Diferente da maioria das noites monótonas do pequeno vilarejo, esta está sendo preenchida por bebidas, gritos de festejos e danças ao redor da fogueira na praça central. Seokjin não entendera muito bem o motivo daquilo tudo, mas ao perguntar à um senhor frequentador de sua padaria, soubera que tinha haver com o dia de Deméter, a deusa da colheita. Nunca houve festejos remetentes a esta deusa onde morava antigamente, o reino de Oligron não costuma ter esse contato com a natureza, hora que um dos principais focos eram as minas de carvão. Foi um grande choque de cultura para Seokjin, mas foi o esperado.
Para si, não bastava mais nada para fugir da cidade o mais rápido, além dos rumores de sociedades canibalistas e os casos recorrentes. Não queria ser mais uma vítima dos malucos obcecados, então levou sua padaria para uma vila distante, esperando uma vida pacata. Estava se seguindo assim, por meses, até o dia da determinada comemoração.
Por mais excruciante que fosse, ter a audição envolvida pelos barulhos dos grilos e a sonoridade rude dos ventos o deixava em plena calma. Diferente de Oligron, conhecida por suas festas noturnas e bairros direcionados para diversão adulta, nada intrigante para Seokjin. Pela primeira vez em muito tempo estava sendo atazanado, mas nada que o faria ter uma nova mudança. Era apenas uma noite, no dia seguinte tudo voltaria ao habitual e Seokjin poderia seguir sua vida em frente aos fornos quentíssimos.
Apagou as últimas velas, segurando apenas uma que o guiava para as escadas até o andar de cima da padaria, onde localizava-se sua residência humilde. Mal teve tempo de pisar no segundo degrau e seu nome foi chamado, seguido de repetidas batidas na porta. Pronto para desencadear resmungos para cima do dono da voz, dirigiu-se até a porta. Apresentou-se com uma carranca e uma ruga no meio das sobrancelhas, mas não foi efetivo como esperava, já que o garoto a sua frente nem mesmo tremeu o sorriso nos lábios.
— Hyung! Ainda bem que não foi dormir — falou alternando o olhar entre as ruas movimentadas e Seokjin.
— Sorte você comentar, pois eu estava indo fazer isso agora mesmo — divagou, suavizando a expressão. — Mas fala logo o que você quer, Yoongi. Minha vela está derretendo.
— Eu preciso mesmo dizer? Fala sério! Estão todos fora de suas casas comemorando e o vovô aqui indo dormir — passou as mãos nos cabelos, tirando os fios caídos sobre sua testa. — Você sabe que eu adoro uma agitação. Esta é uma das únicas festas que ocorrem na vila, temos que aproveitar!
— Certo. Vá aproveitar a festa, enquanto eu aproveito minha cama. Vai ser ótimo para você, espairecer as ideias, ocupar a mente. Divirta-se! — Estava fechando a vedação quando Yoongi pôs o pé no espaço quase completo.
— Você tem que vir comigo, Jin hyung! Por favor! Chega de ficar amassando farrinha nessa prisão aí. Faça algo diferente! Se o fato de não querer ir é não saber dançar. Não tem problema! Eu te ajudo! Podemos dançar juntinhos nas músicas mais lentas, prometo não rir de você — olhou o outro com expectativas.
Estava mais do que confirmado que Seokjin não prosseguiria com Yoongi de forma alguma, mas uma pontada de preocupação o dominou quando pensou nos perigos do amigo bêbado e sozinho. Se nem mesmo sóbrio o moreno bate bem da cabeça, sabe-se lá o que pode fazer tomando pileques e dançando ao lado de desconhecidos.
Desde que mudou-se para cá Seokjin anda com seu instinto protetor ativado para o vizinho de porta e também admirador de tortas decoradas. Soube pela primeira vez que viu Yoongi que o garoto poderia se meter em uma encrenca assim, sem nem mesmo piscar os olhos.Mesmo sendo anos mais velho, os pais de Min Yoongi nutriam uma verdadeira paixão por Seokjin, sempre alegando que os contatos que tinha na escola poderiam não fazer bem para o garoto. Sendo assim, ter uma companhia mais madura e responsável por perto abriria os olhos do pequeno Min. Para falar a verdade, mesmo com as constantes reclamações do comportamento de Yoongi, Seokjin não poderia negar que o estudante foi a melhor amizade que fizera no vilarejo. Bom, na sua vida inteira ninguém havia invadido seu coração como o vizinho invadiu. Com o tempo da relação de união que tiveram, Seokjin pôde ensinar lições valiosas ao mais novo. Como no dia que tentou o ensinar a receita de sua tão adorada torta de limão. Foi um desastre, mas acabaram se divertindo.
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Taças de Sangue
Hayran KurguMudado do caótico reino de Oligron para um vilarejo distante e pequeno, Seokjin achou encontrar a paz que sempre procurou. Mas no dia da adoração para a deusa da colheita, Deméter, encontra o que menos esperava: um canibal disposto a conquistá-lo. o...