Adaga de Sangue

5.

EU ME SENTIA UMA SUBCELEBRIDADE. A forma como eu havia retirado Ani da estátua ainda estava presa ali e as pessoas comentavam sobre a nossa noite inventando histórias novas e versões alternativas sobre como eu havia à resgatado de uma tentativa de suicídio ou sobre como ela havia subido na estátua depois perder uma aposta.

Os galhos retorcidos que haviam se esticado da árvore continuavam em forma de um escorregador até o chão e por mais que a área estivesse isolada, algumas crianças das turmas mais novas estavam ultrapassando para brincar. Pelo menos eles não viam aquilo como uma experiência traumática como nós víamos.

Dois dias depois de sairmos da enfermaria, um dos caçadores responsáveis pela guarda da academia apareceu em nosso quarto para nos levar para um "bate papo amigável" com a diretora.

Ani e eu não falamos nada o caminho inteiro, mas não precisamos. As pessoas nos olhavam atentamente já sabendo aonde nosso caminho daria. Eu não vou dizer que foi agradável ter todos os olhares do resto da Academia virados pra mim naquele momento, mas também não foi de todo ruim, afinal, no meio de todos os olhares haviam três que me interessaram, Gaya e Theo pareciam que estavam nos observando com uma expressão tão sinistra que eu não sabia identificar se estavam felizes ou tristes pela nossa fama e nossa conversa com a diretora.

Mas definitivamente, o olhar de Kieran foi o suficiente para me fazer esquecer todos os outros. Era como fogo sendo capaz de incendiar meu interior sem nem mesmo tentar, havia mais combustível naquele olhar do que em todos os postos de gasolina em um raio de cinquenta quilômetros.

Não havíamos nos falado desde então e iríamos voltar a treinar apenas naquela tarde. A forma como ele havia me chamado enquanto eu estava em seus braços martelavam minha mente dia e noite e eu não conseguia dormir sem sonhar com o mesmo me carregando até a enfermaria desesperado enquanto meu nariz sangrava e eu estava pálida como um dos vampiros que habitava meus sonhos.

Enquanto eu andava em frente, mantive meu olhar preso ao seu, com o mundo silencioso ao nosso redor, eu conseguia apenas ver seu rosto, sério, forte, e atento em mim. Quando Ani me chamou e quebrou minha atenção, a olhei levemente irritada e logo desconsiderei quando olhei para frente e vi o prédio da administração.

Vamos lá.

Não vou dizer que foi agradável, porque não foi. Passamos uma hora ouvindo Calíope falar dos perigos que enfrentamos e como poderíamos ter nos machucado ou machucado outros, como eu em particular fui irresponsável por não ter avisado a monitora no momento que reparei que Ani havia desaparecido, mas até mesmo ela precisou admitir que meu raciocínio rápido com os galhos da árvore e meu esforço de não deixar minha melhor amiga cair foram incríveis e indispensáveis.

Em momento algum ela mencionou Nik ou Kieran, e eu agradeci mentalmente por isso, pois não seria capaz de explicar como Nik havia chegado até nós naquela hora da noite sendo que nenhuma de nós o chamamos, e muito menos gostaria de falar sobre como entrar no quarto de meu recente instrutor de luta havia despertado um desejo em mim de retornar lá e conhecer melhor cada canto do lugar e seus segredos ocultos que eu com certeza sabia haver muitos mas que ainda não havia descoberto quais eram. Talvez ele gostasse de Spice Girls, ou tivesse uma coleção gigante de suéteres como Nik.

Confesso ter escutado apenas a primeira parte do sermão, mas quando seu monólogo sobre as responsabilidades como bruxas e alunas começaram, deixei minha mente se desviar para a decoração de sua sala. Permanecia da mesma forma de quando vim aqui algumas semanas antes para falar sobre o treinamento. As paredes cobertas por prateleiras altas lotadas de livros tão velhos e provavelmente tão empoeirados que fiquei tentada a espirrar e coçar o nariz apenas de olhá-los, enquanto painéis de madeira escura cobriam o espaço restante e entravam em perfeita sincronia com as cadeiras e poltronas de couro vinho que estavam espalhadas pelo lugar.