Gestures 》 clifford

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Nobody sɑid it wɑs eɑsy
It's such ɑ shɑme for us to pɑrt
Nobody sɑid it wɑs eɑsy
No one ever sɑid it would be this hɑrd
Oh tɑke me bɑck to the stɑrt 　

[ The Scientist - Coldplay ✿ ]

/ S k y l e r /

　　"Desculpa o atraso, Mikey."

Michael sorri olhando para mim. É inacreditável que ainda que eu tivesse um atraso, de aproximadamente meia hora, ele não se encontrasse zangado comigo. Pelo menos não era isso que dava a entender o seu sorriso. Aproximo o meu rosto do seu para o beijar o que faz com que o meu cabelo descaísse um pouco para a frente do meu rosto.

　　"Estás preparado para berrares comigo?"

　　Michael assente com a cabeça.

　　"A sério?"

　　Pergunto incrédula e Michael volta a assentir.

　　"Caso o faças, é favor que seja em linguagem gestual."

Ouço uma pequena e curta gargalhada escapar por entre os lábios de Michael, mesmo antes de os nossos dedos se entrelaçarem uns nos outros. O meu namorado levanta-se do confortável banco de jardim e começamos a caminhar lado a lado. Obviamente era eu que guiava o seu corpo até ao sítio que tinha em mente.

Por vezes o olhar curioso de Michael caia em mim mas eu apenas lhe sorria, tentando não lhe dar a entender a minha ideia. Sei que ele não irá aceitar e pior que isso, sei que ele irá berrar comigo. Ainda assim quero arriscar.

Os seus lábios molhados vinham de encontro à minha bochecha ou o seu braço envolvia o meu ombro, de modo a mostrar que sou só dele. Não para mim mas para os diversos olhares que paravam em nós.

　　"Nem penses!"

　 　A voz de Michael soou alto assim que eu me dirigia para a loja de tatuagens. Olhei para ele para um sorriso ansioso nos lábios já esperando por essa reação.

　　"Eles nem sequer te vão deixar fazer. És menor e não estás acompanhada por nenhum adulto."

　　"Mikey, eu comprei um falso ID."

Ele arregala o olhar completamente espantado enquanto eu entro no espaço. Questiono-me como isto havia passado na inspecção pois pela apresentação exterior não chamava muito a atenção e não aparentava ser um sítio muito limpo. Mas toda a minha ideia mudou assim que entrei e observei o interior do espaço.

Michael olha em volta do espaço, boquiaberto e volta a dar-me a mão. Dirijo-me ao senhor que se encontrava do outro lado do balcão com um pequeno sorrio, ligeiramente nervosa em relação ao que ia fazer.

　　"Tem marcação?"

　　"Sim."

　　"Skyler, não é?"

　　"É."

　　"Acompanhe-me."

Olho para Michael, ainda completamente estático. Admito estar com um pouco de receio do que vá acontecer e com medo da dor eu iria ser forte e recordar-me que já fiz coisas piores. Sei que Michael está ainda com mais medo por mim mas eu acho que ele irá gostar do resultado final.

　　"Minnie?"

　　"Sim?"

Decerto que ele irá dar-me um sermão devido à loucura que me deu para fazer mas contrariamente aos meus pensamentos ele resolve surpreender-me.

　　"Eu também quero fazer uma tatuagem."

　　"O quê?"

Michael assente com a cabeça como se voltasse a afirmar o que antes havia dito. Eu imaginava tudo menos isso e estranhamente o facto de ele também querer tatuar o seu corpo deixou-me feliz e intrigada em relação ao que iria fazer.

A entrada do senhor na pequena sala para onde nos havia encaminhado fez-nos calar. Michael não gostava de falar à frente de ninguém e estava espantada por hoje o estar a fazer com mais frequência. Eu gostava de ouvir a sua voz.

Sento-me confortavelmente na cadeira à qual me indicou e observo o desconhecido do qual não sabia o nome desinfectar o material. Desinfecta também a parte da minha pele e ouço-o aconselhar-me em relação ao que podia ou não fazer. A exposição ao sol fora das poucas coisas às quais prestei atenção mas na zona que escolhi também iria ser difícil isso acontecer. Nem mesmo a minha mãe iria dar conta.

Assim que a tatuagem é feita o meu corpo contorce-se de dor mas devido à minha teimosia não grito nem faço algo que demonstre o quanto estou a sofrer. Michael olhava para mim com um ar tão assustado que parecia estar-lhe a dor imenso.

O desenho que escolhi fora algo pequeno; uma lua e a zona também fora discreta; atrás da minha orelha. Pensei muito antes de tomar esta decisão devido ao dinheiro, que fora mais barato do que aquilo que eu imaginei, e também porque não queria que tivesse significado. Não queria pelo simples facto de não saber com o que conto no futuro e tudo o que agora parece certo pode desaparecer num abrir e fechar de olhos.

Mas por detrás do desenho, a lua tem um significado e está ligado a Michael. Nunca pensei na altura em que conheci Michael que ele fosse entrar na minha vida e virá-la do avesso. Nunca imaginei acabar com Ashton para ficar com um rapaz tão esquisito e complicado de entender como Michael. E acima de tudo nunca imaginei viciar-me nele e admitir que o amava verdadeiramente.

Eu sei que sou uma rapariga complicada e com dificuldade de expressar os meus sentimentos mas eu amo mesmo o Michael e agradeço por ele ter entrado na minha vida e por me ter mostrado as coisas boas que eu nunca imaginei que existissem.

Michael aproxima-se no rapaz de cabelo escuro e mostra-lhe o seu ecrã de telemóvel. O senhor olha para mim confuso e explico-lhe que Michael não fala. Um sorriso amigável é esboçado no rosto do senhor antes de pedir a Michael para se sentar na cadeira.

O material de trabalho é uma vez mais desinfectado, assim como a pele de Michael. Ele ia fazer a tatuagem na sua mão segundo entendi. Enquanto tudo decorria tentava perceber no que se consistia mas nada, eu simplesmente não conseguia entender.

Mesmo após tudo acabar, Michael não me deixou visualizar a sua zona tatuada. A pele atrás do meu pescoço estava vermelha segundo vi e ainda dorida da agulha.

Pagámos as nossas tatuagens e saímos do espaço após nos despedirmos. Paro em frente a Michael com os braços cruzados e com a curiosidade a preencher o meu olhar. Eu quero mesmo saber de que se trata o seu desenho. Ele apenas nega com a cabeça.

　　"Michael, diz-me."

Ele aponta para mim como se quisesse a minha explicação primeiro.

　 　"Desenhei uma lua." Retiro o cabelo com cuidado, mostrando-lhe o trabalho manual que haviam feito em mim nessa zona. "Isto ainda que seja apenas um desenho relembra-me o dia em que nos beijámos ao som daquela música, que já agora quero saber o nome porque ainda não a encontrei."

Michael ri-se antes de me beijar a bochecha.

　　"É a tua vez Michael."

　 　"É uma âncora." Ele mostrou-me o seu polegar. "Ainda que aparente não ter significado está neste dedo especificamente pois é com ele que eu te acaricio o rosto e é dedicado a ti pois prendeste-me ao fundo do mar quando a tempestade me afastava de tudo."

　　"Michael, isso é muito querido."

　 　"Skyler, tu não estás a entender. Tu foste a única pessoa que me manteve aqui pois eu estava, e admito ainda estar, em depressão."

　　"Michael..."

　　"Eu tenho de ir. Amo-te."

Ele beija-me de uma forma tão rápida que o meu coração aperta. Honestamente não percebi o que se passou nestes minutos de conversa com Michael mas fiquei a sentir-me mal pelo facto de não conhecer tão bem o meu namorado como pensava que conhecia.

Ele não está feliz.