Colírio

capítulo cinco

— O que foi? O gato comeu sua língua? — Emma insistiu, vendo que eu continuava paralisada. Ela ainda usava seu sorriso falso.

— Você chegou! — Ouvi a voz de Peyton atrás de mim. Ele terminou de descer as escadas e foi para o lado dela, depositando um beijo em seus lábios. — O que foi, Ellie? — Se preocupou, notando meu estado de choque.

— É, Ellie. Qual o problema? — Como Emma podia agir daquela forma depois do que havia feito?

— Você... foi encontrar ela ontem? — Tentei formular a frase, olhando diretamente para meu irmão.

— Ah, sim. — Respondeu sorridente. — A gente trocou mensagens e acabamos indo jantar, no final da noite já estava tudo resolvido, né, amor?

Em seguida, ele colocou seu braço no ombro dela e selou seus lábios novamente. Aquilo me dava náuseas.

— Corrigindo: você me mandou mensagem implorando pra voltar — Falou numa espécie de brincadeira e Peyton achou graça, concordando.

— Vamos assistir um filme no shopping, quer ir também? — Indagou e eu rapidamente neguei. — Ok, vou pegar meu casaco, já volto. — Avisou e Emma assentiu, ainda sorrindo. Assim que Peyton saiu, ela me lançou um olhar ameaçador.

Andei até a cozinha, deixando-a na porta. Peyton caminhava de um lado pro outro procurando a blusa. Puxei-o pela manga, chamando sua atenção:

— Posso falar com você um minuto? Preciso te contar uma coisa.

— Pode ser outra hora? A não ser que seja muito importante... É que já estamos atrasados e não gosto de perder os trailers. — Disse sem olhar pra mim. Logo em seguida encarou a porta.— Ela é incrível, não é? — Ele agora fitava Emma, com um brilho irreconhecível em seus olhos. Sonhava que um dia alguém pudesse me amar da forma que ele a amava. Talvez não valesse a pena sacrificar a felicidade de meu irmão por minha causa. — Achei! — Exclamou, pegando o moletom de cima da cadeira.

Peyton ficava diferente quando estava com Emma, nunca tinha o visto tão apaixonado por alguém. Eu sabia que precisava tomar a decisão certa:

— Não é nada importante. — Assegurei, forçando um sorriso e ele me deu um beijo na testa. — Bom filme.

— Te amo. — Falou, já em direção a porta. — Tchau, mãe! Tchau, pai!

— Tchau, senhor e senhora Casper! — Emma se despediu e meu irmão encostou a porta.

Cansada e completamente confusa, voltei para a sala e sentei-me ao lado de meu pai.

— Ela é uma boa garota. — Afirmou e eu o olhei entediada.

— Sai daí, vai, pai. — Murmurei, vendo que ele estava prestes a tirar meu querido "Full House".

— Você não devia estar estudando? — Perguntou, me deixando sem resposta. — Então vamos assistir "Hart to Hart".

Revirei os olhos, aceitando a condição.

— Você só gosta de coisa velha. — Reclamei num tom quase inaudível.

— Margareth, vem ouvir o que sua filha tá falando. — Chamou minha mãe. Não me contive e comecei a rir.

Depois de três episódios de "Hart to Hart", voltei pro meu quarto e liguei pra Dana para falar o que aconteceu:

— ...espera, tá me dizendo que não contou pro seu irmão?

— Eu ia, mas você tinha que ver como ele tava. Ele parecia tão feliz e empolgado, eu não queria estragar isso...