Capítulo 1

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*Aviso importante no final*

                        Ana Flávia

Irresponsável, maluca, infantil...Estes foram apenas alguns dos adjetivos atribuídos a mim, enquanto eu me negava a voltar para casa. A única que me entendia era a Anne e seu apoio foi essencial.
Na noite de Natal, quando depois de muita insistência do Dante e dos meus pais, e confesso, somado a saudade que que tinha de Piracicaba e da minha família, eu resolvi que passaria aqueles dias de festa com eles, mesmo imaginando que seria bombardeada por cobranças e acusações.
Só que para minha surpresa, a semana que passei na minha cidade foi muito mais leve do que eu esperava. Claro que os meus pais não me deram uma folga, eles eram os mais incomodados com a minha atitude —impensada—segundo eles.
Não vou negar que esperar um filho e ter dúvidas da paternidade é mesmo algo muito ruim, tanto, que eu cheguei a me culpar e me cobrar muito por isso e, não fossem os homens com quem me envolvi terem sido tão compreensivos, as chances de eu mergulhar em uma depressão seriam muito grandes.
Para minha sorte, tanto o Michel quanto o Lorenzzo, não me julgaram pela gravidez e mais, não se valeram de nenhum discurso machista que me colocasse como a “safada” da história. Ambos foram muito carinhosos e cuidadosos comigo, para piorar, os dois declaram querer assumir não só a criança, mas também a mim e foi justamente isso, as declarações deles que me colocaram num beco sem saída.
Os meses haviam passado, eu tinha sumido e agora, de volta era de se esperar que os rapazes cobrassem seus direitos, um deles era o pai daquela criança e por mais que eu insistisse que o bebê era só meu, cedo ou tarde as exigências deixariam e ser amistosas.
— Sabe bem que se qualquer um deles for a justiça, você será obrigada a fazer esse exame —meu pai avisou-me durante uma de nossas discussões.
Era véspera de réveillon e eu tinha conseguido fugir desse assunto até então.
—Não precisa ficar me colocando contra o muro, senhor Carlos Alberto Ferraz, eu sei das minhas obrigações e vou cumprir com elas, mas vai ser no meu tempo. —Levantei-me da minha cama e parei em sua frente.
—No seu tempo? —Ele vincou a testa e suspirou. —Está na hora de crescer, Ana Flávia. Você não é mais aquela menininha mimada que tem tudo o que quer, agora, você é uma mulher, grávida e do outro lado existem dois homens que têm direitos. Pense nessa criança, ela vai crescer e um dia poderá ficar sabendo que você tirou o direito do pai dela de curtir esse período, afinal, um verdadeiro pai também passa pela gestação, ainda que não cresça uma barriga nele.
Fechei os meus olhos, meu pai era mesmo bom em argumentos, principalmente os que me faziam sentir como uma idiota.
—Acha que está sendo fácil, pai? Pensa mesmo que eu estou agindo assim por capricho? — Acabei me desarmando. —Eu nunca me imaginei passando por isso, só que isso também diz respeito a minha vida, ao meu futuro e
—Ana Flávia Ferraz! —interrompeu-me com a voz mais severa. —Não confunda as coisas. Não é você quem vai decidir qual dos dois rapazes é o pai do seu filho, não é uma escolha, mas sim uma confirmação. Entenda de uma vez por todas, você tem o direito de decidir se relacionar com qualquer um dos dois ou até mesmo com outra pessoa que não eles, mas é só. Esse bebê pode não ser parte disso.
—Mas e se eu escolher ficar com um e o pai for o outro? Já pensou nisso? —confessei meus fantasmas.
Meu pai encarou-me com seriedade, colocou os braços para trás e endireitou as costas, tomando uma postura intimidadora.
—Não sou eu quem tem que pensar nisso, e sim, você. Aliás, deveria ter pensado antes, porque agora não adianta mais. Se acontecer mesmo dessa forma, se o pai do seu filho não for o homem com quem você quer estar, então você terá um grande problema e, grandes problemas exigem grandes soluções e acima de tudo, maturidade.
Cobri o meu rosto com as mãos, no entanto, por mais que doesse ouvir o que meu pai estava me dizendo, ele tinha toda a razão. No fundo eu estava querendo controlar o meu futuro, e isso era algo impossível.
—Pode me abraçar? —indaguei de braços abertos.
Sem nada dizer, meu pai puxou-me de encontro ao seu peito e ali, exatamente como quando eu ainda era uma menininha, eu chorei.
—Independente do que aconteça, eu sempre vou estar aqui, porque seja Lorenzzo ou Michel, em primeiro lugar sempre estará o Carlos Alberto.
—Meu porto seguro —sussurrei.
—Seu porto seguro. —Ele beijou o topo da minha cabeça.
***
Todos os anos nós nos reuníamos em um clube onde éramos sócios, para comemorarmos a chegada do Ano Novo, mas com o Anthonny e a Antonella ainda muito pequenos, todos acharam melhor fugir da bagunça e decidiram que a festa seria na casa dos meus pais.
Eu até me propus a ajudar com a decoração, mas depois da conversa com o meu pai, senti-me um pouco indisposta, por isso fui me deitar, meu pai havia ficado de me buscar no final da tarde.
Acabei dormindo por algumas horas e só acordei porque a campainha tocou. Antes de ir atender, passei pela cozinha e tomei um copo d’água, o último dia dezembro estava muito quente.
Abri o portão imaginando ser meu pai, ou ainda o meu irmão, o supermercado fecharia mais cedo naquele dia e o Dante vinha se mostrando um tio muito preocupado. Para minha surpresa foi o Michel quem encontrei parado e, quando me viu, curvou os lábios num sorriso encantador.
—Flavinha...Você está linda! —elogiou-me om os olhos direto na minha barriga.
—Michel... —Não fui capaz de falar nada além do seu nome. Meu rosto fervia em um misto de vergonha e saudade. —Entra, acho que você deve estar com um mandato para me levar formalmente, afinal, eu venho fugindo de você como o diabo foge da cruz.
—Na verdade eu só estou uniformizado porque vou trabalhar essa noite...Para nós, datas comemorativas são as mais problemáticas. —Ele passou por mim e parou na porta da sala.
Tranquei o portão e respirei fundo antes de encará-lo.
—Quer beber alguma coisa?  Na minha geladeira eu tenho água de coco de caixinha, suco e um vitaminado que o Dante trouxe mais cedo, mas como tem banana, eu não posso nem sentir o cheiro.
—Não quero nada, obrigado... —afirmou, sentando-se na sua poltrona preferida.
—Bom...Antes de tudo, eu te devo um pedido de desculpas. —Sentei-me de frente para ele, minhas mãos tremiam. —Eu sei tudo o que você deve estar pensando sobre mim e eu juro que não fiz nada por mal. Só que você me conhece, sabe que eu sou um pouco complicada e mais, apesar de eu adorar crianças, eu não pensava em ser mãe agora, ainda mais assim, sem planejamento, sem um marido—disparei a falar. De repente eu senti a necessidade de mostrar para ele que eu me sentia confusa.
—Ana Flávia... —Ele curvou o corpo e alcançou as minhas mãos, segurando-as entra as dele, nossos olhos se alinharam e suas sobrancelhas se juntaram. —Nunca me passou pela cabeça que você estivesse agindo assim por mal e, para ser sincero, eu entendo perfeitamente todo esse medo e essas dúvidas...Exatamente por isso estou aqui, pra te tranquilizar, dizer que no que depender de mim, o seu tempo será respeitado.
—Michel... —Minha voz embragou-se. —Você é mesmo um homem bom, íntegro e é por isso que deve o meu respeito. Ainda que você não tivesse vinda até aqui, eu iria atrás de você...Hoje eu tive uma conversa muito séria com o meu pai e ele me fez enxergar que não se trata de mim, nem e você ou do Lorenzzo. —Tem um pequeno crescendo aqui e independente de qual dos dois é o pai, ele merece participar disso.
Michel permaneceu sério e só depois de um tempo sorriu.
—Nossa...Você está tão diferente! Parece uma até uma adulta falando—zombou.
—Bobo! —Empurrei seu ombro de leve antes de me levantar.
Michel me acompanhou.
—Eu gosto tanto de você...tanto, que estou disposto a ficar na sua vida, mesmo que esse bebê não seja meu filho e claro, se você assim quiser.
Não posso dizer que não fiquei estremecida, afinal, Michel era um homem lindo, tratava-me muito bem e o principal, nunca havia me feito sofrer. Por outro lado, embora existisse muito a seu favor, eu não podia me deixar levar por meus hormônios que andavam me levando às lágrimas até quando eu assistia comerciais de margarina, muito menos tomar qualquer decisão sem antes conversar com o Lorenzzo.
—Michel, eu também gosto muito de você, do contrário, não teria assumido um namoro com você, só que este momento vem sendo para mim de grande aprendizado e, justamente por estar sentindo essa mudança é eu não vou fazer nada sem que antes eu esteja convicta de que será o melhor para esta criança. —Acariciei a minha barriga.
Ele assentiu com um movimento de cabeça, seus olhos pareciam marejados, por isso ele os manteve baixos.
—Eu vou preciso ir. —Fungou. —Vamos nos falando.
—Tudo bem. —Estiquei o meu braço e toquei sua face. Sem que eu esperasse, Michel envolveu-me em seus braços e alcançou os meus lábios sem que eu tivesse tempo de raciocinar.
Sua língua invadiu minha boca de um jeito delicado e o aroma cítrico do seu perfume agradava o meu olfato. Se quisesse eu teria fugido, me afastado e sabia que ele não insistiria, mas sempre fomos como fogo e gasolina e no fundo, a minha aceitação serviu para provar que a nossa química ainda estava ali, intacta.
—Flavinha...Você está brincando com fogo... —ameaçou ofegante, quando eu interrompi um beijo que já durava minutos.
—Tudo bem. —Levantei minhas mãos em rendição e dei um passo para trás. —É melhor você ir. —Sorri com malícia.
Ele nada falou, apenas arrumou sua farda e caminhou até a porta com os olhos grudados nos meus.
— Eu amo cada pedacinho seu, portanto, já amo essa criança, seja ela minha ou não. — Bateu continência e saiu, sem me deixar respondê-lo.
****
Acabei tendo que me apressar, assim que o Michel foi embora, a Anne telefonou-me dizendo que seria ela quem iria me buscar e, eu sabia que ela odiava ficar longe dos filhos, mesmo que por pouco tempo, por isso não pude me produzir como desejava.
Minha sorte foi que havia deixado meu vestido passado e como os meus pés andavam inchando demais, só me restava calçar uma rasteirinha.
—Quem tem a cunhada mais gata de Piracicaba? —Ele entrou em meu quarto quando eu tentava me decidir com qual brinco eu iria.
—Nossa! Que convencida... —Fiz uma careta antes de abraçá-la.
—Eu não estou falando de mim, sua boba, estou falando de você. — Anne se jogou sobre a minha cama, rindo como uma boba.
—Ah, bom! Se é assim eu concordo, estou mesmo me sentindo linda. —Virei-me de perfil, feliz com a minha barriga.
Anne piscou para mim, na verdade, era ela quem estava incrivelmente linda, a maternidade havia conseguido fazer o que eu imaginava não ser possível: deixa-la ainda mais bonita.
—É impressão minha ou tem um brilho novo nesses seus olhinhos?
—Brinco de pedras ou argolas? —desconversei.
—A verdade dona Ana Flávia Ferraz —cobrou-me, aproximando-se de mim.
—Pelo amor da nossa senhora da curiosidade! Uma mulher não pode nem receber um dos possíveis pais do seu filho, beijar ele de um jeito que a deixou de pernas bambas, sem que isso se torne assunto de domínio público?
Anne cobriu a boca com as mãos e os olhos se arregalaram.
—Não! Você e o Lorenzzo...?
—Sem Lorenzzo... —Decidi-me pelo brinco de pedras e os coloquei em minhas orelhas. —O Michel esteve aqui e ele foi tão fofo...Acho que se espelho no Dante. Disse que está disposto a ficar comigo, ainda que o bebê seja daquele fotógrafo safado.
—E você? —Anne quase saltou na minha frente. — Escolheu ficar com ele?
Fiz uma careta e encolhi meus ombros.
— Ainda não, mas eu confesso que saber que ele pensa assim acabou me deixando mais segura. — Suspirei, sentindo-me realmente confiante. —Mas agora vamos, eu quero me esquecer um pouco que estou dentro do olho de um furacão. Esta noite eu quero apenas comer tudo o que tiver vontade e aproveitar os meus sobrinhos.
Saímos gargalhando e durante o trajeto até a casa dos meus pais, a Anne e eu conversamos sobre a maternidade e seus mistérios. Eu ainda ria de alguma coisa que ele contara-me sobre o Anthonny, quando chegamos.
Notei que sua expressão mudou de imediato e ao olhar para a mesma direção onde sua atenção estava, eu senti um tremor que começou no dedão do meu pé e acabou arrepiando os pelos da minha nuca.
—Acho que esse finzinho de ano te reserva grandes emoções —disse ela entredentes.
Engoli em seco, porque vero o Lorenzzo vestido todo de branco, segurando um ramalhete de rosas vermelhas, enorme nas mãos, acabou por jogar minha plenitude por água a baixo.



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Obrigada por lerem!

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Com amor,

Biah Gomes e Nana C. Fabreti

28/01/2019









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