Flores de Plástico

10 - Alicia quebra o recorde mundial de berros

Fiquei sem chão. Pensando no que faria agora que não tinha mais Rhavi. Nunca o tive por inteiro, mas gostava de saber que ele era meu mesmo que de mentira. Não consegui conter as lágrimas e chorei. Fiz a cena da garota escorregando pela porta e tudo. Talvez eu tivesse exagerado na minha procura, mas minha única intenção era mostrar pro Rhavi que ele não podia pensar em voltar para Lana, que não podia nem sequer confiar nela porque ela mente e trai. Queria que ele visse que eu sim estaria com ele em qualquer momento, que seria incapaz de engana-lo ou magoá-lo. Mas, sem querer, foi isso que eu acabei de fazer.

Eu não sei o que se passava na cabeça dele, mas provavelmente estava com o orgulho ferido e com raiva da minha intromissão.

Eu queria que ele entendesse que eu tive a melhor das intenções, mas também não iria atrás dele para me redimir. Se ele não quisesse me compreender seria o fim do início de uma amizade. O fim do início, se torna tão tosco quando você fala disso, mas era exatamente o que eu sentia. A gente estava caminhando para uma amizade, com todos os sorrisos e risadas e piadas internas, mensagens, brincadeiras... E agora essa briga tinha criado uma parada brusca, um desvio no caminho que eu não fazia ideia de onde iria parar.

Não tive vontade de contar nada do que aconteceu para Alicia, muito menos para os meus pais que me perguntavam o porquê de eu parecer tão cabisbaixa. Eu só queria que nada disso tivesse acontecido, e achava que ignorar isso ia fazer com que realmente nunca tivesse. Me arrependia um pouco de ter feito o que fiz, mas se não tivesse feito jamais saberia a que ponto Lana poderia chegar para conseguir o que quer. Com todos os defeitos dela eu tenho que admitir que é uma garota decidida e disposta a fazer de tudo para o seu próprio prazer. Se eu pelo menos conseguisse ser assim, mas aqui estava, ignorando o que aconteceu porque admitir ia tornar real.

Não dormi mais que uma hora naquela noite, estava me sentindo muito mal com tudo isso. Mas precisava ir à escola. Não sabia como seria encarar Rhavi aquela manhã, não queria encontrar com ele, nem que ele me visse com minha cara de derrotada.

Quando cheguei na escola, as pessoas falavam comigo como estava acontecendo a alguns dias, mas minhas respostas eram sempre secas.

Não vi Rhavi em lugar nenhum mas vi Lana, agindo naturalmente. Óbvio, já que ela não tinha tido infarto nenhum.

 Assim que chegou, Alicia foi ficar comigo na mesa que agora sentávamos sempre acompanhadas de Rhavi. Hoje sozinhas. Passar esse dia dessa forma era quase como se Rhavi tivesse morrido, só que apenas para mim, pois o resto da escola seguia suas vidas normalmente.

— Ele tá furioso comigo — Eu disse a Alicia. — Eu nunca imaginei que tudo que fizemos se voltaria para mim mesma.

— Ai, May... Não fica assim... Dá um tempo pra ele, talvez ele perceba sua boa intenção.

— Acho muito difícil, ele é tão cabeça dura... Você não viu o olhar dele de raiva, como ele gritou comigo jogando na minha cara que o nosso namoro era falso. E mais, ele deu a entender que talvez já esteja conhecendo alguém e só esperando esse acordo acabar pra ficar com essa pessoa.

— ELE O QUÊ? AQUELE PEDAÇO DE FILHO DE UMA P-

— O Rhavi... Foi horrível ontem. Nunca pensei que veria ele assim.

— Bom, se tudo acabou mesmo, vamos continuar como estamos. As pessoas já estão nos vendo diferentes. E se voltarem a nos tratar mal, continuamos seguindo em frente. Mas que eu vou enfiar a minha mão na cara do Rhavi, eu vou.

— Você tem razão, estava tudo bom de mais para ser verdade. Devemos voltar ao mundo real.

Continuei arrastando minhas tarefas ao longo desse dia. Fui ao ateliê imaginando que pintar me acalmaria, ou esperando ver Rhavi passar com o irmão mas nenhum dos dois fatos aconteceu. Continuei triste e não vi Rhavi passar.