OITO: TYRR

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O SUOR escorre pela minha testa e tenho a sensação de que meus músculos estão em chamas. Puxo meu corpo para cima mais uma vez e a sensação fica ainda mais intensa tornando difícil voltar a repetir o movimento, mas eu faço mais uma vez de modo que meus braços tremem enquanto iço todo o meu peso até a barra que seguro com toda a força da qual posso dispor no momento.

    O alívio vem instantaneamente quando permito que meus pés toquem o chão e deixe meus braços descansarem, os músculos das minhas costas latejam enquanto seco o suor do rosto com uma toalha.

    Me dirijo ao dispositivo ao lado da janela do quarto e altero a transparência do vidro para que eu possa ver os primeiros raios de sol surgindo ao longe.

    É um novo dia.

    Saio do quarto e caminho pelo apartamento até chegar à cozinha. Me sirvo de um copo de suco e assim que dou o primeiro gole, ouço o som da campainha. Deixo o copo sobre o balcão e vou até a porta.

    — Abrir porta. — digo, acionando o comando.

    Me deparo com um par de olhos castanhos expressivos fixos em mim no momento em que a porta desliza para o lado.

    — Bom dia, Tyrr. — fala a garota sorridente.

    — Ah, bom dia, Cyndra. — respondo. — Acordou cedo.

    — Acordei mesmo. Fiz torta de frutas e pensei em lhe trazer. — diz Cyndra estendendo uma torta na minha direção.

    — Que gentileza. Não precisava ter se incomodado.

    — Não é nada demais. — alega Cyndra com um sorriso no rosto enquanto mexe no cabelo de maneira casual. — A receita é da minha avó. Espero que goste.

    — Eu tenho certeza que está uma delícia. Desde que você não tenha colocado carambola nela, é claro. — digo.

    — Não. Pode comer tranquilo, não há carambola aí. — afirma Cyndra apoiando a mão no umbral da porta e me lançando um olhar penetrante.

    — Então está ótimo. Bom, agora eu preciso me apressar. Tenho que sair daqui a pouco. Você sabe, dia cheio...

    — Imagino. — fala Cyndra. — Depois eu passo por aqui para saber o que achou da torta.

    — Combinado. Tenha um bom dia.

    — Você também. — responde ela logo antes da porta se fechar.

    Carrego a torta até a cozinha e a coloco sobre a balcão enterrando o rosto entre as mãos em seguida.

    — Hoje ela acordou determinada. — diz uma voz a qual reajo com um sobressalto denunciando meu estado de surpresa.

    — Anunciar sua chegada, por acaso, vai matar você? — pergunto.

    — Eu também moro aqui. — diz Shankar com uma voz risonha.

    — O que não justifica você entrando nos cômodos discretamente e se pronunciando de repente. — rebato.

    — Enfim, Cyndra te trouxe uma torta. Semana passada foi um strudel e na anterior um...

    — Crème brûlée. — completo.

    — Ela está determinada a conquistar seu coração... ou o seu estômago. — fala Shankar.

    — Muito engraçado. E de quem é a culpa disso? — questiono. — Quem quis sair com a prima dela e me pediu para fazer companhia a ela?

    — Não jogue a culpa para cima de mim. — fala Shankar. — Pedi para você fazer companhia, você beijou a Cyndra porque você quis. Acabou que ela se apaixonou e agora você tem um doce diferente toda semana.

LEAD SCARSWhere stories live. Discover now