Vira parte do viver

434 31 1
                                    

*Vitória*

A semana se arrastou pelos dias e eu só conseguia pensar em quando NaClara chegaria e embora eu ainda estivesse magoada com toda a situação lá de Minas, meu estômago saltitava enquanto eu pensava que dividiríamos aquele apartamento, eu já tinha plantas por todas as janelas e muitos incensários sobre os móveis, na quinta acabei finalmente a mudança, mas Ana só chegaria segunda. O tempo que pode caber entre uma segunda e outra me impressionava e agoniava. "Ê Vitória, se acalma que o universo tem seu tempo" eu dizia a mim mesma enquanto lavava a louça na manhã de sexta. Eu tentava manter a casa o mais arrumada possível porque se eu deixasse minha bagunça me engoliria e porque queria poder dividir a casa ainda bonitinha com Ninha. A campainha tocou muito alta umas 3 ou 4 vezes sequenciais.

-Já vou, oxi mas que pressa! Calma aí - Eu gritei enquanto abria a porta achando que era algum vizinho, já que o porteiro não interfonou.

Quando abri a porta, alguém com muitas bolsas e bem baixinho me olhava esperando minha efusividade que chegou assim que olhei aqueles olhos imensos e lindos.

- Por que tu não me avisou que já tinha chego, eu tava doida de saudade do teu abraço e de te ver sem estar brigada e de você e... - Eu dizia enquanto abraçava minha, agora, colega de casa- eu teria te buscado.

- Resolvi retribuir a surpresa e te achar de pijama e descabelada pra dar o troco de quando tu chegou lá em casa e, ai Vi, eu tenho tantas coisas pra me desculpar contigo, eu nem sei onde começo. - Ana Clara disse ainda presa no meu abraço.

- Shiiiu! Tu tá aqui, isso é o que importa. Tu tá aqui, tamo aqui, entra - Eu não queria mesmo estragar aquele momento.

Enquanto entrávamos com muitas coisas e malas e eu reclamava da Ana Clara que tem mais coisa do que um país inteiro precisaria pra viver o porteiro chegou, com os móveis dela, afinal os móveis de Araguari tinham poucos meses de uso e o transporte de MG para o SP nem saía tão caro assim. E de repente a casa estava cheia. Cheia das risadas que demos, de nós pulando no colchão com plástico bolha da Ana, de suas milhares de coisas desnecessárias ocupando o apartamento inteiro. Mostrei pra ela os girassóis que plantei em nossas janelas, mostrei os vasinhos de chá.

- Ah Vitória, tu colocou mato até na janela do meu quarto? - Ela disse e eu não sabia se ela estava brincando ou reclamando de verdade.

- É que Ninha, as plantas deixam a gente feliz, deixa o quarto colorido, sabia que as plantas puxam as energias ruins do ambie - Fui interrompida por uma risada da Ana Clara acompanhada de um abraço.

- Vi, a gente precisa conversar sobre Minas? - Ela parecia muito aflita sobre o ocorrido.

- Eu não sei, precisa? - Respondei, deixando pra ela a decisão de reviver esse assunto.

- Eu não sei, tu saiu daquele jeito e me deixou lá, depois nem uma palavrinha sobre isso, eu não sei se tá tudo bem - Ana agora olhava para baixo enquanto brincava com suas duas mãos.

- Bem bem não tá, né NaClara. Mas olha, a gente tem aqui tanta coisa boa pra viver, eu não quero me apegar a única chateação que tu me deu nessa vida, tu só me traz alegria, mulher - Eu disse abraçando aquela Ninha de olhos baixos.

Ela retribuiu ao abraço e ficamos ali por um tempo. Passamos o dia inteirinho arrumando as coisas da Ana Clara e essas coisas não acabavam nunca. Quando finalmente tomamos cada uma seu banho e pedimos algo para comer, Ana foi olhar o celular e a primeira coisa em que pensei foi Letícia. Quando sentamos no sofá, resolvi perguntar:

- Ninha, tu e a Letícia estão bem?

- Hm. Terminamos, eu acho, ou demos um tempo, eu sei lá - Ela disse e não parecia bem.

Marte e GirassóisOnde histórias criam vida. Descubra agora