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OS BRAÇOS DE NIK me levantaram do chão para que o mesmo me carregasse para os quartos da pousada, em todo o caminho, o mesmo sussurrava que tudo ficaria bem enquanto em continuava a sentir o sangue escorrer por meus olhos.

Eu não queria deixá-lo nervoso, e se soubesse o que ele iria presenciar, teria o afastado no momento que sentou ao meu lado na piscina. Mas agora eu não tinha escolha a não ser me agarrar em sua blusa e me esconder contra seu peito na esperança de algum conforto naquela situação que eu não conseguia negar o quanto me assustava.

Pude sentir os passos de Nik diminuírem enquanto seu pé chutava a porta com força do que eu imaginava ser o quarto de Kieran. A escuridão que cercava meus olhos e minha mente cada vez se consolidava mais, enquanto eu tentava inutilmente secar o sangue de meu rosto. Eu não sabia quem estava com o mesmo, mas a voz frenética de Nik com Kieran me deixava atenta enquanto minhas costas voltava a doer por conta da posição levemente curvada.

- Eu... eu não sei o que houve, ela estava comigo e do nada as lágrimas viraram de sangue... ela não usou nenhum feitiço, ela apenas falou para trazer para você... - Ele estava desolado, e não precisava ver seu rosto para saber como seus olhos provavelmente olhavam entre Kieran e eu freneticamente.

Logo fui depositada sobre a cama mas ao sentir minhas costas baterem contra a superfície macia, um ganido alto escapou de mim como um animal ferido. Pude sentir as mãos que conhecia bem por conta dos treinamentos tocarem meu corpo logo me virando com as costas para cima enquanto eu finalmente pude descansar meu rosto sobre o travesseiro.

- Nik, preciso que busque uma mala que deixei no carro. - A voz de Kieran perto de mim me situou da situação que estávamos e logo que ouvi a porta fechar, soube que havia apenas nós dois no quarto.

Sua mão quente e de dedos longos e finos tocou o cabelo de meu rosto o acariciando para trás enquanto sua outra mão limpava o sangue de meus olhos. Eu não queria estar tão perto do mesmo tão rápido depois do momento que tivemos no carro, e principalmente depois de eu literalmente cancelar qualquer tipo de futuro que teria entre nós de forma tão abrupta. Mas naquele momento, com suas mãos me tocando e transmitindo correntes elétricas por todo meu corpo, eu não conseguia desejar estar em qualquer outro lugar, de certa forma, eu me sentia em casa quando estava em sua presença, e quase podia sentir a brisa e o cheiro da água salgada do mar que eu podia ver da janela de meu quarto em Virgínia.

- Vai ficar tudo bem, eu estou aqui agora. - Sua voz baixa em meu ouvido me trouxe de volta à realidade do momento e deixei um soluço escapar.

O fato de que eu não conseguia enxergar seus olhos castanhos e nem seu sorriso tranquilizador me irritavam mais do que me assustavam, mas naquele momento, entre o medo de perder Kieran para sempre em um tribunal ou de nunca mais vê-lo mas poder tê-lo, eu sem remediar me permiti ser egoísta e aceitar minha falta de visão. Quem sabe assim, ele gostaria menos de mim e se afastasse eventualmente, eu poderia salvá-lo.

Porém, eu me daria um momento de tranquilidade, e decidi esperar algumas horas para iniciar a minha auto sentença de me afastar de Kieran, então tateei a cama em busca de uma de suas mãos, e assim que encontrei o calor da mesma, entrelacei nossos dedos.

- Eu estou com medo... - Naquele momento, era óbvio que o mesmo fosse assimilar meu medo à cegueira e as consequências do veneno, mas eu não precisava pensar duas vezes para saber que o que realmente me aterrorizava era a imagem do mesmo sendo arrastado algemado para fora do tribunal.

- Eu sei, Luna... e eu também estou. - Pela forma como exitou para dizer a segunda parte da frase, eu quase me perguntei se ele estaria com medo do mesmo motivo que eu, mas logo afastei o pensamento por saber que não havia possibilidade de saber o que eu havia visto em meu último sonho.

Adaga de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora