos cabelos ondulados da frente dos olhos. Os usava soltos, naquela noite. - Ciro voltou pro Ceará. Ele foi com a mãe na casa do pai, buscar o Cid pra passar as férias aqui. Volta semana que vem.

Hormônios, espinhas e eleições do Grêmio EstudantilOnde histórias criam vida. Descubra agora