Assim que meu tempo na casa de meus pais, voltei para o internato e, não saía de minha cabeça o acidente do ônibus. Pensei até mesmo em procurar nos mortos e feridos do acidente se estava lá o garoto, mas provavelmente estaria. Eu pensava se tinha sido o garoto a colocar a bomba lá. E porque ele disse justamente para eu sair de lá? Por que mais ninguém saiu comigo? Eram tantas perguntas sem resposta.
Ao entrar em meu quarto notei uma mala a mais e uns sapatos a mais. Retirei meus tênis colocando o chinelo. Talvez eu tivesse um novo colega de quarto, já que meu quarto era um dos poucos que ainda tinha vaga. Não me preocupando, retirei minha roupa de dentro da mochila e a coloquei na caixa de roupa suja. Me dirigi ao pequeno frigobar pegando uma água com gás, segundos depois a porta foi aberta e meus olhos se arregalaram. Quem estava ali era o garoto do ônibus, aquele mesmo que avisou que o ônibus iria explodir.
— Oh! Oi, Mark! - disse sorrindo e fechando a porta.
Eu estava incrédulo, ao menos conseguia me mexer. O que era aquilo? Como aquele garoto tinha sobrevivido sem nem um arranhão? Ele parecia estar confuso com minha reação. Deveriam ter passado talvez mais de cinco minutos. Eu continuava parado. Abria a boca e fechava tentando falar alguma coisa, mas eu não conseguia. Era um choque gigante para mim. Fechei os olhos e respirei fundo esperando que fosse só da minha cabeça e ao abrir vi o mesmo garoto ainda parado na porta. Apenas uma coisa passava em minha cabeça. Como o garoto estava ali depois daquele acidente?
— Você deve estar confuso ao me ver aqui sendo que viu o ônibus explodir. — comentou com um riso fraco. Ele estava lendo minha mente? O acompanhei com os olhos até o ver se sentar na cama perto da janela a qual não estava ocupada. — Bem...hum, como vou explicar? — perguntou a si mesmo. Eu continuava calado e parado no mesmo lugar esperando uma resposta. — Eu pedi para o condutor parar antes que algo acontecesse. — disse simples. Como se fosse a coisa mais simples do mundo. Como se não fosse nada demais um acidente de ônibus. Aquilo ao menos poderia se chamar de acidente? Talvez fosse atentado.
— Como você consegue falar isso com tanta simplicidade? Sendo que você quase morreu. — consegui falar pela primeira vez. Por algum motivo, aquela história parecia muito inacreditável, mas ele a contou com tanta simplicidade. O garoto ruivo deu de ombros como se não soubesse os motivos de ser tão simples em suas palavras.
— Aliás, hyung, meu nome é Donghyuck, Lee Donghyuck. — me informou com um sorriso.
— Como você sabe que sou seu hyung? — perguntei desconfiado. Esse garoto era estranho. Muito estranho.
— Me deram uma folha sobre o quarto onde dizia que você era de de 99, eles erraram? — se mostrou confuso. Concordei em um suspiro e me sentei em minha cama fingindo que o ruivo não estava ali.[...]
Durante todas as aulas daquele primeiro dia da semana eu fiquei pensativo. Por que eu não podia simplesmente acreditar no garoto e seguir em frente? Talvez fingir que ele não existe. Seria muito mais fácil do que estar pensando nisso. Saí por alguns segundos de meus pensamentos ao notar meus amigos se sentando ao meu lado. Não dei muita atenção já que eles começaram a falar de coisas que não me interessavam. Me senti obrigado a olhar para a porta daquela cantina, não tinha um porquê para eu estar olhando, eu não sabia porque olhei bem naquele momento em que Donghyuck entrou e caminhou em minha direção.
— Hyung! — me chamou perto o suficiente para que pudéssemos conversar facilmente. — Você esqueceu seu casaco na sala. — informou e eu olhei o casaco em suas mãos. Eu me lembrava vagamente de ter pego o casaco, tenho a certeza que o peguei antes de sair da sala. Dei um sorriso pequeno como agradecimento.
— Pensei que eu o tinha pegado. Acho que estou muito distraído hoje. — disse soltando um suspiro. Mesmo achando o garoto estranho, não podia ser grosseiro com ele. Mas Donghyuck continuava sendo diferente e estranho a meu ver.
— Não seja tão distraído. — riu baixo. — Isso pode te colocar em perigo. - com isso, Donghyuck apenas saiu, me deixando completamente confuso e, novamente, distraído com meus pensamentos em sua fala. Por que ele falava coisas tão estranhas que sempre me confundiam e me deixavam pensando?
— Terra chama Mark! — ouvi a voz de Jaemin e o olhei esperando que ele dissesse alguma coisa. — O que houve? Por que está com essa cara?
— Que cara? É a única que eu tenho. — respondi tirando o lanche de minha mala e ouvindo a risada abafada de Jisung.
— Quem era aquele garoto? Você pareceu ficar tão estranho falando com ele. — Renjun comentou enquanto jogava algum jogo de celular. Assim que o Huang viu game over no visor do celular direcionou seu olhar para o mais velho. Todos o olharam esperando uma resposta.
— Ele é meu novo colega de quarto e eu apenas fiquei distraído quando ele disse que ficar distraído pode me colocar em perigo. — respondi simples dando atenção ao meu lanche. Eu estava me sentindo estranho. Olhei confuso para Jeno quando o ouvi rir.
— Mark, você está alucinando. O garoto não disse nada disso. - disse ainda rindo. Eu olhei Jeno e em seguida olhei para onde Donghyuck tinha ido o vendo olhar para mim com um sorriso.Nada respondi a Jeno. Apenas fiquei ali, retribuindo o olhar de Donghyuck esperando encontrar alguma respostas às minhas perguntas, mesmo sabendo que, talvez, nunca iria obter uma resposta. A única coisa que tinha a certeza é que deveria parar de tentar criar alguma resposta para as minhas próprias perguntas. Quanto mais eu penso nisso, mais perguntas vão crescendo em minha mente, como uma praga.
Me levantei assim que terminei meu lanche deixando meus amigos para trás. Não estava me sentindo confortável nem com tantas pessoas conversando nem com os olhos verdes de Donghyuck me seguindo para todo o lugar. Caminhei calmamente até meu dormitório, queria tirar aquele uniforme ridículo e colocar uma roupa normal. Ouvi passos tão calmos quanto os meus um pouco ao longe e parei de caminhar.
— Por que está me seguindo? — perguntei voltando a caminhar assim que o menor se colocou do meu lado caminhando junto a mim. Senti seu olhar em meu rosto e o ouvi rir.
— Não estou te seguindo. Estou apenas indo para meu dormitório, hyung. — era estranho para mim ouvi-lo me chamar de hyung, diferente de quando ouvia outros me chamarem de hyung, eu não sentia que ele estava falando aquilo com naturalidade e respeito, parecia mais uma forma de me zombar.
— Não me chame de hyung, parece que você está zombando. — informei abrindo a porta de nossos dormitório e a fechando assim que ele entrou. Retirei meus tênis de sempre colocando o chinelo e me joguei em minha cama.
— Você é tão chato, hyung. — ele disse voltando a rir. Ele só ria? Apenas dei de ombros fechando meus olhos.
— Você é coreano? — perguntei depois de uns minutos em silêncio e o mesmo ficou calado alguns segundos.
— Não. — respondeu.Antes que eu pudesse perguntar qual dua nacionalidade ouvi a porta, provavelmente, do banheiro bater, não com muita força, ele estava fugindo do assunto por algum motivo e mais uma vez uma pergunta surgiu em minha mente, elas continuavam de acumulando. E, querendo ou não, eu me obrigava a apagar todas essas perguntas da minha mente.
Me lembrei vagamente dos pequenos comentários que rolavam pela escola sobre mim. Me chamavam de delinquente, solitário, perigoso, por vezes falavam que seus pais não os queriam perto de mim. Soltei uma pequena risada. Eu não era capaz nem de bater para me defender, imagina bater em alguém inocente. Era até curioso a forma como qualquer aluno falava a respeito de outro nesse internato e todos acreditavam sem ao menos ter uma prova. Eram como jornalistas de revistas de fofocas que escreviam qualquer mentira só para ganharem algo, a diferença aqui é que os alunos não ganham nada.
Me sinto até feliz por saber que, além de meus amigos e os garotos do time, ninguém quer se aproximar de mim com medo que eu os ataque. Mas por que pensam isso de mim? Eu nunca tive uma suspensão ou uma chamada de atenção.
Eram tantas as mentiras daquele internato. Lembro de quando inventaram de que uma garota tinha ficado com um professor para conseguir nota. Na semana seguinte, os pais dela a tiraram do internato alegando que estava prejudicando o psicológico da garota.
— Hoje um garoto me falou para ter cuidado com você. — ouviu a voz de Donghyuck e abriu seus olhos encarando os de Donghyuck. Novamente, ele parecia ter lido meus pensamentos.
— Ele disse isso por quê? — perguntei ainda o olhando e o vendo se sentar no chão.
— Não sei. Ele disse apenas para eu ter cuidado com você porque você era perigoso. — não consegui deixar de rir com isso. Donghyuck tinha uma feição tão confusa e ingénua sobre isso que apenas me fazia rir.
— Não acredite nisso. — pedi depois de me recuperar do pequeno ataque de risadas. — Eles aqui inventam qualquer coisa para prejudicar os outros ou até mesmo para que se afastem de você.
— Então voce não é perigoso? — perguntou e eu neguei. — Talvez você seja perigoso, só não sabe ainda. — rapidamente fiquei sério tentando identificar sua fala. Eu? Perigoso? Não tinha como eu ser perigoso.
— O que você quer dizer com isso? — perguntei já cansado de tantos mistérios. Ele apenas sorriu me olhando e se levantou, pegou um livro da estante e se sentou na cama me ignorando completamente.Se eu dissesse que não estava ficando assustado, eu estaria mentindo. Em menos de uma semana aconteceram várias coisas estranhas, Donghyuck é uma dessas coisas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
❬ᴘᴇᴛɪᴛ❭ markhyuck
Horror"E se você conseguisse ver como seria a morte das pessoas? Você se sentiria diferente? Oi, meu nome é Lee Donghyuck e eu sou diferente." Quando a morte conta uma história, você deve parar para ouvir.