| Capítulo 19 |

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Estamos a uma hora tentando tirar Manu das ferragens. Fiz uma ligação para casa porque a essa hora Jack já deve ter percebido nosso sumiço. Pedi a ele que preparasse uma equipe para analisar o avião já que ele estava em perfeitas condições para uma viagem longa.

Estou angustiado em ver o estado que minha mulher se encontra. Eu queria fazer alguma coisa, mas os bombeiros não permitiram e isso faz eu me sentir ainda mais inútil.

Enzo está dentro do veículo dos bombeiros, recuperou a consciência, assim como os bebês. Eu deveria estar lá com eles, porém não consigo me mover daqui, isso me torna um péssimo pai.

Escuto um chorinho que distrai minha atenção da minha mulher ainda desacordada. Me levanto com um pouco de dificuldade e caminho de onde o som parece vir. Me mantenho em silêncio e seu latido me faz sorrir.

Encontro a pequena gaiola um pouco retorcida e lá dentro aquela bolinha de pelo choraminga ao me ver.

- Oi bolinha, você está bem amigão? - abro a gaiola e o retiro de dentro, por incrível que pareça ele está bem, só um pouco assustado.

Faço cafuné em seu pelo e ele me olha com um olhar triste.

Volto a olhar para a direção que minha esposa se encontra e com um estrondo conseguem retirá-la do seu assento.

- Graças a Deus. - sussurro a mim mesmo.

Caminho até o outro carro de bombeiro e os vejo a colocando dentro. Decido ir com as crianças para o hospital, elas precisam do pai.

Me sento ao lado de Enzo que está com o braço imobilizado devido a suspeita de osso quebrado.

- Papai eu quero a mamãe Manu. - diz com pequenas lágrimas se formando em seus lindos olhinhos. Isso me fode por completo.

- Logo a veremos filho, agora tente dormir. - tento acalmá-lo e também a mim mesmo. Sinto meu coração se apertando a cada segundo.

- Eu não quero dormir, quero a mamãe. - choraminga.

- Fique com o bolinha um pouco, ele está triste e precisa de você. - entrego o pequeno cão a ele que aceita de bom grado.

Vamos em silêncio até o hospital, os gêmeos estão dormindo e eu até chego a cochilar por um momento, mas acordo com um pesadelo. Bastou fechar os olhos para que eles me inundasse no pior momento da minha vida.

Em determinadas situações da vida nos vemos diante de um filme e cenas de vários acontecimentos que já vivemos, momentos esses que nos fez extremamente felizes e então você é inundado por uma sensação boa com as recordações e no minuto seguinte a realidade te arranca daquele sonho e te dá um tapa na cara tão forte que você fica sem reação.

Me lembro perfeitamente do dia em que esbarrei com Manu e de como eu nunca mais consegui tirá-la da minha mente. Nunca conheci uma mulher tão inteligente, sagaz, intensa e dona de si. Apesar da pouca idade ela sempre foi a frente do seu tempo e foi esse seu jeito de lidar com situações como essa que me fez ser quem sou.

Manu me salvou de mim mesmo, ela acreditou em mim quando eu estava fodido demais pra isso. Nenhuma mulher jamais chegou aos pés do que ela me faz sentir e hoje vê-la dessa forma tão frágil me deixou em pedaços, quebrado... Tão quebrado quanto fiquei quando Ethan morreu.

Eu a amo mais do que minha própria vida. O pensamento de perdê-la me deixa louco, insano.

Assim que estacionamos na porta do hospital eu salto do carro e caio esquecendo do ferimento em minha perna. Com a ajuda de uma mulher, provavelmente enfermeira pela roupa branca, eu me levanto.

Eu, você e eleOnde histórias criam vida. Descubra agora