Interminável jornada matinal

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Notinha do Bolachinha: tá grande isso aqui gentem, se preparem. Mas eu escrevi com carinho, de modo que pudessem viver cada mínimo momento. :3

Já se passava das sete, quando os garotos dobravam a avenida aberta sem asfalto, onde há muito, morava Manuela. Antes de chegar ao ponto de ônibus, ainda passariam na casa de Guilherme.

A escola onde estudavam, assim como a maioria dos estabelecimentos, se localizava distante do bairro de margem no qual sempre moraram, o que lhes era uma dificuldade, não que já não estivessem acostumados.

Manuela morava num dos simples, pequenos prédios construídos pela prefeitura, desde que veio com a mãe e com a avó de Porto Alegre, ainda criança.

Como ditava a rotina, Fernando, junto de Luíz, adentraram o edifício, para buscá-la. Como sempre, o homem ali estava a degustar café morno, quando notou a chegada dos jovens. Há muito os conhecia.

- Bom dia, molecada. - os cumprimentou, com um sorriso que os contagiou. Era brega aquela postura, mas gentil e acolhedora. - Podem subir. - autorizou, nem precisou se prolongar, sabia quem os garotos queriam ver.

- Falou, Verçosa. - Luíz se pronunciou, sorrindo largamente, se dirigindo junto de Fernando até as escadarias. Sempre tratara o homem por seu sobrenome, por mais que com o tempo que se conheciam, tivessem estabelecido alguma intimidade.

- Falou... - Fernando o acompanhou, timidamente.

Já no primeiro andar, levaram uns três passos para chegarem à porta enfeitada por uma simples guirlanda de plástico, enfeitada por um anjinho.

Se bem conheciam a avó da garota, era a cara dela. Ela que se encarregava de decorar a casa, afinal.

Fernando bateu à porta, e se escorou na parede, para esperar. Luíz imitou o gesto, tirando um cigarro do bolso da calça, junto de um pequeno isqueiro, levando a boca, quando notou o olhar franzido e reprovador do mais novo.

- Que foi? - perguntou, sonsamente, colocando o cigarro entre os dentes. - Eu posso. Eu tenho dezoito anos. Fiz semana passada.

- Pra cima de mim, Lula?! Você fuma desde os dezesseis anos, seu merdinha. - Fernando disparou, irritado com o cinismo do outro. O que mais lhe irritava, na verdade, era o fato de o outro fumar. Se preocupava com ele, e odiava o fato de que o outro parecia fazer pouco caso daquele cuidado que cultivava por ele, pelo simples fato de continuar fumando. - E outra, vai mesmo acender essa porra aqui dentro? Isso fede. Ce não tem semancol?

- Ei, ei... quem é o mais velho aqui? - Luíz se riu baixo, sem conseguir no entanto, disfarçar o tom de deboche e provocação. - Me respeita. - encaixou o cigarro atrás de sua orelha esquerda, guardando o isqueiro de volta no bolso da calça. - Além do mais, o povo aqui fuma pelos corredores que nem uns noiado.

- Mas você não mora aqui. - Fernando logo rateou, quando ouviu os estalos das três trancas da porta sendo abertas. Uma cabeça surgiu da fresta que se fez abrir.

- Bom dia pros atrasadinhos do meu coração. - ela resmungou, levemente emburrada e com um quêzinho de deboche.

- Ah, Manu... - Fernando se riu e revirou os olhos, se aproximando para lhe beijar o rosto. Sentiu seu doce perfume que vinha de suas orelhas e de seu pescoço. - Gui mora virando a esquina da sua rua. O ponto de ônibus é caminho. A gente já se atrasou mais que isso. Relaxa, vai.

- Você anda calmo demais pra quem ta concorrendo as retas finais das eleições do Grêmio. - Manuela ainda provocou. - Não era pra chegar mais cedo e espalhar cartaz pela escola?

- Fiquei até mais tarde ontem fazendo isso. - Fernando logo respondeu. - Ficou um amorzinho, mas eu to cansado de picotar papel crepon. - se referia aos enfeites que elaborara, nas cores verde e amarelo.

Hormônios, espinhas e eleições do Grêmio EstudantilOnde histórias criam vida. Descubra agora