Adaga de Sangue

3.

A sala de treinamento era uma verdadeira academia de luta misturada com um arsenal de guerra. Um tatame cinza cobria o chão enquanto as paredes eram cobertas por espadas, armas, adagas, estacas, arcos e flechas, e outros tipos que eu ainda não sabia o nome.

No fundo da sala de costas para mim, Kieran estava usando uma calça de academia preta e uma regata que deixava os músculos das suas costas aparente. Eu, por outro lado, usava um legging preto em conjunto com um top vermelho e tênis esportivo. Só usava essas roupas antes nas aulas de educação física que éramos obrigados a fazer e em minhas corridas matinais.

- E ai, general, vai me ensinar a matar uns vampiros hoje?

Me aproximei com um sorriso descontraído e divertido no rosto e recebi um olhar sério e sem sorrisos como resposta. Pigarreei disfarçando o bom humor que lançar suco na cara presunçosa da Gaya havia me proporcionado e me balancei em meus calcanhares enquanto olhava envolta.

- Quero que dê 20 voltas na sala e depois 50 flexões.

Talvez tenha sido minha indignação ou meu resmungo, mas definitivamente minha decepção havia o divertido e enquanto me observava correr pela sala, Kieran se manteve caminhando em passos curtos pelo tatame. Quando estava na penúltima volta, em um movimento rápido, seu pé direito entrou no meio de meu caminho e definitivamente meu nariz iria sangrar com o impacto com o chão, porém, antes mesmo que eu caísse, suas mãos pegaram em minha cintura, evitando minha queda.

- Fique mais atenta, na próxima vez te deixo cair. - Seu tom de voz era atento e quase desapontado por eu não ter desviado de seu pé como uma verdadeira caçadora. Assim que me estabilizei em pé, voltei a correr para terminar a última volta sem mais surpresas.

50 flexões para mim era um exagero, já para Kieran, nem chegou a suar enquanto me acompanhava. Quando finalmente acabei, meus braços tremiam e meu corpo em sua última descida não subiu mais. Fechei meus olhos por alguns segundos e esperei minha respiração se acalmar antes de virar de barriga para cima e encarar o teto iluminado por algumas luzes brancas. Alguns segundos depois, o corpo alto de Kieran parou a minha frente tampando a luz com uma perna de cada lado de meu corpo e esticou a mão para que me ajudasse a levantar.

- Vai me soltar quando eu pegar em sua mão, por acaso? - Perguntei com receio de que fosse mais um de seus testes e recebi uma única risada em resposta.

Levando sua risada como um não, peguei em sua mão, e segundos depois sem demonstrar nenhum esforço, fui puxada para cima em um movimento rápido que me deixou levemente tonta.

- Vamos treinar alguns socos agora.

Sorri abertamente e soltei sua mão que eu ainda segurava firmemente e fechei minhas mãos em punho. Com um revirar de olhos, Kieran se afastou e foi até um pequeno armário e voltou com duas faixas. O observei em silêncio até que se aproximasse novamente, e com suas mãos segurando as minhas, envolveu as mesmas com as faixas e esticou as mãos em frente ao rosto em seguida.

- De baixo para cima, alterne de direita e depois de esquerda.

Assenti com a cabeça e soquei suas mãos com o máximo de força que conseguia juntar e recebi um sorriso de aprovação.

- Gancho, o nome disso... - Eu conhecia esse golpe pois minha mãe me ensinou uma vez para me proteger de garotos abusados.

Quando meu conhecimento o pegou de surpresa, suas mãos se abaixaram o suficiente para que minha mão já no ar e com impulso, entrasse em contato com a maçã de seu rosto e tirasse um grito de dor de mim e um resmungo da parte dele.

Choraminguei enquanto sentia minha mão arder com o impacto e logo a apertei enquanto profanava diversos xingamentos em russo. Antes de olhar para seu rosto, imaginava encontrar uma marca grande roxa, mas encontrei apenas uma parte levemente rosada pelo impacto. Ignorando a dor como qualquer bom caçador, Kieran se aproximou de mim rapidamente e pegou em minha mão com cuidado a analisando. Alguns segundos depois, me puxou para que me sentasse em um dos bancos de descanso e saiu em direção a uma porta que eu não havia reparado que existia antes.