NUNCA GOSTEI muito de papo. Não sou o tipo de pessoa sociável e não tenho muita tolerância para quem é. No geral, sempre opto por me manter reservado. Talvez porque isso me ajuda a manter o controle sobre tudo o que diz respeito à minha vida. Eu estou ciente, eu decido, eu administro. Sempre foi assim.
No momento, as circunstâncias não estão a meu favor e não há muito que eu possa fazer a respeito disso, admito. Mas pelo menos, meu modo de encarar a vida se enquadra perfeitamente na rotina do local em que me encontro.
Dois dias atrás, eu estava dirigindo um caminhão carregado de munições roubadas do exército. Uma das missões para qual a Máfia me designou. A primeira que não consegui executar.
A carga foi parar no fundo do oceano e eu vim parar aqui. Na prisão da divisão de agentes especiais em Columbus.
Em uma cela em que tudo o que se tem para olhar são as paredes, o teto e uma porta, percebo o quanto sinto falta do céu.
Quando um homem se encontra em uma situação como essa, é inevitável que ele reflita sobre tudo o que diz respeito a si mesmo e às escolhas que foram feitas.
Se eu não tivesse me unido à causa da Máfia, eu provavelmente não estaria aqui agora. O que não significa, necessariamente, que eu estaria em uma situação melhor.
Minha decisão sobre me unir à organização mais odiada do país não foi influenciada por minha vontade. Fiz por necessidade. O que um cara de 16 anos que, de repente, se viu sozinho no mundo com dois irmãos mais novos poderia fazer para conseguir recursos para manter duas crianças seguras e alimentadas?
Nenhuma das opções me parecia tão imediata quanto colaborar com a Máfia. Eu estava nos domínios deles e, para eles, não estar a favor da causa, significa estar contra ela e estar contra naquele momento significaria que meus irmãos sofreriam.
A saída que encontrei foi usar todo o meu conhecimento sobre mecânica e pilotagem para despertar o interesse da organização e garantir uma vida sossegada para meus irmãos.
O que não faz diferença agora. Eu estou aqui e eles lá.
Minha maior preocupação não é minha condição atual, mas sim o bem-estar deles.
Não sei até onde a Máfia é capaz de ir pra me punir por ter fracassado na missão, mas não é o tipo de coisa que eu gostaria de descobrir.
Durante todo o tempo que tenho passado no cárcere, o sentimento que mais me preenche é o de impotência. Ele me cerca e, talvez eu tema mais a cela da minha mente do que a que tranca meu corpo.
Ouço o barulho da porta se abrindo, deslizando para o lado logo após o som do mecanismo liberando a abertura. Continuo exatamente da forma que estou, olhando fixamente para a parede.
— Para fora, Hendrix. — diz o carcereiro. — Seu comportamento pacato lhe concedeu a única recompensa que vai conseguir estando aqui dentro. O banho de sol.
Desde que fui colocado na cela, essa é a primeira vez em que alguém me dirige a palavra sem que seja para me mandar para o banho ou para comer.
— Vamos! — brada o homem. — Eu não tenho o dia todo.
Me levanto e o sigo para fora da cela e depois guardas me acompanham pela sequência de corredores iguais que me levam a uma enorme porta. Há uma sala de controle à direita onde se encontra um homem sentado por trás de uma mesa.
Com um aceno de cabeça, um dos guardas ordena que ele ative o comando que abre a porta. Logo depois, me vejo no pátio onde outros prisioneiros transitam por todos os lados. Alguns andam em grupos, outros preferem ficar sozinhos. Eu caminho até um banco ao fundo do pátio onde o muro faz sombra e me sento.
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LEAD SCARS
ActionVivendo sob os ataques de um perigoso e anárquico grupo de terroristas que se opõem ao sistema democrático do país, um improvável esquadrão de agentes especiais do governo é desognado para uma arriscada missão que consiste em invadir e neutralizar d...