Prólogo - Kohan

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Há séculos, poderosos guerreiros governavam as terras próximas ao centro do continente. Munidos de poderosos machados de guerra, enfrentavam seus oponentes com peito aberto e fúria descomunal. A força destes guerreiros era tamanha, que podiam enfrentar ursos, usando as mãos nuas. Por este motivo, eram chamados de berserkers. Enquanto governavam absolutos, os países emergentes ao redor não se atreviam a entrar nas terras conquistadas por eles. Vivendo em vilas umas próximas as outras, logo se tornaram um império; desta vez, não conquistando novas áreas mas, guardando suas armas, já satisfeitos com as planícies e florestas que conseguidas durante eras de batalhas. Orgulhosos, nomearam seu reino como "Kohan".

Com o passar dos anos, as batalhas se tornaram cada vez mais escassas, assim como o número de soldados. Em fim, estavam se tornando pacíficos, como um enorme grupo de aldeias pertencentes a um povo em comunhão. Sem aqueles para usá-las, as armas começaram a ser fabricadas em menor quantidade e seu desenvolvimento iniciar uma marcha cada vez mais lenta. Assim como o armamento, a ciência começou a não ser permitida como um todo, por confiarem em seus curandeiros acima de tudo, encarando qualquer outra forma de medicina algo maligno. Aqueles que insistiam em praticar tais atos, os faziam escondidos, temendo a punição mortífera dos que estavam ao topo dos inúmeros governos centralizados.

Mesmo que Kohan estivesse estagnado sua ciência, todos os países a sua volta continuaram a evolução, criando cada vez mais armas, armaduras e estratégias para as batalhas. O Reino dos Leões a noroeste tinha o dinheiro suficiente para bancar as pesquisas e equipamentos; ao norte dele, O Império de Ferro estava criando A Forja, capaz de manipular qualquer tipo e quantidade de peças de aço; ao seu sudeste, O Reino dos Corvos e Lobos, começava em sigilo estudar as técnicas para a invasão do País dos Berserkers, se tornando futuramente o seu mais poderoso inimigo.

Com o passar de poucos séculos, Kohan, o único reino estagnado, que procurava apenas manter seu território, começou a ser invadido pelos outros mais desenvolvidos ao seu redor. Sem os equipamentos e estudo, suas armas e estratégias não eram suficientes para deter o avanço de Wolfhi. Pressionada, a população começou a migrar para a capital, a tornado mais movimentada e desequilibrada financeiramente. Preferiam viver uma vida de miséria a se entregar ao inimigo. Com o aumento da população, também crescia o número daqueles que praticavam a ciência escondidos em seus grupos, com a esperança que os governantes cedessem; algo que nunca aconteceu. Com a grande depressão, todas as noites faziam as piras serem acessas para aqueles que fossem condenados por usarem de tais práticas; se ao menos desconfiassem de alguém, já era motivo para sua lenta e dolorosa execução pública. Nem mesmo os tribunais, construídos para exercer a pouca justiça que restava a esses habitantes, as paravam; ouviam apenas a revolta do povo que clamava por algo para saciar o seu ódio, resultante de sua própria dor.

Os inúmeros grupos que se escondiam debaixo da cidade começaram a se reunir, decidindo como responderiam a opressão do império. Com a divergência interna, rivais defendendo a mesma causa foram criados. Muitos escolheram a paz, esperando serem reconhecidos pelo que faziam, não se importando em dar suas vidas por este caminho; outros, se rebelaram, transformando-se na verdadeira escória de Kohan, assassinando todos que fossem ou tivessem contato com a nobreza. O último grupo se dividiu em diversas facções, definidas pelo grau de atentados cometidos contra o reino; com o tempo toda a população passou a acreditar que esta era a única e verdadeira natureza daqueles que se escondiam da ignorância.

Em uma noite, um jovem casal praticante da ciência e da esperança de reerguer Kohan, foi descoberto pelos soldados. Juntando uma multidão enfurecida, o grupo os seguiu até a sua casa, os encurralando. Sem a piedade humana, os perseguidores atearam fogo na moradia. Enquanto as chamas consumiam tudo por dentro, os dois fizeram o possível para proteger o seu bem mais precioso.


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