Sob o Caos

Nossos Corpos

O barulho de nossos corpos se chocando foi o único som que permaneceu em minhas dolorosas lembranças (gostaria também de tê-lo esquecido).

É um sentimento controverso, lembro que tentávamos evitar esse barulho, e agora é o único que quero reproduzir.

Talvez tenha permanecido como uma sinestesia torturante. Desejo a todo o momento escutá-la (gostaria de tê-la esquecido), mas sempre que tento, machuco-me, pois nunca serei capaz de reproduzi-la.

O lugar em que estou agora fico impossibilitado de relembrar nossos momentos, nossos sons. Fico constantemente sedado, e quando consigo escapar dos monstros de branco, volta-me a dor de não ter mais você (gostaria de tê-la esquecido), volta o barulho de nossos corpos se debatendo até o seu parar, para sempre.

Escrevo-me isso enquanto estou lúcido, enquanto não me encontraram, para quando me forçarem a engolir as pílulas da alienação, eu possa ler isto e não mais vos esquecer, mesmo que doa, mesmo que seja o recomendável.

Não posso esquecer, pois mereço lembrar, mereço sofrer!