Só pra não te ver ficar com raiva

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*Ana Clara*

A Vi me abraçou muito forte quando, enfim, a convenci a não ir embora correndo da minha casa no meio da madrugada. A sensação dela estar me abraçando forte foi o suficiente para me fazer pegar no sono, mas não o suficiente para me manter nele. Em poucos minutos de sono, meus pesadelos me tomaram a cabeça e eu sonhei com a Letícia entrando naquele quarto e me flagrando na cama com a Vi. Acordei com a respiração desregulada e me mexi devagar, Vitória nem ao menos se moveu, ela parecia dormir tão tranquila que fiquei ali mais uns minutos me perguntando com o que aquela moça sonhava. Torci para que seus sonhos fossem melhores que os meus.

Levantei da cama e fui para a sala compôr, aquele olhos mereciam uma canção e ela basicamente já veio pronta. A Vi é uma canção. Gravei em um áudio de whatsapp mesmo e mandei para a dona dos olhos cor de marte. Quando me dei conta já era bem tarde e eu estava semi-bêbada ainda, fui me deitar e me aconcheguei com o rosto na nuca adormecida de Vitória. Grudei meu corpo no dela de novo e adormeci ali. Meus sonhos foram muito confusos nessa noite. Vitória, Letícia, eu, Dan, Felipe Simas, uma confusão de pessoas e vozes.

Acordei com o esbravejar da campainha e já levantei da cama em um pulo, ninguém me visitaria assim em uma manhã de sábado a não ser que fosse Letícia. Meu coração já estava na boa quando abri a porta e a confirmação veio. A Vitória estava na minha cama, que porra que eu ia fazer?

- SURPRESA! – A Lê estava muito animada, o que me deixava ainda mais em pânico.

- Oi, amor – a abracei, com muito medo do que poderia vir a seguir.

- Já que temos uma futura doutora muito estudiosa, vim não deixá-la tão solitária - Letícia saiu me beijando e entrando na casa, sorridente e animada.

- Amor, eu preciso te dizer uma coisa – ela parecia confusa, então continuei como se não fosse nada demais – A Vi tá aqui, ela chegou ontem de surpresa também.

- VITÓRIA, ANA CLARA? SÉRIO? – A Letícia começou a gritar comigo e eu nunca a tinha visto tão brava assim.

- Fala baixo, Lê, ela tá dormindo, não aconteceu nada – Falei e no mesmo instante que concluí a frase ouvi a porta do quarto se abrindo.

"Porra, Ana Clara.", foi tudo que consegui pensar com os gritos da Letícia e os rápidos movimentos da Vitória para sair, eu já não conseguia argumentar com nenhuma das duas e apenas quando a Vitória saiu do apartamento e a Letícia conseguiu gritar tudo, foi que comecei a falar.

- Amor, nada aconteceu. Nada, eu juro. A Vi só queria conversar sobre o lance de São Paulo. Nada além disso. – Falei abraçando Letícia que já chorava.

A essa altura eu já sabia que não poderia viver sem a Lê, o medo que eu senti que ela fosse embora me engoliu. Mas e a Vi? Eu não tinha resposta para nada disso e apenas me deixei acalentar e ser acalentada por Letícia. Eu e a Letícia passamos assim boa parte do sábado, tentando aparar arestas e deixar um pouco a briga pra lá. Eu não disse sobre o beijo, eu não disse nem que dormimos na mesma cama. Quando as coisas finalmente se acalmaram consegui dizer:

-Lê, eu e a Vi, resolvemos aceitar a proposta do Felipe, isso quer dizer que , provavelmente, dividiremos um ap em São Paulo, você precisa se acostumar com a Vi. Nós somos amigas, não tem nada além disso, a Vitória é hétero – Falei enquanto fazia cafuné em uma Letícia que agora estava em silêncio.

Letícia continuou me observando, com uma expressão vazia e eu continuei então a dizer:

- Lê, eu juro que não tem nada pra você se preocupar – Embora pareça que eu estivesse mentindo, eu não me sentia mentindo. Eu precisava tirar a Vitória da minha cabeça dessa forma e eu amava muito e sempre tinha amando a Lelê desde quando nos conhecemos e...

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