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O silêncio gritante beija docemente o meu rosto como a brisa de primavera levanta com ternura a folhagem esquecida, fazendo os galhos pendurarem-se trementes nos braços da Mãe Natureza.

Sinto os meus poros liberarem uma imensa quantidade de suor e uma pressão se apossar de todo o meu corpo. Algo prende minha garganta como se de duas mãos enormes se tratasse e me impede de flutuar para longe, prendendo-me arduamente à Terra ao me sufocar. Os olhos convulsam, a retina frenética tenta encontrar refúgio num único fio de luz que não vem, os lábios protegem os dentes nervosos e perturbados que rangem agudamente na quietude da escuridão.

Cada vaso sanguíneo existente no meu ser exalta-se com medo e salta, originando pequenas ondulações ao longo de todo o meu pescoço e testa, pedindo socorro ao mundo e desesperando-se por salvação. Meus dedos acordam com o alvoroço e se apavoram, remexendo-se sem parar à busca de algo seguro para se segurarem, encontrando logo de seguida um tecido fino e macio que de imediato fica amassado e enrugado, chegando a rasgar tamanha é a força com que as mãos se fincam e tentam fugir.

Meu peito sobe e desce alternadamente, tentando encontrar um certo equilíbrio e paz no meio de tanta turbulência e ansiedade. O puro vazio negro me abraça fortemente e me segura no sítio, impedindo qualquer reação que eventualmente se poderia manifestar. Onde estou?

Sinto um sussurro ser proferido silenciosamente algures no vazio, não me permitindo entender a sua mensagem. As mãos antes avulsas rasgando o tecido posicionam-se furiosamente à volta do meu pescoço, querendo afastar os dedos enormes que prendiam minha respiração e sufocavam o meu pensamento. Volto a sentir as mesmas palavras ser ditas a uma distância mais curta, como se estivessem-se aproximando cautelosamente, esperando o melhor momento para se revelarem.

Tento estreitar as orelhas no que parecia ser agora um silêncio agonizantemente ensurdecedor e a saliva torna-se ácida no segundo em que cada sílaba arrasta-se perfeitamente sobre os meus olhos, naquele tom macabro já me familiar.

"Viva enquanto pode, porque não será por muito."

As minhas entranhas remexem-se raivosas e impulsionam-se estômago acima, correndo à velocidade da luz atrás do esperado alívio. Quando rapidamente tocam minha língua, as mãos exaustas repousam-se sobre a boca, impedindo que sejam livres e felizes, e que encontrem a luz no fundo do túnel. Uma ardência repentina faz-se sentir em todo o redor das minhas orbes ainda seladas a sete chaves, estas que se recusam a deixar a falsa paz do escuro, e obriga-as a despertar.

O vazio é substituído pela brancura fria e hostil que me devora milésimo por milésimo, que aniquila sem piedade o escuro onde as retinas tinham encontrado a falsa liberdade que lhes fora temporariamente oferecida. Movo-as com receio pelo espaço iluminado e o cheiro intenso a limpeza e desinfetante atordoa os meus sentidos, fazendo com que eu deixe cair a cabeça para a frente. Os meus braços tomam a minha recente visão para si e choram, choram derretidamente sob os cortes que os preenchem e os tentam alegrar, choram frenéticos pela dor viva e florescente que toma toda a sua extensão.

Encaro perdidamente o lençol rasgado da cama de hospital e volto a fixar o olhar na parede paralela a mim, tendo retido um resquício do sorriso amarelado e torto que se mantinha seguro no ar até desaparecer por completo. Desvio a minha atenção para o lado direito do quarto e avisto um monitor de batimentos cardíacos, parece caro.

O barulho saliente de sapatos a tomar imponentes passos leva-me a tornar o rosto contorcido em direção à porta branca, ficando à espera de quem quer que fosse entrar pelo portão do falso paraíso.

-Bom, o que temos para hoje? Vejámos... -A mulher direciona-se diretamente à placa pendurada no final da cama, sempre com o rosto enfiado na prancheta que se encontra abrigada nas suas mãos. Ela murmura a melodia de algum trecho de uma música alegre enquanto tira anotações para o seu papel e finalmente coloca-a debaixo do seu braço. Quando o seu olhar se eleva, o ruído da prancheta de metal a bater no chão extremamente branco ecoa por todo o cômodo, fazendo-me arrepiar levemente.

-Oh, você acordou.

Ela me encara confusa e rapidamente arregala os olhos, se aproximando numa velocidade estonteante do meu corpo.

-Meu Deus, o que aconteceu aqui? Você está bem? -Me pergunta afobada enquanto fita de perto o meu rosto, que logo a vê contorcer uma faceta de tristeza e preocupação.- Pega esse balde, pode vomitar.

Mal a sua oferta é feita, as entranhas gritam em alegria ao saírem disparadas para fora de mim, sem nem esperar eu segurar o maldito balde. Fito o interior do contentor e só vejo vazio e nada, absolutamente nada.

-Você rasgou os lençóis de novo, YongSun?

De novo?

Encaro-a confusa e ela desvia o olhar para os meus braços cortados.

-Você tem que parar de se cortar, sim? A dosagem não parece estar dando efeito, já é o segundo modelo que tentamos.

Segundo modelo? Dosagem?

A mulher que eu presumo ser a médica afasta-se por segundos e volta a mim com um copo de água, me incentivando a beber. Os dedos enormes que agarravam com força a minha garganta fogem e a minha respiração liberta-se, manifestando-se num suspiro de alívio.

A médica arrasta uma cadeira e coloca-a do lado da cama, cruzando os braços derrotada.

-Pelo menos você acordou, faz uma semana e meia que você está aqui e até agora nunca abriu os olhos.

-A-Aqui? -Solto com dificuldade, o desconforto ainda estava presente.

-Lembra de estar naquela casa gigante com as suas amigas? -Afirmo com a cabeça à espera da sua explicação.- Você acabou por desmaiar pela segunda vez e elas chamaram nossos serviços de emergência.

Amigas... Moonbyul!

-Sabe onde elas estão? Tem como eu falar com elas?

Ela me encara com um sorriso tímido e se levanta da cadeira me deixando confusa. Observo-a aproximar-se da porta e a empurrar a mesma, revelando duas pessoas muito conhecidas por mim esperando ansiosamente por entrar.

-Vou deixar-vos a sós, qualquer coisa só clicar no botão atrás da cama e eu venho o mais rápido possível. Até daqui a pouco.

A médica retira-se por completo do quarto e dá lugar a duas namoradas chorosas.

-Unnie!

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E voltei com esse capítulo aí, espero que tenham gostado.❤

Me falem se acharam muito diferente dos outros ou não e se está mau assim.

Até à próxima, beagles!

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