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It hurts but I won't fight you
You suck ɑnywɑy
You mɑke me wɑnna die

[ Afrɑid - The Neighbourhood ✿ ]   

   

/ S k y l e r /

A tarde do dia de ontem, passada com Violet e com Calum, não fora tão má como eu imaginei. Ainda que a princípio tivessem trocado beijos, talvez beijos até demais na minha opinião, no fim acabámos por conversar e nos divertir.

Calum, em certa parte, fez-me lembrar Michael. Violet não podia fumar à frente dele ainda que longe da sua companhia pudesse. Michael não me deixava de todo mas eu não me posso queixar. Eu gosto deste Michael protetor. E para além do mais, acho que pela primeira vez gostei de um namorado da Violet. Todos os outros, apenas estavam com ela por interesse e mesmo que eu lhe dissesse isso de forma direta, ela continuava a namorar com eles sem dar a devida atenção aos meus avisos.

Acabava sempre magoada mas pelo menos podia contentar-me ao dizer-lhe a típica frase vitoriosa do 'eu avisei-te'.

Desço as escadas, um pouco apressada, após olhar o relógio. Eu já devia estar a ir ter com Michael ao parque mas já ia tão atrasada que não sei como iria desfrutar do meu cigarro antes de o encontrar. Retiro o maço da minha mala para não perder muito tempo e de dentro do pequeno pacote, pego num cigarro e no isqueiro amarelo, que aí guardava. Isqueiro esse roubado a Violet.

  "Onde é que a menina vai?"

A voz autoritária da minha mãe soa atrás do meu corpo que já se preparava para acender o cigarro ali, no meio da sala de estar.

  "Vou sair."

  "A quem pediu autorização?"

  "A ninguém." Digo com firmeza na voz

  "Está a brincar com a minha cara Skyler?"

  "Não estou a brincar. Estou a informar-lhe que vou sair.

  "O que faz com um cigarro na mão?"

  "Provavelmente vou-o fumar."

  "Desculpe, o quê?"

  "Provavelmente. Vou-o. Fumar." Digo de um modo trocista em frente à mulher que se encontrava com uma expressão incrédula estampada no rosto.

  "Você não vai sair."

  "O que se passa aqui?"

A voz do meu pai soa por detrás do meu corpo e rapidamente escondo o meu vício cheio de nicotina. Eu estava a joga com todo o baralho, controlando com isto a minha liberdade e ao mesmo tempo mostrando-lhe um pouco de mim. Um pouco de quem eu realmente sou.

  "Nada pai, eu ia apenas sair. Há problema. mãe?"

Eu tenho coragem e pelo meu olhar consigo entender que a minha mãe percebeu. Eu tenho coragem de contar ao meu pai que a minha mãe o estava a trair se a resposta à minha perguntasse fosse de negação.

Gostava de ter ficado espantada quando aos quinze anos me escondi atrás do carro preto, sempre estacionado em frente à nossa casa, e vi a minha progenitora beijar um homem completamente desconhecido. Mas eu não estou numa família normal e, ainda que os meus pais tenham muitos anos de casado, existem demasiadas discussões. Por isso, aos poucos, fui percebendo que eles não se amam.

  "Não há problema nenhum, querida. Divirta-se."

Ela sorri de forma claramente falsa o que me faz esboçar uma expressão vitoriosa. Eu estava a conseguir o que esperei durante muitos anos. Eu estava a conseguir mostrar-lhe que já era tarde demais para me ajudarem e que tudo na vida se paga. Eles irão sofrer na pele o facto de desde sempre me terem educado mal, à base de aparências.

Eu gostava de chorar desta situação, e admito que por vezes já o fiz sozinha. Eu não sou forte. Eu irei mostrar-lhes a pessoa que me tornei e tudo por culpa deles.

Sinto o meu telemóvel vibrar no bolso dos meus calções quando a voz do meu pai soa novamente, ecoando na divisão silenciosa.

  "E vai ter com quem, Skyler?"

  "Com o meu namorado, Michael."

  "Aquele rapaz do cabelo de cores?"

  "Aquele rapaz que me ama e que eu amo de volta. Agora se me dão silencia, eu não quero chegar atrasada."

Não sei como conseguira afirmar tal coisa num tom de voz tão calmo mas a verdade é que conseguira. Assim que a porta de casa se fechou e o vento fizera o meu cabelo escuro esvoaçar acendo o cigarro e sentindo logo de imediato o horrível sabor do meu vício.

Questionava-me o que estava a fazer à minha vida.

Questionava-me o que me estaria a acontecer se Michael não tivesse aparecido há uns meses atrás.

Questionava-me o que será de mim se eu não parar.

Provavelmente morro com um cancro qualquer derivado do cigarro, das bebidas ou das drogas. Ou entro em coma alcoólico. Ou tenho uma overdose.

Iriam ser poucas as pessoas que estariam a meu lado.

Michael estaria lá.

Completamente destroçado.

De coração partido.

De lágrimas nos olhos.

Completo de desilusão.

E de culpa por não me ter impedido.

Limpo as lágrimas que faziam a minha maquilhagem espalhar-se pela minha cara e tento compor-me ao máximo para que Michael não percebesse que eu estivera a chorar. Deito o cigarro para o chão antes de o esmagar e retiro o telemóvel do meu bolso.

  'Onde estás?'

Michael - 17:32

  'Ainda vais demorar?'

Michael - 17:33

  'Está tudo bem?'

Michael - 17:42

  'Amo-te, ainda estou à tua espera.

  P.s: Por favor não vás fumar.'

Michael - 17:49

  Merda.

Gestures 》 cliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora