Herdeiros de Um Segredo

Capítulo UM

O trevo da estrada que liga o bairro ao centro da cidade está deserto a essa hora do dia.

Andy Luzia segue sozinha pelo caminho, no acostamento com seus pensamentos voando alto, soltos pelo vento.

Naquela mesma manhã a professora já havia chamado sua atenção umas duas vezes ou mais. Mas é mais forte que ela, não consegue parar de pensar nas palavras da avó, algo como: "Dias turbulentos vem por aí! Preparem-se"!

Bi! Bibi!

De repente, uma buzina, ela dá um pulo. Alguém grita do carro:

—Ô sua maluca, quer morrer!

Só então Andy percebe que esta bem no meio da pista. Aconteceu de novo! Ela dá um aceno para o carro que vai em direção contrária, volta para o acostamento.

Outro carro se aproxima e pede uma informação:

—Boa tarde, estou procurando o povoado de Engenho Novo, será que você pode dizer-me onde fica?

Andy Luzia observa o homem ao volante. Parece ser mais um turista. Tomara que não seja outra pessoa interessada na história dos seus antepassados, já tinha gente demais se metendo nisso. Ela resolve investigar:

—Será que eu posso lhe perguntar o que o senhor vai fazer lá?

O homem tira os óculos escuros e observa a menina.

Ela é uma jovem bonita, poderia até se dizer que é uma beleza exótica.

Os olhos azuis continuavam a fita-lo esperando por uma resposta.

— Bom, eu vou procurar um amigo.

— Um amigo? Mas quem é? Eu não quero me gabar não, mas conheço todo mundo por lá!

—Então com certeza conhece meu amigo Estevão Fernandes, ele está passando uns tempos por aqui!

Andy continua com o olhar franzido, observando o estranho.

É claro que ela conhece o tal de Estevão, quem não o conhece no bairro?

—Então o senhor é amigo do gringo?

—Sou sim, e agradeceria muito se você me dissesse onde fica o lugar!

—É só seguir direto, não tem erro.

—Você não quer uma carona? Deve estar indo para lá não é?

Andy olha para um lado, para o outro, coça a cabeça.

—Ora vamos, não sou nenhum pervertido que fica por aí procurando mocinhas na beira das estradas! Além disso, esse sol está de rachar a cuca, venha, aproveite e me fale um pouco sobre este lugar.

Ela não resiste a tão convincente convite e entra no carro.

Vai logo colocando o cinto de segurança e disparando:

—Seu amigo é um cara legal! Espero que o senhor também seja.

O homem ajeita os óculos e arranca o carro.

—Não precisa me chamar de senhor. Sou José soares a seu dispor!

—Nossa! Não quer que eu te chame de senhor e me fala com essa pompa toda!

O homem sorri, a menina é espirituosa, talvez pudesse ajudar-lhe na sua missão.

—Me fale desse lugar! Aqui pertence a qual cidade?

Ela olha-o desconfiada. Estava demorando! Deveria ter seguido seus instintos, com certeza era mais um para xeretar por ali.

—Porque quer saber? Qual seu interesse nisso?