Capítulo 8

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  Jungkook anda de um lado para o outro enquanto eu continuo cabisbaixo no canto do quarto, tentando colocar em ordem meus pensamentos e ignorar a presença do príncipe que está há quase dez minutos em silêncio, apenas lançando olhadelas em minha direção vez ou outra.

Não sou capaz de lhe encarar, apenas lhe observo pelo canto de olho. Sinto como se meu coração fosse falhar ou simplesmente sair do peito toda vez que nossos olhares se encontram e para não ficar vulnerável nesse momento apenas me mantenho seguro disso tudo.

— Você fez alguma coisa comigo! - sua voz soa alta e irritada me fazendo dar três passos rápidos para trás quando o maior anda em minha direção.

— E-eu.. C-como? - pergunto confuso.

— Você… - diz baixo e se abaixou um pouco para me encarar. Suas mãos encostam em meus ombros e uma paz se instala dentro de mim, quase que automaticamente me revitalizando aos poucos.

Era o que eu imaginava, Jungkook é igual a rainha. Muito mais que um herdeiro do reino, ele é um....

— Responde, inferno! - suas mãos me balançam bruscamente, quebrando todo encanto do momento anterior.

Sua alma amaldiçoada está falando mais alto que sua alma pura e boa, as bruxas Min que o deixam assim, quase que destruídos por dentro mas ainda tem uma salvação, uma única salvação.

— N-não fiz nada. - digo com medo de seu olhar. - Me solta, você está me machucando...

— Como se eu me importasse com isso. - diz entredentes. - Irei te matar, desgraçado. Então não faça essa cara de anjo porque você matou minha família inteira.

— Não matei ninguém! - digo convicto, começando a me irritar - Eu era uma criança, foram minhas tias...bom, minha tia e minha mãe-

— Mesma coisa! - me interrompe irritado.

— Não diga isso...

— Não me diga o que fazer. - sua mão segura meu pulso e ele me arrasta para fora de seus aposentos pelo corredor enorme, empurrando alguns empregados no caminho e resmungando algo que não consigo identificar. Abruptamente nos fez parar na frente de uma porta cheia de cadeados.

— Não coloque ele aí, Jungkook. - ouço a voz de seu amigo atrás de nós é viro meu rosto para encarar o homem dois centímetros mais alto que eu e seu olhar está fixo em Jungkook, de forma séria e preocupada.

— Eu sou o príncipe aqui. - Jeon murmura sombrio. - Quem dita as malditas regras aqui nessa droga sou eu, então ponha-se no seu lugar.

— Você não vai conseguir matar ele se o colocar aí, você sabe que ele irá morrer mais rápido. - ele argumenta, ignorando as palavras rudes.

Sinto meu sangue gelar ao encarar a grande porta de madeira. O que de tão ruim pode haver ali dentro?

— Droga… - sua voz pragueja e sua mão se aperta mais em meu pulso. - Então me arrume duas correntes e dois braceletes.

— Pra que? - o homem questiona.

— Cale a boca, Jimin. Só faça o que eu mandei e pronto.

O ruivo bufa na frente do príncipe, o que me leva a crer que eles são íntimos para isso.

Jungkook e Jimin tem algum caso? Ele não pode... Eu iria....não, não pode.

Fecho os olhos e tento controlar minhas emoções. Uma crise neste momento causaria muitas desgraças tanto para o castelo quanto para mim.

— Jimin... - Jeon murmura chamando minha atenção para os dois.

— Sim, Vossa Alteza? - a voz do ruivo é puro deboche.

— Traga um colchão também. - avisa.

Um sorriso pequeno brilha no rosto de Jimin e ele se afasta de nós dois nos deixando sozinhos nesse corredor.

— Só porque está machucado. - o príncipe murmurou me encarando - Não pense que estou com pena de você porque não estou. Só quero que você esteja saudável para eu poder te destruir aos poucos.

Ahh… se você soubesse que já está me destruindo aos poucos...

— Certo. - murmuro de cabeça baixa.

Uns segundos depois dois guardas aparecem na porta e trazem o que o príncipe pediu ao ruivo do corredor, esboçando uma expressão debochada ao olharem pra mim.

— Fiquem em seus postos, qualquer coisa entrem. - consigo ouvir sua voz, distante. - Mas lembrem-se; jamais machuquem ele. Esse bruxo será morto pelas minhas mãos e ninguém pode feri-lo a não ser eu.

Os guardas murmuram mais algumas coisas com Jeon antes de ficarem em seus postos ao lado da porta. Jungkook passa três cadeados na mesma e se vira para mim, me chamando com sua mão livre das correntes.

— Ande, bruxo. - resmunga alto e impaciente.

Me arrasto até sua frente a passos lentos, sentindo o cansaço incomum me dominar e um sentimento muito estranho também. Balanço a cabeça tentando tirar esse sentimento de mim mas não consigo, é como se estivesse querendo me dominar.

— Está lesado ou o que? - sua voz soa rude.

— Estou com sono....

— Vocês bruxos, dormem? - pergunta curioso enquanto coloca os braceletes de ferro em meu pulso lentamente, fechando as fivelas e conectando as correntes na mesma.

— Sim, tirando o fato de que eu tenho poderes sobrenaturais, sou um humano completo - respondo.

— Você é uma aberração. - sua voz soa cheia de nojo e sinto meus olhos marejar com suas palavras.

— Alte-

— Sua beleza é estonteante. - o príncipe murmura fazendo minhas bochechas adquirirem um tom avermelhado e levanto meus olhos para ver os seus me encararem - Você mata pessoas para ter sua juventude?

Ri baixinho balançando a cabeça sobre o seu comentário idiota. Todos os humanos sempre pensam isso de mim. Incrível e hilário.

— Sou um bruxo branco, é da minha natureza ser encantador e belo. - falo baixo e solto um suspiro. - Não mato pessoas para roubar sua juventude. As bruxas mais velhas que fazem isso, e elas não são bruxas brancas, vale ressaltar. Só existem quatro bruxos brancos ou existiam...não sei ao certo.

— Velhas o quando? - sussurra.

— Uns seiscentos, setecentos anos....- dou de ombros e vejo seus olhos se arregalarem com minhas palavras.

— Uau, você...

— Não, não. - interrompo já sabendo o que ele quer dizer. Vejo ele se abaixar e fazer o mesmo do pulso, só que em meu tornozelos desta vez. - Tenho dezenove anos.

— Você é jovem demais… - seus olhos se encontram com o meu e eu balanço a cabeça concordando.

— Irei morrer de qualquer jeito. A qualquer momento. - brinco consigo, mesmo não achando graça alguma na piada interna.

Jungkook se levanta e abaixa um pouco seu rosto para ficar a milímetros do meu. Engulo em seco e tento dar alguns passos para trás porém suas mãos seguram meu ombro com força e me fazem ficar no lugar.

— Sim, você está agindo gentilmente e isso não irá amolecer meu coração, sabe por que?

Apenas balanço a cabeça em negação, sem ousar lhe responder e já me preparando para a possível grosseria de sua parte.

— Porque sua família trancou meu coração e meus sentimentos. - dispara rude, quase gritando em meu rosto, fazendo-me fechar os olhos. - Irei devolver isso trancando todos vocês, Min desgraçados, no vale do inferno. Vocês vão queimar!

Já estou queimando Jungkook, e não é no sentido bom da palavra. A cada dia que passa, sinto que estou ficando mais fraco do que deveria e sei que não é apenas por causa do fruto. Tem algo de muito errado acontecendo comigo e se não resolvermos agora, nós dois estaremos perdidos.



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