1 - Minha vida é a cura da insônia no século 21

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Costumo viver minha vida de forma comum. Mais sem graça impossível: Gostos comuns, hábitos comuns, rotinas comuns.

Menos minhas manias, minhas manias são incomuns.

Como exemplo, não pronuncio a palavra "desgraça" porque minha avó sempre me disse que atrairia coisas ruins falando essa palavra, ou a mania de sempre acordar de manhã, abrir a janela, olhar para a árvore que fica em frente ao meu quarto e dizer "Bom dia" (Porque acredito que assim meu dia vai ficar bom.) Pois é. Eu sei. Emocionante.

Só depois disso que eu saio do quarto e desço para tomar o meu café da manhã habitual com os meus pais. Sim, eu vivo com meus pais. Não morreram em um acidente de carro horrível quando eu tinha cinco anos que me deixou nas mãos de uma família adotiva do mal com olhos azuis nem nada do tipo.

Eles se chamam Antônio e Adela. Na maioria das vezes são um casal bem apaixonado, como dois jovens que acabaram de se conhecer. Minhas reações variam ao ver essas cenas: as vezes acho a coisa mais fofa do mundo como duas pessoas casadas há mais de 20 anos ainda se amam tanto, outras vezes sinto náusea de tanta melação.

Após o café da manhã a rotina continua igual, vou para o ponto de ônibus e espero minha condução luxuosa. É meio esquisito, porque eu tenho carro (ganhei no meu aniversário, era um pouco velho e quebrado, mas ajudei meu pai a concertar e agora está lindo, leve e solto.) mas não costumo dirigi-lo porque tenho um certo medo. Na verdade, não é nada seguro me deixar solta por aí na frente de um volante, sem exagero.

A escola é um lugar tão...tão horrível. Não sei se confio em mim mesma para dirigir especialmente por lá, vai que eu acidentalmente atropelo a Lana e ela sobrevive para me delatar? E para mim é ainda pior, pelos seguintes motivos:

Desde muito nova tenho fama de ser CDF, e essa fama não me largaria assim tão fácil porque eu estudo há seis anos na mesma escola. Ou seja, os mesmos alunos que me zoavam na sexta série me zoam no ensino médio, com 17 anos.

Além disso, pelo fato de ser uma nerd sem graça (do tipo que estuda ao invés de ficar comprando camisetas de Harry Potter na internet nos computadores da escola), as pessoas consideradas "legais" não chegam nem perto de mim porque posso acabar com a incrível fama estudantil delas, e eu sinto isso na pele todos os dias, graças a linda, glamurosa reencarnação do satanás: Lana.

Todos os dias ela faz os meros alunos plebeus acreditarem que ela é uma verdadeira deusa grega, isso faz com que a palavra da salamandra maldita seja lei absoluta. Ela intimida até os pobres dos professores.

Eu nunca senti medo dela, nem respeito. Apenas nojo mesmo, e acredito que o sentimento seja mútuo, já que ela faz questão de tornar todas as minhas manhãs um inferno.

Uma vez, na sexta série, eu estava gripada e não podia deixar de ir para a escola por conta das provas. Aconteceu que eu dei um bendito de um espirro épico e a meleca caiu todinha na minha prova. Eu limpei rápido na esperança de ninguém ter visto, mas a Lana viu. Ah, como ela viu.

E fez o favor de espalhar para escola inteira o ocorrido, me fazendo ser zoada até pelo último ano.

Outra vez, na sétima série, fiquei menstruada pela primeira vez e tive a infelicidade de ter acontecido na escola, no maior estilo Carrie. Ao contrário do filme, minha mãe, precavida como sempre, me fazia levar uma bolsinha com um kit de calcinha e absorvente para a escola.

Mas não era uma grande ajuda porque eu não tinha a menor ideia de como se usava aquele troço, então tive que entrar no banheiro para entender sozinha como a arquitetura funcionava.

Porém, o tempo que eu levei para descobrir foi longo demais, e eu não sabia que a Lana (sem nada melhor para fazer) estava do lado de fora cronometrando. Ela espalhou para a escola inteira um boato de que eu estava com diarreia, e mais, que podia jurar que viu o box com resíduos dor de barriga até o teto. Chique. E daí em diante eu fui conhecida para sempre como "May cagona".

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