Capítulo 5

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LORENZZO

Eu já havia dormido naquela casa outras vezes, mas em nenhuma delas me senti tão perturbado quanto naquele resto de madrugada. A Ana Flávia tinha ido para o seu quarto e eu fiquei no quarto que era do Dante antigamente.

Deveria ter tentado adormecer, só que saber que a mulher que eu amava estava ali, a poucos metros de mim, era demais.

Só eu sei o quanto tive que me segurar para não bater na porta dela e tomá-la em meus braços. Em meus devaneios, eu criei e recriei essa cena...E não, nunca ia além de aconchegá-la em meu corpo e tentar acalmá-la, sem segunda intenções.

Através da janela eu vi o dia terminar de clarear e antes que alguém da família Ferraz acordasse, eu decidi ir embora. Sabia que aquele dia seria decisivo para mim.

Tão ou mais ansioso do que a Ana Flávia, eu fui até a clínica onde fizemos o exame de DNA. Olhei para o relógio do meu celular e ainda faltavam quinze minutos para o horário de abertura dela.

Havia uma padaria na esquina e mesmo sem fome, decidi matar o tempo ali. Pedi um café coado e um pão na chapa. Enquanto tudo era preparado o toque do meu telefone fez meu coração disparar.

—Lorenzzo? Pode me dizer onde você está?

—Aconteceu alguma coisa, Ana?—A pergunta queimou a minha língua.

—Eu acordei e fui procurar por você e tudo o que encontrei foi uma cama bagunçada.

—Isso significa que você dormiu...—deduzi enquanto agradecia com um gesto, a moça que acabava de colocar meu pedido sobre o balcão.

—Dormi sim...Eu estava muito cansada, mas...A verdade é que eu liguei para saber se...

—Se eu já peguei o exame?—completei.

Ela suspirou.

—Sim. Existe algo dentro de mim que parece alvoroçado...É como se seu precisasse saber disso, mais do que nunca.—Sua voz parecia uma súplica.

—Eu te entendo e, foi justamente por isso que saí da casa dos seus pais bem cedo...Na verdade, cedo demais...A clínica ainda não está aberta. Eu estou esperando aqui.

—Ah...Que bom!Eu estou me arrumando para ir ao hospital.

—Teve alguma notícia do Michel?—preocupei-me.

—Eu falei com a mãe dele e ela disse que o Michel já acordou, que está comunicativo, mas parece que teve febre...Bem, no meio de tudo isso, a boa notícia é que eu vou poder vê-lo...A médica da manhã liberou-me para uma visita rápida.

—Que bom!—Animei-me de verdade.—Eu espero sinceramente que tudo ocorra bem. Apesar de ele estar tentando tirar de mim, a mulher da minha vida, eu desejo que ele se recupere, só assim essa briga vai ser leal.

Estava pronto para uma piada, ou ainda, para uma recriminação vinda da Ana Flávia, mãe ela se calou, por instantes tudo o que eu podia ouvir era sua respiração.

—Meu pai já está me chamando...Eu te encontro no hospital.

—Pode deixar, pequena —despedi-me e assim que ela desligou eu sussurrei um eu te amo.

***

Como um papel pode ter tanto poder?

Como eu, Lorenzzo Rizatti, podia estar tão acovardado diante de um mísero envelope?

Minhas mãos tremiam, o coração batia com toda potência e, para resumir, era como se eu acabasse de levar um soco no estômago.

—Vamos...Abra logo esse envelope e acabe com isso, seu molenga!—insultei-me baixinho, dentro do carro, no estacionamento do hospital.

Uma escolha do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora