Capítulo 3

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A conversa com o Michel, foi mais fácil do que com Lorenzzo. A impressão que tive foi de que ele, de certa forma, já esperava que não fossemos ficar juntos.
Ele só ficou surpreso quando eu disse que também não me envolveria com o Lorenzzo, que tinha decidido ficar sozinha.
De qualquer maneira, ele, como sempre muito gentil, aceitou sem reclamações. No primeiro dia útil do ano eu liguei para a clínica que faria o exame de DNA e a secretária me explicou tudo sobre como funcionava.
Na primeira opção, a mais comum, portanto invasiva como eles a classificam, seria coletada uma pequena quantia do líquido que envolvia o meu bebê, e só em ouvir isso, um arrepio correu pela minha espinha. Então, antes que eu conseguisse expressar o meu pavor, ela me falou sobre um novo método, que seria feito através do meu sangue, mas que esse tinha um valor exorbitante.
Eu nem pensei duas vezes, tratei de marcar o exame da segunda opção. Confesso que andava com a grana curta, afinal, meus trabalhos como modelo haviam diminuído bastante, eu vinha fotografando para apenas duas marcas de roupas de gestante. Sem contar minhas economias, todas destinadas ao projeto que eu dividia com a Anne.
Ela colocou na cabeça que me queria como sócia de uma casa de festas infantis e depois de longas conversas, eu achei que seria mesmo uma boa opção entrar nisso com ela.
—Mesmo que fosse dez mil reais! Eu nunca deixaria que cutucassem meu neto dentro da sua barriga! — decretou meu pai, assim que contei a ele sobre o valor do exame.
—Eu vou falar com os meninos...Quero dizer, com o Michel e com o Lorenzzo, ver se eles podem me ajudar.
Com o cenho franzido, ele caminhou até mim. Eu estava sentada em sua poltrona favorita.
—Eu vou pagar esse exame. —Acariciou meu rosto. —Não tem com que se preocupar. Além do mais...Temos aquela poupança que fizemos para a sua faculdade e, que a senhorita não fez, portanto, pode usar o dinheiro enquanto não começa a trabalhar com a Anne.
Respirei fundo, eu tinha mesmo o melhor pai do mundo.
—Muito obrigada...O senhor é incrível! —Abracei-o.
Ele pareceu-me mais emocionado que o normal, ultimamente meu pai andava assim, um tanto melancólico.
— Eu não sou perfeito, ninguém é. Mas temos que seguir a vida com empatia...Colocar-se no lugar do outro faz com que nossas ações caminhem pelo lado mais acertado.
Ele sempre falava a coisa certa, e eu estava pronta para dizer isso a ele, quando seu celular tocou. O nome de Moratto apareceu na tela e eu não tive como evitar as lembranças de toda a história de Richard.
—Algum problema, pai? —indaguei ao notar que sua expressão havia mudado.
Ele balançou a cabeça, negando.
—Problema? Não...Mas eu vou precisar atender. Nos falamos depois, tudo bem?
—Tudo bem, eu vou ligar para os rapazes e explicar sobre o exame.
Ele beijou minha testa e eu saí do seu escritório. Na sala, joguei-me no sofá e decidi ligar primeiro com o Michel. Ele concordou comigo sobre a minha decisão e antes que eu pedisse qualquer ajuda, ele disse que pagaria a metade do valor.
Quando liguei para o Lorenzzo, ele não me atendeu. Deixei então um recado sucinto, disse apenas que precisava falar com ele. Em menos de dez minutos ele apareceu na casa dos meus pais.
—O que você está fazendo aqui? —Assustei-me quando ele transpôs a sala.
—Eu estava aqui perto, então imaginei que a encontraria aqui... —Ele encolheu os ombros.
—Não precisava ter vindo, bastava ter retornado a minha ligação.
Ele permaneceu com os olhos nos meus e o maxilar trincado enquanto se aproximava de mim.
—Fiquei preocupado, por isso eu vim. —Sentou-se bem perto de mim. Sua coxa roçava a minha e o calor do seu corpo fez o meu estremecer.
—Eu...eu...Só liguei porque vou marcar o exame. Só que não vou fazer o tradicional, porque agora tem uma opção que embora seja muito mais cara, só precisa de uma amostra do meu sangue e nada do bebê.
— Claro! Eu ia mesmo falar sobre isso com você. Eu andei pesquisando sobre os exames de DNA e fiquei maluco quando soube que precisariam pegar um pouco do líquido que envolve o feto —Lorenzzo disparou a falar, parecia mesmo nervoso.
—Sim. —Segurei sua mão. —Mas agora existe essa outra opção e é como vamos fazer.
—E eu faço questão de pagar...Tudo, não importa quanto custe.
Eu sorri, não pude evitar.
—Não precisa pagar tudo...Podemos dividir em três partes.
Lorenzzo puxou o ar, os olhos estavam direto em nossos dedos entrelaçados.
—Então em duas partes, metade eu e metade o... —Ele pigarreou. —O Michel.
—Ele também sugeriu isso, portanto, que seja assim— concordei.
—Ligou primeiro para ele? —A pergunta foi feita num tom de voz calmo.
—Sim, mas isso não significa nada, até porque, se tivesse ligado primeiro para você, não teria me atendido —ponderei, enquanto tentava soltar nossas mãos. Ele não permitiu.
—Tem razão. Me desculpe, mas eu não posso fingir que não sinto ciúmes dele.
Joguei a cabeça para trás e ri.
—Lorenzzo Rizzatti com ciúmes? Essa é nova para mim.
Ele fechou os olhos para depois abri-los com um fulgor que me entorpeceu.
—Também é novo para mim, mas eu nunca tinha amado alguém como eu te amo, então... —Deu de ombros.
"Minha Nossa Senhora do Frio na Barriga! O Lorenzzo disse com todas as letras que nunca amou ninguém como me ama? "
—Para com isso... —Engoli em seco ao mesmo tempo que tentava controlar meus batimentos cardíacos. —Não precisa ficar me falando esse tipo de coisa.
Ele girou o corpo e segurou-me pelos ombros.
— Que tipo de coisa? Está se referindo ao fato de eu dizer que te amo? Que estou perturbadoramente apaixonado por você?
Senti meus olhos queimarem e eu nem tentei segurar o meu pranto.
— Por favor...Não vamos entrar nessa... —supliquei, desviando meus olhos dos dele. —Eu já disse que preciso de espaço, que decidi ficar sozinha.
—E eu entendi e vou respeitar, mas eu preciso fazer uma coisa antes... — Segurou o meu rosto, a respiração curta e uma veia em sua testa pulsava freneticamente. —Eu te amo, Ana Flávia... —murmurou, e eu senti as minhas pernas bambearem, meu coração parou por um instante e quando voltou a bater, os lábios de Lorenzzo estavam nos meus, sua língua buscava a minha, e eu pude sentir o quanto ele estava nervoso.
Suas mãos suavam e tremiam, eu fechei os meus olhos não tive forças para lutar contra os meus instintos. Só que ali, enquanto ele me beijava e eu correspondia, minha cabeça gritava que era errado, não por causa do Michel, mas sim, por mim mesma.
—Baixinha...Eu errei tanto com você.—Ele me abraçou. Eu nunca imaginei que pudesse te querer tanto assim...Como eu fui burro!
—Lorenzzo... —Foi minha vez de segurar o seu rosto dentro das minhas mãos. —Se você for mesmo o pai desta criança, vamos nos ver com muita frequência e eu não quero que isso volte a acontecer. Entendeu?
Ele juntou as sobrancelhas, parecia confuso.
—Na verdade eu... Não, não entendi.
—Então eu vou explicar pela última vez —disse calma. —Agora eu preciso ficar sozinha, minha cabeça precisa de uma trégua e o meu coração está completamente ocupado, só e apenas com esse bebê.
—Isso significa que daqui a algum tempo, pode ser que...
—Eu não estou te prometendo nada. —Levantei-me. —Estamos nas mãos do destino, do que ele tem reservado para mim...Para nós. —Por ora, só peço que respeite a minha escolha de ficar sozinha.
Lorenzzo também se levantou, ele olhava para mim e parecia estar processando cada uma das minhas palavras.
—Eu vou te esperar o tempo que for...Não importa o que eu precise enfrentar, por você vale a pena e quando acontecer, eu vou te fazer a mulher mais amada e feliz deste mundo. —Sua declaração tinha tons de promessa, mas eu não pude responder nada, apenas o vi partindo enquanto a minha cabeça acabava de sofrer uma pane geral.
***
—Ele te disse isso? Assim, com todas as letras? —Anne parecia não acreditar no que eu contava pare ela.
Estávamos a caminho de alguns possíveis locais para o nosso buffet.
—Sim. Letrinha por letrinha.
—E você não se jogou nos braços dele? —Ela me encarou, aproveitando o sinal vermelho.
—Claro que não! Eu estou muito certa do quero e também do que não quero e, no momento, a minha gravidez e o nosso empreendimento, são tudo aonde eu vou colocar as minhas energias.
—Tudo bem, senhorita decidida...Vamos encontrar o ponto para montarmos o Anne & Ana Buffet.
—Anne & Ana Buffet? Sabe que eu gostei do nome...
—Eu falei brincando, mas acho que ficou mesmo bom, bem sonoro.
—Então está decidido! — Dei dois tapinhas em sua perna. —Nosso negócio já tem um nome.
***
Passamos o dia todo visitando casas e salões que estavam para alugar e não gostamos de nada, no fim da tarde, voltamos para a casa dos meus pais, meus sobrinhos estavam sob os cuidados da minha mãe e eu me sentia morta de fome.
Por bem o jantar foi servido sem demora, o Dante acabou indo também até lá para encontrar a Anne e foi na mesa que fizemos uma resenha sobre nossa experiência em busca do lugar ideal.
—Esperem aí...Vocês acabam de me dar uma ideia... —meu pai disse depois de um bom tempo apenas nos ouvindo.
—Ideia? Não vai dizer que achou o nome do buffet, ruim? — indaguei preocupada.
—Imagine! O nome eu adorei, mas...Se lembram daquele casarão no bairro Nova Piracicaba?
—Aquele que está alugado há um tempão para aquela empresa gringa? —Dante se pronunciou enquanto colocava mais arroz em seu prato.
—Exato! —Meu pai apontou o dedo para meu irmão. —Mas esta é a última semana deles lá. O contrato acabou e eles não renovaram, parece que vão encerrar as atividades aqui no Brasil.
—Nossa! Aquele lugar é perfeito para promover festas infantis. —Minha mãe pareceu bem empolgada.
—Gente... Que lugar fantástico é esse? —A Anne quis saber.
—Cunhadinha...Pensa em um imóvel de família que é incrível. A localização, o espaço...Eu já consigo até imaginar aquele jardim decorado para uma festa. —Comecei a vislumbrar.
—É claro que vai precisar passar por uma boa reforma, mas eu acho que é o local perfeito para o que precisam.
—Pai...Eu tenho certeza de que quando a Anne vir aquele casarão, ela vai enlouquecer! —Animei-me. —No bom sentido.
—Eu confio em vocês! Se estão dizendo, eu já me sinto com um peso enorme a menos em minhas costas.
—Então, assim que eles desocuparem, vamos todos juntos fazer uma visita e, se baterem o martelo, contratamos um bom arquiteto e damos início à reforma. —Meu pai e seu senso prático nos acalmaram.
— Eu já disse que se eu pudesse escolher viver em qualquer família deste Universo, seria essa, a minha eleita?
—Ah...Minha querida... Você é uma Ferraz agora, portanto, a família é sua, por direito. —Minha mãe segurou a mão da Anne.
— Que Deus preserve essa união. —Meu pai esticou o braço no centro da mesa.
—Que assim seja. —Coloquei minha mão sobre a sua e fui acompanhada pelos demais.
—Família Ferraz! —gritamos como fazíamos quando o Dante e eu ainda éramos crianças, num sinal de cumplicidade.
***
O dia do exame chegou mais rápido do que eu podia imaginar. Uma semana para quem está cheia de afazeres, passa mesmo num piscar de olhos.
Marcamos para as sete e meia da manhã a coleta do sangue, e apesar de o Lorenzzo, assim como o Michel, terem oferecido uma carona para mim, eu preferi ir na companhia do meu pai.
—Bom dia! —cumprimentei o Michel que estava do lado de fora da clínica.
Ele me abraçou com força e depois foi apertar a mão do meu pai.
—Sabe se o Lorenzzo já chegou? —perguntei, tentando identificar seu carro no estacionamento.
—Já sim. —Michel ficou sério. — Ele está lá dentro.
—Então podemos entrar, já está quase na hora. —Olhei para o relógio do meu celular.
Meu pai gesticulou para que eu passasse na frente e assim que cruzei a recepção, avistei Lorenzzo sentado em um canto do sofá, lendo uma revista a qual ele não parecia nenhum pouco interessado. Havia ainda mais duas mulheres de meia idade, uma adolescente e um casal.
Caminhei na direção dele e assim que ele me viu, veio ao meu encontro.
—Bom dia, Ana. —Beijou o meu rosto antes de me abraçar. —Está tudo bem?
—Sim, estamos ótimos. —Passei a mão por minha barriga.
—Bom dia, senhor Carlos Alberto. —Ele estendeu a mão ao meu pai e apenas moveu a cabeça na direção do Michel.
—Acho que temos que falar com a secretária —intervim.
—Sim, precisamos preencher uma ficha, mas o pagamento eu já fiz...Ele... O Michel me entregou a parte dele, então... —Lorenzzo não conseguiu disfarçar seu desconforto.
—Bom, eu vou me sentar. —Meu pai apontou para uma das poltronas vazias.
Seguimos os três até o balcão de atendimento e a jovem secretária não escondeu a cara de surpresa ao me ver acompanhada dos dois.
—São do exame de DNA, certo? —perguntou com um sorriso no canto dos lábios.
Abri minha bolsa e puxei meu documento de identidade.
—Isso mesmo. —Nem tentei ser simpática.
Ela percebeu, tanto que fechou a cara na hora e adotou uma postura mais profissional. Preencheu nossos cadastros e mandou que fôssemos para uma outra sala.
O ambiente era menor, e eu não via a hora de terminar com aquilo. Michel sentou numa ponta e Lorenzzo na outra do sofá, eu, no meio, claro.
—Estou com sede —murmurei, apenas para quebrar o silêncio que imperava entre nós.
—Quer eu pegue água para você? — os dois perguntaram ao mesmo tempo.
Revirei os olhos e me levantei.
—Pode deixar, eu mesma pego —avisei indo direto até o bebedouro.
Enquanto enchia o meu copo, não tive como deixar de ouvir os cochichos que vinham da recepção.
—Sortuda, essa tal Ana Flávia Ferraz...Qualquer dos dois que seja o pai e ela está na vantagem... — alguém falou.
—Se bem, que pela carinha dela, acho que é do tipo que fica com os dois, independentemente do resultado... —outra pessoa respondeu.
Senti o meu sangue ferver e cheguei a pensar em ir até lá e falar umas poucas e boas para as donas das opiniões desnecessárias, mas quando eu me preparava para sair, ouvi uma porta sendo aberta e logo em seguida os nomes de nós três foram chamados.
O enfermeiro nos guiou por um longo corredor de paredes e luzes claras e então, um a um de nós, tivemos nossos sangues coletados. Eu fui a última.
Confesso que ver a seringa sendo espetada em minha veia, não foi nada agradável, mesmo assim tudo correu bem. Quando eu saí da sala, Lorenzzo e Michel me esperavam em pé.
—Está tudo bem?
—Quer uma água?
—Se quiser eu a carrego até o carro.
—Que isso? Ela pode muito bem ir andando, mas se precisar, eu mesmo a carrego...
—Chega! —irritei-me. —Parecem dois moleques —rosnei entredentes, deixando-os para trás.
—Tudo certo...Estes aqui são os protocolos para a retirada do exame. Ele tem de ser retirado aqui, dentro de trinta dias. Nós não liberamos vitualmente, nem enviamos por correios — a secretária que me atendera anteriormente, explicou todos os detalhes. —Serão três cópias, uma para cada uma das partes interessadas.
Peguei os papéis e entreguei um para o Lorenzo e outro para o Michel, o meu eu dobrei e coloquei na bolsa, mas não era isso o que estava me interessando naquele instante.
—Eu ouvi o que disseram há pouco, sobre eu ser sortuda por conta dos rapazes e também escutei que eu sou o tipo que fica com os dois —comecei, assim que a outra secretária voltou para a sua cadeira. —Estão enganadas, na verdade, eu não vou ficar com nenhum deles, inclusive, estão com os telefones de ambos, quem sabe vocês não conseguem alguma coisa... —Pisquei para elas antes de sair.
Meu pai que estava atrás de mim, ficou roxo de vergonha, as meninas empalideceram ao ponto de ficarem da mesma cor das paredes enquanto o Lorenzzo e o Michel pareciam não entender nada.
—O que foi aquilo, Ana Flávia Ferraz? —meu pai repreendeu-me assim que chegamos na calçada.
—Nada. Eu apenas não estava a fim de engolir um sapo já de manhã...Dizem que é indigesto...
Lorenzzo riu.
— Então...Agora só nos resta esperar. —Michel estalou a boca, de olho em seu protocolo.
Meu pai concordou.
—Trinta dias e saberemos que é o pai do meu neto...
—É isso...Fizemos a nossa parte, o resto é com a ciência—filosofei.
—Ou com o destino... —Lorenzzo encarou-me e eu entendi que ele se referia a nossa conversa de dias antes.
—Ou com o destino —concordei, sabendo que precisávamos de muito mais do que isso.


***

E então amores, tudo bom?

Parece que a Ana está mesmo bem decidida, se bem que quando fica perto do Lorenzzo,ela treme na base...Agora vamos aguardar o resultado do DNA e ver como ele vai interferir na vida desses três.

Alguém arrisca um palpite?

Bem, até a próxima...

Um beijo enorme,

Biah Gomes e Nana C. Fabreti

Uma escolha do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora