SETE: JOSHUA

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TODAS AS casas da rua estão escuras. A Blenkner Street está praticamente envolta na penumbra, iluminada apenas pela fraca luz dos postes. Todos já se recolheram e apagaram as luzes da casa, eu sequer acendi as minhas.

    Não sei ao certo quantas horas fazem desde que cheguei em casa, mas sei que já se passou muito tempo desde que me sentei no canto da sala de estar e permaneci imóvel, silencioso e mergulhado nos meus próprios pensamentos. Aceitando a condição de refém da minha própria tristeza.

    Já não me importa mais o que acontece da porta para fora. Meghan se foi e um mundo em que a mulher da minha vida não vive é um lugar onde não me interessa estar.

    Desde a explosão do centro comercial, várias pessoas já tentaram entrar em contato comigo de modo que perdi a conta de quantas vezes evitei conversas nas últimas horas.

    Tudo o que quero é permanecer sentado junto à parede, a corrente de ar que entra pela janela bate no tapete e faz com que um frescor de menta se misture ao vento e perfume a sala.

    Meghan costumava usar um óleo para relaxar a musculatura dela quando estava tensa e, certa vez, derrubou um frasco inteiro no tapete da minha sala. O aroma nunca o deixou e, hoje, essa é única forma de senti-la nessa casa.

    Minha visão começa a ficar turva por causa das lágrimas que brotam em meus olhos. Deixo-as rolar em silêncio porque é a única coisa que me resta fazer para amenizar temporariamente o que estou sentindo. E, talvez seja em vão porque sei que essa dor não vai passar.

    Vejo uma iluminação estranha na rua através da janela, mas não me levanto para olhar. Meu palpite é de que se trata de um farol de carro. A luz para de frente para a casa  e se apaga em seguida.

    Menos de um minuto depois, ouço batidas na minha porta, mas não movo um músculo para atendê-la.

    O visitante indesejado aguarda uns instantes e volta a bater na porta. Permaneço no mesmo lugar esperando que ele desista e vá embora, mas então ouço uma voz:

    — Não me faça bater uma terceira vez se gosta de ter uma porta em casa. —     Klaus soa determinado. — Sei que está aí, Joshua. Não adianta tentar se esconder.

    — Vá embora, Klaus. — digo. — Não estou em um bom momento para falar com ninguém.

    — Nunca há um bom momento para lidar com pessoas. — fala Klaus. — Mas eu não vou sair daqui até que você abra essa porta. Você decide se vai querer ter um homem acampado na sua porta ou se vai me deixar entrar.

    Respiro fundo, enxugo a umidade no meu rosto e seco os olhos.

    — Abrir porta. — falo e o sistema da casa executa o comando.

    Klaus adentra a sala em seguida e me vê sentado no escuro.

    — Há quanto tempo está sentado aí? — pergunta ele me fitando.

    — Desde que cheguei, mas isso não vem ao caso. — alego. — O que você quer?

    — Primeiramente, queria ver como você está.

    — Já está vendo. Não poderia existir estado mais deplorável. Agora se me der licença... — começo.

    — Eu não vou sair, Joshua. Não vou deixar você nessa situação. — afirma Klaus se aproximando de mim. — Venha, levante-se.

    Ele estende a mão para mim, mas eu não demonstro o menor interesse em pegá-la.

    — Por que dificultar tanto? Isso não vai resolver nada. — diz Klaus se sentando no sofá.

LEAD SCARSWhere stories live. Discover now