Os domingos à noite sempre foram meus dias preferidos. Não só porque eu podia passar várias horas assistindo "Brooklyn Nine-Nine", mas também porque a família inteira tinha seus compromissos pessoais, o que me deixava livre para ficar em casa de pijamas, enrolada em meu edredom azul céu, rindo o mais alto que eu podia, enquanto apreciava a beleza de Jake Peralta.
Diferente de alguns adolescentes, eu adorava ficar sozinha para desfrutar da minha própria companhia e esquecer um pouco de como a escola e as pessoas conseguiam ser cruéis.
Revirei os olhos aumentando cada vez mais o volume da TV, ao que tentava ignorar meu celular vibrando sob a mesa de vidro da sala - o que eu menos queria naquela momento era falar com Dana, mas por alguma razão, seu nome continuava brilhando na tela.
Foram necessários oito toques para que eu finalmente me irritasse e levantasse para atender a droga do telefone.
— O que você quer Dana? — Perguntei de forma rude, me arrependendo em seguida.
— Eu preciso falar com você. — Ela insistiu. — É urgente!
— Você não pensou nisso quando resolveu mentir... - Me fiz de difícil, a escutando bufar do outro lado.
— Elliot, me escuta! — Interrompeu. Seu tom de voz rígido me deu calafrios. — Lembra daquela conta no Twitter "Vendetta Halton"?
Mas era claro que eu me lembrava. Só se falava naquilo nos últimos meses dentro do colégio. Vendetta em italiano significava "vingança", o que fazia bastante sentido diante do intuito da pessoa que criou aquilo. "Vendetta Halton" era um usuário anônimo que de tempos em tempos postava segredos ou comentários maldosos sobre alguns alunos populares da Halton. Basicamente todos liam as postagens que saíam de lá, mas ninguém sabia quem as realizava. Porém, uma vez que seu nome aparecia, sua reputação estava acabada.
— Sei. — Respondi, tentando não transparecer minha preocupação.
— Entra lá. Agora. — Dana ordenou, me fazendo franzir o cenho.
— O que? Dana, o que tá acontecendo? Você tá me assustando...
— Só faz o que eu to pedindo, por favor.
Me dei por vencida e subi as escadas até meu quarto. Sentei-me na escrivaninha e abri meu notebook. Levaram alguns segundos até que eu digitasse e fosse levada à uma página que a foto de perfil era uma caveira em chamas. Rolei um pouco a tela, me deparando com um tweet de trinta minutos atrás:
"Depois de uma votação no colégio, que teve a participação do clube de natação, time de futebol e jogadores de xadrez, a decisão foi unanime: Elliot Casper, irmã virgem e gorda de Peyton Casper, é sem dúvidas a garota mais feia da Halton."
Embaixo havia uma montagem da minha foto do anuário num corpo de porco, com a palavra "gorda" destacada.
Comecei a sentir uma falta de ar e o choro vindo em minha garganta. Eu desejava sumir para que ninguém mais pudesse me ver. Eu não entendia como minha aparência podia incomodar tanto as pessoas. Afinal, quem eu achava que era nos últimos dias? Falando com garotos como Alex e Noel, andando por aí achando que um dia alguém iria me aceitar... Todos que se aproximavam de mim só o faziam por pena, ou para me humilhar.
— Ellie? — Dana chamou, notando meu silêncio. — Ellie, eu... sinto muito. Olha, nós vamos descobrir quem fez isso e...
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Colírio
Roman pour AdolescentsEm meio à imensidão do colégio Halton, Elliot Casper era uma garota invisível. Ela não se destacava por suas notas e muito menos por sua aparência. Ela não gostava de tirar fotos, ou passar o dia fazendo compras, pelo contrário, abriria mão de tudo...