Acordar cedo era um dos fatores que me faziam odiar o ensino médio.
Pra poupar tempo, eu sempre me arrumava o mínimo possível. Nada de maquiagem, nem penteados elaborados, meus únicos passos eram vestir o uniforme do colégio e escovar os dentes. Alguns chamariam de falta de vaidade, eu prefiro o termo "poupar tempo", porque sejamos francos, uma hora de sono a mais era realmente essencial.
Rodei os olhos no meu quarto. As paredes rosa bebê e os milhares de ursos de pelúcia espalhados me lembravam de que eu precisava urgentemente repaginar aquele cômodo. Pra variar, eu procrastinaria até não poder mais.
Desci as escadas dando de cara com minha mãe sentada à mesa com seus cabelos negros presos num coque firme em cima da cabeça. Numa mão ela segurava a xícara de café fumegante e na outra uma edição da revista Dwell, de arquitetura.
— Bom dia, Ellie. — Cumprimentou com um sorriso, olhando por cima de seus óculos de armação vermelha.
Sorri de volta e andei até o armário, pegando de lá uma caixa de Cocoa Puffs. Sentei-me na cadeira ao lado de minha mãe e coloquei leite numa vasilha, para logo depois por o cereal.
Pude ver meu irmão descer as escadas com o cabelo desgrenhado e seu casaco do time que ele insistia em levar pra cima e pra baixo. Em seguida, Peyton quebrou um ovo num copo de vidro, enquanto minha mãe assistia aquilo incrédula:
— O que você pensa que tá fazendo? — Ela perguntou e foi a primeira vez que Peyton notara nossa presença ali.
— O treinador disse que tomar isso vai me ajudar nos testes pro Eton dessa semana. — Respondeu dando de ombros.
— Isso só funciona nos filmes, gênio. — Rebati.
— Isso só funciona nos filmes, gênio. — Imitou com uma voz infantil.
— Pode largar isso, agora. — Minha mãe ordenou, levantando-se para pegar o copo de sua mão. — Além do mais, ainda não conversamos sobre você fazer faculdade fora, já te expliquei que o Eton tá muito fora do nosso orçamento. Por que não procura uma faculdade comunitária aqui em Portland?
— Mãe, não começa. — Seu sorriso desmanchou. — São Francisco fica só dez horas daqui e eu posso conseguir uma bolsa. A Eton valoriza muito os atletas.
— Eu apoio a ideia. — Disse, chamando a atenção dos dois. — Posso ficar com o quarto dele? — Minha mãe lançou um olhar repreendedor.
— Falamos sobre isso depois, filho. — Assegurou, mas todos sabíamos que aquilo não era verdade. Ela, diferente de meu pai, não aceitava que Peyton fosse pra longe e adiaria o máximo possível aquela conversa.
Contrariado, meu irmão saiu na frente, em direção a garagem. Dei uma última colherada em meu cereal, antes de pegar a mochila e seguir pro carro, acenando para minha mãe.
O Ford Série F que Peyton ganhara de aniversário estava estacionado. Abrimos a porta em completo silêncio, ele parecia frustado. Me aconcheguei no banco, jogando a mochila nos pés. Peyton apertou o controle da garagem e deu partida.
— Ela só tá com medo de ficar longe de você. — Expliquei depois de uma longa pausa e ele tirou os olhos da rua para me encarar.
— Só ela? Tenho certeza que vai chorar todos os dias se eu for embora. — Caçoou, me fazendo rir.
— Vou chorar nas duas primeiras noites e transformar seu quarto num cinema depois. — Retruquei, e Peyton jogou a cabeça pra trás para gargalhar.
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Colírio
Teen FictionEm meio à imensidão do colégio Halton, Elliot Casper era uma garota invisível. Ela não se destacava por suas notas e muito menos por sua aparência. Ela não gostava de tirar fotos, ou passar o dia fazendo compras, pelo contrário, abriria mão de tudo...