Banheira

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Quando adentramos o seu quarto, não pude evitar praticamente cair na cama, não tinha sono, longe disso, não fazia tantas horas desde a última pílula, então provavelmente eu não dormiria tão cedo, mas meu corpo estava fadigado, já tinha uns bons dias que sinto dores, mas provavelmente é consequência do esforço repetitivo, a minha dor de cabeça também tem incomodado um pouco, contudo não posso nem ao menos tomar um remédio para cessar isso.

Com a cabeça afundada no travesseiro, um filme ruim passa em minha mente,me sinto um tremendo idiota, como fui capaz de tomar tantas decisões equivocadas, de ter que chegar ao extremo pra perceber que estava no caminho errado, e se o Roger não tivesse me parado? O que eu teria feito? Até onde eu teria ido? Essas questões torram meu cérebro, e nem mesmo o cheiro adocicado do travesseiro do Rog está sendo capaz de me acalmar, só queria dormir por anos e acordar sem lembrar desse incidente.

A cama mediana de solteiro afundou um pouco e o peso do corpo pequeno e magro do loiro surgiu em minhas costas, ele passou a afagar meus cachos, e se eu não estivesse tão desperto, teria dormido com aquele toque singelo.

- Você não está dormindo, eu sei - Sussurrou bem próximo ao meu ouvido - Posso preparar um banho quente se quiser, Freddie tem sais de banho relaxantes, vai te fazer bem - Sugeriu sem interromper o carinho.

- Não sei, ele pode me expulsar se souber que pegamos - Ouvi sua risada abafada, e não pude evitar sorrir contra o travesseiro, esse era o efeito Roger Taylor, ele transmite essa Áurea boa, que eu só sinto, não consigo explicar.

- Ele vai nos perdoar tenho certeza, é por uma boa causa.

- Tudo bem então - Senti um selar em meu ombro e a cama esvaziando, de repente senti falta do seu corpo sobre o meu,suspirei fundo, e me ergui passando a mão pela testa, na intenção falha de fazer o incômodo passar, ouvi o barulho da água escorrendo, e me dirigi até o banheiro, me encostei na porta de madeira e encontrei o loiro mexendo no armário, pegando pequenos saquinhos, e naquele momento eu constatei algo, o mundo não merece Roger.

Desde que o conheci, percebi que ele é muito mais do que permite que as pessoas enxerguem, por mais que ele tente mascarar sua inteligência lendo romances bobos, e livros desprezados, ele possui uma sabedoria que vai além, ele vê e interpreta as coisas de um modo único, por trás dessa cortina de radical e estridente, ele não é uma pessoa explosiva e muito menos alterada, e sim usa como mecanismo de defesa, ele é simples e isso o torna ainda mais enigmático, porque ele entendeu a vida de um modo diferente, que poucos conhecem e que alguns jamais conheceram, naquele instante eu não poderia estar mais feliz por ter uma pessoa como ele fazendo parte da minha vida, não importa até quando, mas conhecê-lo já foi um grande presente, mesmo com as estatísticas sobre relacionamentos em universidades gritando que raramente as pessoas continuam suas conexões após a formação, eu esperava em silêncio para que fossemos uma excessão, e que um dia já velhos e com cabelos brancos, eu ainda pudesse ter a honra de olhar para aqueles olhos azuis e sentir com a mesma intensidade o que sinto hoje.

- Você não cansa de me vigiar em segredo Doutor? - Sua voz suave cortou minha linha de pensamento, e percebi que talvez eu estivesse encarando ele a tempo demais.

- É como olhar para as estrelas, eu nunca me canso de fazer - Falei sem pensar, notando que suas bochechas estavam vermelhas como seus lábios, vibrei por dentro porque geralmente as posições são inversas.

- Devo admitir que por essa eu não esperava - Sorriu tímido - Então...Quer entrar? Já separei os sais pra você.

Concordei já desabotoando minha camisa e retirando o casaco, ele estava de saída, provavelmente imaginou que eu gostaria de espaço, e também minha timidez diz muito ao meu respeito.
Contudo, há momentos em que algumas iniciativas espontâneas fazem total diferença, o Brian de algumas semanas atrás jamais agiria assim, ou teria tais pensamentos, mas o poder que uma mudança de rotina tem em nossas vidas é inexplicável, e foi em um desses súbitos momentos de coragem que segurei o pulso dele.

- Pode ficar se quiser - Proferi baixo, um pouco envergonhado pelo que acabará de pedir.

- Na banheira? Com você? - Sua expressão era um misto de surpresa e confusão.

- Só se quiser, a água está boa e...

- Você quer que eu fique? - Indagou me encarando e eu sem coragem de falar apenas acenei em afirmação com a cabeça. Vendo aquele lindo sorriso surgir - Está bem - Aceitou, começando a retirar a parte superior das roupas, e eu tive a sensação do banheiro estar encolhendo.

Meio sem jeito, puxei a calça e o resto, agora estando completamente exposto para ele, não consegui encara-lo, não queria parecer invasivo, era a primeira vez que estávamos nessa situação, e eu sentia todo o meu corpo tremer.

Fui o primeiro a entrar, inconscientemente tentando me esconder do seu olhar de algum modo, tenho inseguranças em muitas coisas, e nudez é uma delas, mas já estava feito não tinha como retornar, vi ele sentando a minha frente, e foi a primeira vez que dirigi meu olhar para o seu corpo, nos poucos segundos em que ele entrou na banheira, e tenho certeza de que estou parecendo um pimentão, e sua risada baixa só confirmou isso.

- Se estivéssemos em um livro de clichê romântico, essa seria a hora em que eu me oferecia pra lavar seu cabelo - Quebrou o clima um pouco constrangedor ao menos para mim, com uma de suas colocações descontraídas e aleatórias.

- Com direito a massagens e beijos adocicados - Completei.

- Somos melhores que isso - Brincou, as vezes é estranho o modo como nos referimos a o que temos, por mais que pareça algo, nada foi oficializado, pensei várias vezes em um modo  de pedir ele em namoro, ou de dar nome para nossa relação, mas após tanto  me questionar foi então que eu percebi, que não eramos como os outros, não precisamos de um pedido, ou de papéis, estávamos um com o outro, e era isso que realmente importava, desde que nos conhecemos já nos conectamos de alguma maneira, que ciência nenhuma seria capaz de explicar, nossa história não precisa ser igual a nenhuma outra, pois nesse universo só existe um Roger Taylor e um Brian May, que nesse exato instante trocavam beijos apaixonados em uma banheira de universidade, como se nada realmente importasse.

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