capítulo três

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"Born This Way" tocava no modo aleatório na playlist de meu celular. Parecia até ironia escutar aquele verso justo no momento em que eu menos me sentia confiante. 

Encarei meu reflexo no espelho, dando atenção a cada pequeno defeito em meu corpo coberto pela saia do uniforme e me lembrando dos acontecimentos da noite passada. Seria controverso dizer que todo meu pingo de amor-próprio se esvaiu depois das palavras de Joshua?

Eu não conseguia me amar naquele momento e, às vezes, quando o ar desaparecia de meus pulmões e eu sentia que iria surtar, gritar ou enlouquecer, não conseguia expressar tudo que estava dentro de mim. Droga de festa, eu nem ao menos devia ter ido. Por que aquele garoto tinha que ser tão rude? Como se eu não soubesse que era gorda...

Eu sempre tive certeza de meu potencial, menos naquele momento.

O sabor amargo da insegurança dançava em meu paladar naquela manhã. É péssima a sensação quando te fazem duvidar se realmente não tem problema amar quem você é.

Vesti meu suéter com a o brasão da Halton e desci as escadas. O primeiro rosto conhecido pela manhã era o de Peyton. Fazia tempo que não o via tão pra baixo. Sem dizer nada, ele andou em direção a garagem com a mochila pendurada em um só ombro. 

Minha mãe saiu da cozinha segurando uma xícara e trocou olhares comigo como se perguntasse o que estava havendo. Dei de ombros e fui atrás dele, já me arrependendo por não parar pra comer. Eu com certeza sentiria fome mais tarde.

Apareci a tempo de ver meu irmão bater com força a porta do carro. Sentei-me ao seu lado, no banco do passageiro, recuando um pouco. Os primeiros cinco minutos do trajeto até a escola foram em completo silêncio, até que percebi que ele havia mudado o caminho:

— Não vamos passar na casa da Emma? — Perguntei confusa.

— Não. — Respondeu, sem tirar os olhos da rua.

— E por quê? — Insisti, ao que Peyton parecia impaciente.

— Não quero falar sobre isso. — Rebateu e logo um silêncio interminável se instaurou. 

Continuei observando a paisagem rolar, enquanto meu irmão apertava os dedos no volante como se fosse explodir a qualquer momento.

— Você não vai voltar pra fase de escutar "Welcome To My Life" do Simple Plan e usar aquela franja ridícula, né? — Provoquei, ouvindo ele bufar.

— Por que mesmo que eu aceitei te levar pro colégio?

Ri de seu comentário e o assunto novamente cessou. 

Todos os alunos do terceiro e quarto ano favor comparecerem ao auditório. Todos os alunos do terceiro e quarto ano favor comparecerem ao auditório. — Uma voz feminina mecanizada soou dos rádios assim que coloquei meus pés no corredor da Halton. 

Normalmente, essa seria a hora em que eu iria atrás da Dana e do Eric, eles diziam que era perigoso ficar sozinho fora da sala no meio daqueles selvagens, porém, eu estava brava. Afinal de contas, nada daquilo teria acontecido se eles não sumissem no meio da festa. Me sentia mal por não ser incluída em alguns assuntos. Nas últimas semanas, Eric e Dana passaram a ficar tempo demais juntos e, mesmo que não admitisse, eu tinha medo de ser deixada de lado por algum deles. 

Tentei passar no meio dos alunos, mas era uma tarefa muito difícil. Levei vários empurrões e ombradas, pois todos pareciam apressados.  

De uma hora pra outra, fui puxada pelo braço para trás de uma pilastra. Encarei Dana com uma expressão séria e ela parecia incomodada:

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