Capítulo QUATRO

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Belo Horizonte, três meses atrás.

No escritório com ar condicionado um rapaz tenta entender uns esquemas no computador, quando adentra a porta outro jovem. Eles se cumprimentam efusivamente.

—E aí velho? Está sumido cara!

—É amigão! Essa vida de trabalhador não é fácil, são oito horas de escritório e mais algumas de faculdade!

O visitante se senta muito a vontade.

—Eu quis vir pessoalmente para registrar isso, então acabaram os dias de boa vida mesmo?

—É! Tudo que é bom, dura pouco. Meu velho já segurou muitas ondas pra mim, agora é minha vez. Estou me situando no escritório e pretendo assumir tudo em pouco tempo.

—E como ele está?

—A fase mais critica já passou, agora é só ele maneirar no trabalho e se cuidar melhor.

—Confesso que estou orgulhoso de você amigo! Começo até a pensar em fazer o mesmo, afinal não somos mais tão novos assim não é?

—Isso mesmo. Vinte e um anos! Somos quase anciões!

Os dois riem.

Na verdade eles se avaliam. Danilo passou por um grande susto, quando seu pai sofreu um infarto e ele se viu diante da possibilidade de perdê-lo se deu conta que até aquele momento tinha vivido num belo conto de fadas se divertindo com os amigos e curtindo baladas quase todos os dias.

Dedicava-se pouco aos estudos, e teve até problemas com a polícia por causa de pegas e brigas nas madrugadas, ou seja, era o típico mauricinho, filhinho de papai, isso até o problema cardíaco do pai.

Por outro lado Rodrigo nunca teve que passar por esse tipo de coisa, mas também sente que precisa dar um rumo a sua vida.

A mãe, uma socialite decadente, insiste em viver num mundo à parte participando de festas e eventos da alta sociedade mineira e nunca deu atenção ao filho que sobrevive das atenções dos pais alheios.

E um dos que mais admira é o Sr. Ludovico, ficou preocupado com a saúde dele.

Por sorte Danilo não é do tipo ciumento e nunca se importou com o fato de o amigo gostar tanto de seu pai.

—Sabe o que estou pensando agora Rodrigo?

—Não faço ideia.

—Está sendo muito difícil assumir esse papel no escritório, talvez se tivesse alguém comigo... Sei lá. Alguém da minha idade, eu pudesse me adaptar melhor.

Rodrigo não consegue conter o espanto e ao mesmo tempo o entusiasmo.

—Você quer dizer... Está me convidando para trabalhar aqui com você?

Danilo faz um gesto de pouco caso, como se isso não fosse assim tão importante, mas Rodrigo o conhece muito bem.

—Sei que não podemos oferecer um salário espetacular, mas acho que dá para conseguir alguma coisa.

—Claro! Eu aceito antes que você mude de ideia.

Os dois amigos se abraçam, e sentem que a partir daquele momento estavam começando uma nova fase em suas vidas.

Ao saber da novidade seu Ludovico fica aliviado, pois assim o entusiasmo do filho não seria passageiro e além disso, ele gosta muito do Rodrigo. Conhecia-o desde pequeno, não chegou a ser amigo de seu pai, eram apenas conhecidos e quando houve a separação e o pai foi para outro país deixou o rapaz sozinho com uma mãe meio avoada.

A sorte é que Rodrigo sempre foi um garoto tranquilo e nunca causou maiores problemas para ninguém, e o fato é que é inteligente e gosta do trabalho.

Rapidamente os dois jovens estavam pegando a manha do escritório e Ludovico pensa seriamente em enviá-los para tomarem conta do loteamento novo.

É um projeto grande e importante, mas fácil de ser executado, portanto um trabalho perfeito para colocá-los de vez no mercado e quem sabe no comando.

Ludovico, no entanto, ainda não tem total confiança nos rapazes colocando assim a disposição deles um dos mais antigo e competente funcionário da LD empreendimentos.

E assim que foi convocado à sala do chefe Edmundo Moreira se apresentou.

—Sr. Ludovico, bom dia! Mandou me chamar?

Ludovico se vira na mesa ficando de frente para seu funcionário. Edmundo não é mais tão jovem, beirando os cinquenta anos ele é robusto sem ser efetivamente gordo, e tem bastante paciência com novatos, além disso, ele conhece bem a região próxima da serra da caraça onde eles haviam feito um amplo estudo há alguns anos atrás.

—Isso mesmo Edmundo, seja bem vindo! Sente-se.

Edmundo gosta do trabalho e também do chefe que apesar de saber manter a diferença entre chefia e funcionários sabe também reconhecer a lealdade e eficiência dos mesmos.

—Edmundo você se lembra de que alguns anos atrás fizemos um levantamento das terras que meu pai me deixou na região central do estado e chegamos à conclusão que naquele momento elas eram inadequadas para um investimento maior?

—Claro que sim seu Ludovico, lembro-me bem disso.

—Então, eu acho que devíamos reconsiderar aqueles estudos novamente. Você sabe, aliás, todos sabem que devido ao meu problema de saúde meu filho está se inteirando dos negócios e eu queria aproveitar esse momento para lançar um desafio, tanto para ele quanto para o outro garoto que o está ajudando.

—O senhor esta pensando numa espécie de teste?

—É! Mais ou menos isso! Não posso arriscar um passo tão grande com riscos tão eminentes num simples teste, por isso vou colocar você no comando da operação e gostaria que avaliasse muito bem as opiniões e sugestões dos dois.

Edmundo fica surpreso.

Primeiro porque eles já haviam conversado sobre a possibilidade da sua aposentadoria para os próximos meses e aquele projeto seria um tanto longo, e segundo porque ele não sentia nenhuma vontade de voltar para aquele lugar. Ele passou por experiências estranhas no período em que esteve fazendo o levantamento daquelas terras.

Observando o jeito pensativo do funcionário, Ludovico resolve dar o golpe de misericórdia na decisão de Edmundo.

—Não se preocupe muito com detalhes agora, temos tempo para isso e sinceramente não confio em mais ninguém para essa missão. Assim que você sentir que eles estão aptos a seguirem sozinhos, você pode considerar o dever cumprido e poderá gozar sua aposentadoria como eu sei que é seu desejo.

Edmundo sabe que a missão é um grande reconhecimento pelo seu trabalho em todos aqueles anos, e além do mais, trabalhar com os dois jovens será um prazer, tendo em vista que são ótimos rapazes, inteligentes e interessados.

Quanto ao fato de voltar à região talvez estivesse se preocupando à toa, provavelmente aquelas pessoas nem vivessem mais ali.

Difícil mesmo seria convencer sua esposa de que não começaria com as viagens de antes, esse sempre foi o principal motivo de chateação dela que no começo do casamento sofreu com suas ausências devido às constantes viagens que fazia, mas pelo menos seria a última temporada antes da tão esperada aposentadoria.

Herdeiros de Um SegredoWhere stories live. Discover now