Alta Voltagem

Alexandria

O elevador diz que você está no 20º andar e você abotoa as mangas da sua camisa nova, sob seu paletó novo e sua cabeça coberta pelo gel novo. A imagem refletida no espelho é de alguém que está envelhecendo.

O nosso organismo para de evoluir por volta dos vinte e sete anos. Todos os dentes estão na sua boca e você começa a morrer com vinte e sete anos. Os fios brancos aparecem nas laterais da sua cabeça e bem acima da testa e o máximo que você diz é "mas já?".

O elevador diz que você está no 41º andar e você lembra que, há quinze anos, sua única preocupação era subir sessenta e cinco andares com um copo de café queimando a mão, para que o chefe pudesse pegar a caneca pela asa.

O elevador diz que está na hora de sair e se juntar a todas as outras pessoas que estão ficando velhas no último andar. A imagem refletida no espelho mostra uma camisa nova, paletó novo, gel novo e os dentes brancos.

Você não está velho.

Você não está morrendo.

Você não pertence mais a nova geração e seu lugar estava bem ali, bem na ponta daquela mesa oval, ao lado do novo líder.

Era a primeira vez que estava no topo da empresa. Uns acenam, outros tentam puxar um assunto e é como se você estivesse no elevador com as mesmas pessoas, sem nunca trocar uma só palavra.

- Daqui a quinze minutos — se manifesta o nosso vice presidente, a única pessoa comum a todos naquela sala — vocês serão apresentados ao nosso mais novo presidente, dono de 95% das ações daqui.

Henry cochichava que a empresa iria rearranjar o quadro de funcionários. Fusão, centralização, adaptação aos novos meios de trabalho. Tudo isso pra colocar o pé tamanho quarenta e dois bem na nossa bunda.

Cada andar representava uma nova promoção. Meus planos de queimar meu chefe seguia cada vez mais forte, nem que seja foder com aquele carpete que ele exigia pra andarmos descalços sempre que entrássemos a sua sala.

Quando finalmente me aproximo dele, sou recebido com um sorriso e um convite para sentar ao seu lado. Ele pede dois cafés e o estagiário vem aos tropeços. Acho divertido e torço para que ele caia e manche toda a camisa, que queime o peito e que saia envergonhado.

Meu chefe pergunta, o que você acha do café? Respondo que está doce demais e faço o estagiário descer sessenta andares para acertar a dose do açúcar.

O vice presidente esfrega seus olhos com ressentimento a medida que voltamos a nossa atenção para a porta, onde um velho que nunca havíamos visto na vida entra e nos chama a atenção com uma leve tossida.

- Cavalheiros, peço a gentileza que se levantem para recepcionar o patrão Damian, o mais novo presidente da companhia.

- Não pode ser verdade — Henry ainda cochicha em meu ouvido, aproveitando a nossa mais nova intimidade — o mundo não tem bons históricos com crianças como imperadores.

Damian tem quase um metro e meio de altura e passa por nós mascando um chiclete e fazendo grandes bolhas rosas de ar. O estouro se amplificada naquela sala gigantesca e silenciosa. Todos acompanham o passo daquela criança, que vestia um terno e tênis branco de doze molas, que piscava diversas cores e emitia barulho a cada passo dado.

Ele joga o caderno de algum personagem de desenho na mesa e afrouxa a gravata antes de subir na cadeira. Nosso vice presidente se antecipa ao seu lado e, oficialmente, inicia a reunião.

- Antes do seu falecimento, em um ato de extrema coragem e ousadia, Bruce promoveu todas as ações para o seu filho único, Damian.

Henry me dizia que o imperador romano Heliogabalo tomou o poder aos catorze anos e não demorou muito para desrespeitar todas as tradições da época.