Terraço

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Roger estava particularmente eufórico naquela manhã, ele precisava encontrar Brian o mais rápido possível, mas o mesmo ainda não tinha dado às caras na biblioteca, e a cada minuto o loiro tentava conter seu entusiasmo, já tinha lido alguns livros, e quase rasgou o último de tão ruim que foi o desenrolar do final da trama, ele abominava escritores que mudavam drasticamente a história apenas para pegar os leitores de surpresa, e Taylor odiava ser o último a descobrir os enigmas dos romances, geralmente ele desvendava nos primeiros capítulos.

Após seu momento de fúria, acendeu seu cigarro, ele tinha reduzido a quantidade por dia, mas não parado totalmente, era seu jeito íntimo de lidar com angústias e frustrações de algum modo. Novamente se pegou chateado pela demora excessiva do mais velho, e amaldiçoou toda a comunicação falha dos anos 70, cartas eram românticas mas pouco eficazes. Como que para acalmar seu coração aflito, uma figura alta se fez presente no ambiente, trazendo paz para a espera do loiro, que se ergueu praticamente pulando nos braços do outro.

- Céus Brian onde você se meteu? - Questionou logo que soltou o companheiro.

- E-Eu tive alguns problemas para acordar essa manhã, até perdi a aula de hoje - Explicou sem detalhes, ele não queria contar o motivo vergonhoso que o fez demorar para sair da cama hoje, ou melhor o grande problema que o deixou em uma situação delicada e nova para ele.

- Se eu fosse um aluno assíduo, eu poderia te dar uma bronca hipócrita sobre perder aula pra dormir - O cacheado riu do comentário, realmente Roger era o último que podia julgar qualquer aluno da universidade.

- Me esperou muito? - Indagou para o loiro, que de repente deu pulinhos alegres assustando May.

- Quase me esqueci, eu estava louco para que chegasse, porque descobri um lugar novo ontem, queria muito te levar lá - Disse animado e literalmente empurrou o outro para fora da biblioteca, esquecendo-se completamente dos livros que pretendia levar para ler mais tarde, mas naquele momento Brian era mais importante para ele.

Roger guiou Brian até uma ala isolada da grande universidade, parecia um prédio que não fora reformado há um tempo, e tinha até algumas faixas de protesto e frases de efeito, a fachada realmente parecia mais velha que os demais edifícios.

- Podemos entrar aí? - Perguntou May, desconfiado da legalidade do lugar.

- Doutor a universidade é pública, então em tese os espaços também são, está em alguma lei que não sei o número, vamos! - Pegou a mão longa do rapaz, e seguiu para o prédio, estava tão feio por dentro quanto por fora, tinha algumas cadeiras quebradas, mesas riscadas, e alguns mobiliários velhos, eles subiram as escadas, e a cada patamar Brian calculava na mente qual a probabilidade daquela estrutura desabar momentaneamente e eles morrerem lá dentro, as rachaduras só denunciavam isso, mas era umas das ideias de Roger, era impossível ser contra, continuou seguindo o loiro até chegarem no terraço, era o local mais limpo daquele edifício.

- Está vendo? Dá pra ver o campus inteiro daqui - Sinalizou Taylor e só então Brian começou a reparar na paisagem, e constatou que era linda, cada canto era visível dali de cima, desde o refeitório, cafeteria, corredores - É incrível né? - Questionou chamando a atenção do mais alto - Saber que pode ver tudo, sem nunca ser visto - Uma pequena frase proferida pelo pequeno bagunçou a cabeça do cacheado, porque era daquele modo que ele havia desejado viver por muito tempo.

- É uma solidão cativante - Falou com sinceridade, atraindo o olhar curioso de Roger, que mesmo com pouco entendeu a que ele se referia, Brian podia achar que seus sentimentos passavam despercebidos pelo mais novo, mas na verdade Taylor sempre soube ler ele muito, mas preferia que o mesmo lhe contasse ao invés de simplesmente desvenda-lo por inteiro.

- Ser visto as vezes é inevitável, até às pedras recebem atenção, são estudadas e ganham pesquisas de doutorado, e elas não fazem nada, apenas estão ali paradas - Exemplificou arrancando um sorriso bobo do moreno, muitas vezes ele desejava ter algo consigo para gravar as falas de Roger, são sempre tão inspiradoras, se perguntava o porquê dele não escrever suas próprias ficções, ao invés de ler obras banais de terceiros.

- Você é o único que eu quero que me enxergue Rog - Admitiu, tendo agora toda a atenção do loiro em si, e sem pausas dramáticas o mesmo puxou o terno bem passado de May, iniciando um beijo caloroso, era seu modo de acatar com o pedido subliminar dele, e os dois sabiam que as únicas testemunhas dessa promessa silenciosa, seriam eles.

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