00 | prólogo

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PASSANDO PELA PORTA DE ENTRADA do descuidado prédio em que mora com a mãe, Jade força um sorriso ao porteiro ao passar por ele e seguir até a escada

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PASSANDO PELA PORTA DE ENTRADA do descuidado prédio em que mora com a mãe, Jade força um sorriso ao porteiro ao passar por ele e seguir até a escada. A mochila preta pesa sobre os ombros enquanto a testa pinga de suor. Ela odeia calor. Jade, na verdade, possui uma lista sem fim de coisas que odeia. Calor, filmes de romance, azeitona, e principalmente pessoas. Argh, como as pessoas são seres desprezíveis e totalmente dispensáveis ao planeta Terra. Na opinião dela, o mundo deveria ser apenas dos animais e das plantas. Nada além.

E se ela pode tirar algo de positivo nisso, é que por pensar justamente como pensa e ter uma personalidade forte, Jade costuma afastar as pessoas de si. A garota não tem amigos desde os dezesseis anos e não se importa nem um pouco com isso. Tudo pelo que passou e sofreu a fizeram ser como é hoje, uma pessoa antisocial, com zero paciência e solitária.


Desde os onze anos de idade ela morou com a mãe, o padastro e a irmã postiça em Southfield. Tinham uma boa relação familiar, apesar da mesma nunca ter se dado muito bem com Blake, um ano mais velha. Viviam uma vida normal e monótona de toda família, até ela completar quinze anos. A partir daí todo o inferno na sua vida começou. Pra muitas garotas, fazer quinze significa flores e arco íris, o começo de uma nova fase maravilhosa e todas essas ilusões mais, porém para Jade foi o começo de um pesadelo.

Depois de atingir a idade, a garota começou a perceber os olhares que recebia de seu padastro, que ora ou outra era pego observando seus seios ou sua bunda. Tudo já ficou estranho demais a partir daí, mas na época Jade nunca cogitou que de olhares maliciosos para o estupro fosse apenas um passo. David a violentava, abusava de seu corpo sem seu consentimento e depois a coagia a ficar calada sobre o assunto, fingindo que nada acontecia. Ela o obedeceu por alguns meses por medo, e quando finalmente reuniu coragem para contar à mãe, o plano não deu certo, pois Blake a barrou, acobertando o pai e ainda a humilhando psicologicamente de diversas formas cruéis possíveis.

A mãe desconfiava que algo estava errado, é óbvio, mas sempre que questionava a filha sobre o assunto, tudo o que recebia em resposta era "eu caí", ou então, "são só problemas na escola", e a mais velha nunca teve coragem o suficiente para questionar David.

Jade aguentou todo esse inferno até os dezoito. Foi quando decidiu dar um basta definitivo e foi até a delegacia, onde fez a denúncia e também contou tudo para a mãe, Catherine, tim tim por tim tim. Depois disso, o padastro foi preso e as duas decidiram ir embora juntas e construir uma nova vida longe do lugar, longe dos vizinhos e longe de todo o tormento. Se mudaram para Detroit, onde vivem até hoje.

Toda a violência que sofreu refletiu em muito na pessoa que ela é hoje. Solitária e cheia de traumas, é verdade, mas também mais forte e madura. Ao menos uma coisa boa ela conseguiu tirar daquilo tudo: jamais vai deixar que alguém a violente novamente, nem mesmo que levante a voz para a mesma. Foi-se o tempo em que se deixava coagir e abater pelo medo.

DEPREDATE ── dick graysonOnde histórias criam vida. Descubra agora