Parabéns, petista safada (parte 2)

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*Nota do Bolacha*: Bom... e.e

A van de lataria carcomida encostou próxima a um palanque enterrado no chão vermelho, antes que seu motor cessasse sua atividade, e seu ronco envelhecido.

Dilma pulou da porteira onde estava sentada, para aterrissar os pés descalços no chão arenoso. Em momento algum, tirava os olhos de belo tom de âmbar do vidro fumê escuro da van que trazia seus convidados, carregando sempre uma expressão furtiva estampada no rosto arredondado, de feições tênues.

A garota de cabelos de cor de ocre  esperara longos onze meses e meio por aquele momento. Desde que deixara a escola do bairro, seu aniversário tornara-se a única data onde era privilegiada da presença de seus amigos.
O único presente que poderia querer deles, eram os abraços dos quais fora privada o ano todo.

A porta da frente da van se abriu, e por trás dela, surgiu uma cabeça coberta por curtos fios negros, os quais chegavam a alcançar os ombros.

Dilma notou o crescimento do cabelo de Manuela, talvez até mesmo antes da dona das negras madeixas. Sorriu com a dança das mexas à leve brisa, ainda que não houvesse tido a chance de encontrar seus olhos.

Em seu encalce, desembarcaram Fernando, Guilherme, e o convidado que, confessava a si mesma, não esperava: Jair. Este desceu cambaleando, de um cochilo que tirara durante a viagem até ali.

- DILMÃO! - a voz de Guilherme se fez ouvir, quando ele veio furtivamente para um abraço, envolvendo a ruiva em seus braços.

A garota de cabelos enferrujados, só pôde corresponder o gesto de carinho de forma desengonçada, por não estar esperando, até o momento por aquilo. Quase que o garoto lhe derrubara.

Ela levou algum tempo, em meio a um riso gostoso, para conduzir suas mãos pela cintura larga do garoto recém-barbado, e lhe trazer para perto, ternamente, em seus braços.

- Gui... - ela murmurou, tendo os lábios largamente curvados. - Que saudade que eu tava de você! - exclamou, separando-se brevemente dele para poder lhe mirar o rosto redondo, de feições árabes.

Talvez o motivo por reparar em tais detalhes era o fato de sempre ter sido a mais velha entre aquele grupo de amigos, mas não pôde deixar de notar que o menino espichara cerca de dez centímetros, desde a última vez que o vira. Seu rosto, outrora infantil, vinha ganhando feições de homem, e a barba já cobria grande parte de seu queixo.

- Tá ficando velhinha! - disse risonho, cantarolando. Carregava uma expressão sapeca, que quebrava quase que totalmente o ar adulto que outrora esboçara.

- Velha, eu? - ela ergueu uma sobrancelha, fingindo levar ao pé da letra a fala do jovem Boulos.

- É, uma véia coroca. - riu-se mais alto, tendo as bochechas entre as mãos aveludadas da mineira. Há meses ansiava por aquele toque.

- Desinfeta guri! - a voz de Manuela interveio no diálogo que se fazia ali, soando divertida.

Dilma desvencilhou-se do garoto, para poder mirar a face esbranquiçada da gaucha que vinha em seu encontro, estendendo os braços. 

Notou que os cabelos da garota eram adornados com o delicadíssimo enfeite de pena branca, que trouxera para ela de Minas Gerais no penúltimo verão.

Manuela saltitou até os braços da amiga, e esta lhe envolveu o corpo menor num abraço caloroso. Dilma enfiou o rosto na curva do pescoço da morena, para sentir-se inebriada com o doce perfume que daquela pele emanava.

Sempre achara que Manuela cheirava muito bem, o que quase lhe tirava o juízo restante necessário para saber que não seria apropriado lhe dizer aquilo em voz alta. Em vez disso, ela apenas externou em voz abafada:

Hormônios, espinhas e eleições do Grêmio EstudantilOnde histórias criam vida. Descubra agora