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EU NÃO QUERIA que os outros soubessem como eu estava machucada, e sinceramente só contei para Kieran pois o mesmo saberia como me ajudar sem entrar em desespero aparente. Ani teria surtado e me obrigado à voltar para a escola, enquanto eu não queria preocupar e encher mais a cabeça de Nik, que parecia estar sendo perseguido por seus próprios demônios nas últimas horas.

Enquanto eu estava encostada na pia do banheiro pequeno e úmido esperando pelo kit de primeiros socorros que Kieran foi buscar no carro, um pensamento que havia jogado para o fundo de minha mente retornou me distraindo da dor. Peguei a adaga em minhas mãos e à observei atentamente me lembrando da forma como seu punho brilhava em um vermelho forte segundos após eu ter apunhalado o saqueador, enquanto sua lâmina permanecia limpa. Agora, a cor normal de um vermelho sangue vibrava no punho da adaga, que permanecia tão limpa e brilhante como sempre foi, se não soubesse, julgaria nunca ter sido usada.

Eu não sabia como aquilo havia acontecido, e muito menos como ela permaneceu limpa, talvez fosse algo relacionado à forma como ela me atrai, mas naquele momento, a segurando em meus dedos, eu quase podia sentir ela vibrar como se estivesse cheia de um poder invisível prestes à explodir.

Meus olhos estavam tão focados no objeto frio em minha mão que nem ouvi a porta abrir atrás de mim, mas apenas quando o pequeno grito de Gaya preencheu o ambiente me virei rapidamente pronta para alguma ameaça. Porém, apenas encontrei o olhar desesperado em seus olhos enquanto sua mão permanecia sobre a boca.

Antes que pudesse chamar pelos outros, me movi rapidamente em sua direção a puxando para dentro do banheiro, me arrependendo quase em seguida quando a dor me atingiu por completo quase me puxando para baixo.

- Por favor, não fale para os outros, Gaya. Eu não quero que se preocupem. - Eu nunca tinha falado com ela antes com tanto... desespero, e algo no olhar que recebi de volta quase me fez dar um passo para trás por não esperar esse tipo de sentimento vindo da mesma. Compaixão.

- Por Zeus, Selene... suas costas estão estraçalhadas, o que houve com você?

Indiquei com a cabeça que fechasse a porta e me encostei novamente na pia suspirando profundamente enquanto tentava olhar o reflexo de minhas costas no pequeno espelho.

- Dois saqueadores, um deles conseguiu me derrubar e me atingir antes que eu pudesse finalizá-lo. - O tom profissional em minha voz surpreendeu até a mim mesma quando me ouvi usando os termos técnicos que os caçadores costumam usar em suas missões. - Eu agradeceria se você não contasse para os outros, apenas Kieran sabe, e é porque ele pode me ajudar com os ferimentos. Ani entraria em surto, Nik também.

Com apenas um gesto afirmativo de cabeça, a mesma suspirou profundamente e olhou mais uma vez para minhas costas com tamanho nojo no olhar que me perguntei se eu parecia estar tão mal quanto realmente me sentia.

- Não vou contar, não poderia ligar menos para o que você está sentindo. - Sua voz voltou ao seu veneno habitual depois daqueles raros segundos de compaixão e eu não consegui deixar de sorrir enquanto à observava se esconder por trás de sua máscara novamente.

Naquele momento, eu quase senti afeição pela minha graciosa inimiga.

Antes que pudesse responder, Kieran entrou no banheiro novamente e levou um susto ao ver Gaya e eu juntas sem estar com a mão uma no cabelo da outra ou algo do tipo. Sorri fraco assim que o mesmo colocou seus olhos em mim quase como se perguntasse "está tudo bem ou preciso chamar reforços?" e logo olhei para a pequena bolsa em sua mão.

Gaya seguiu meu olhar e com um suspiro profundo, cruzou os braços em frente ao peito e jogou os cabelos loiros por cima dos ombros deixando sua postura graciosa e levemente arrogante aparecer novamente.

Adaga de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora