DOIS: JOSHUA

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COLUMBUS, OHIO

    JÁ É a quinta vez que checo as abotoaduras nos últimos dois minutos. Sempre busco algo para direcionar minha atenção quando estou nervoso ou ansioso. Esse é um desses momentos, apesar de se tratar da decisão mais certa que já tomei em toda a minha vida.

    Minha pulsação ligeiramente acelerada parece dialogar com a rara sensação de estar no lugar correto na hora correta. Pela primeira vez na minha vida sinto que estou onde devo estar. A sensação de pertencimento era algo que quase nunca estava comigo, me sentia deslocado na maioria das vezes. Como se lugar nenhum me coubesse, como se eu fosse uma peça com forma diferente do encaixe onde deveria me enquadrar até que eu percebi que o problema não estava em mim e sim no lugar onde achei que deveria me acomodar.

    Descobri isso no primeiro abraço que ela me deu.

    Meghan possui um olhar que aplaca toda e qualquer inquietação que eu possa vir a ter. Ela me faz perceber que eu sou capaz de pensar em mim mesmo sem me preocupar com fatores externos. O que sempre foi o meu maior problema. Penso demais.

    Exceto quando ela sorri.

    Quando ela sorri, eu não penso em nada. Nada além de que preciso ficar parado, contemplando a visão na esperança de que o fato de eu estar imóvel também faça o tempo parar e eu consiga usufruir o máximo possível daquele momento porque o sorriso dela não é qualquer sorriso, ele começa pelos olhos muito antes de chegar aos lábios. E o vislumbre disso acontecendo... eu não sei... é como arte.

    O lugar parece reluzir muito além do brilho dos lustres recém-polidos que parecem levitar acima do salão de festas. Tiro um tempo entre os cumprimentos aos convidados para observar os detalhes. Para que eu guarde a lembrança clara e nítida em minha memória. As pessoas sorriem, a música ressoa pelo salão calma e agradável e meus olhos se voltam para a escadaria principal a cada trinta segundos na esperança de ver Meghan descendo.

    Volto a checar as abotoaduras até que percebo alguém estendendo uma taça para mim.

    — Talvez assim você consiga esquecer um pouco das abotoaduras. — fala Klaus com um sorriso no canto da boca.

    Sorrio de volta e pego a taça.

    — Obrigado. Eu estava precisando. Minha garganta já estava seca de tanto falar com as pessoas. — afirmo.

    — Então você achou mais interessante vir aqui para o canto e fixar seus olhos na escadaria. — diz Klaus dando um gole na taça dele. — Não se preocupe, uma hora ou outra, ela vai descer. — garante ele. — E se não descer...

    Quase que imediatamente me volto para ele com o olhar aflito.

    — Eu mesmo me caso com você. — diz Klaus dando uma gargalhada.

    — É uma proposta? — pergunto.

    — Eu também ganharia uma aliança bonita? — pergunta ele e eu também rio.

    — Às vezes fico pensando que sua irmã não é real, admito. E quando a toco e percebo que estou errado, me pergunto se sou bom o suficiente para estar com alguém tão incrível. — digo. Tenho facilidade em me abrir para Klaus, ele é o tipo de pessoa que faz qualquer conversa parecer fácil.

    — Ei, você é. — afirma ele após outro gole. — Eu sei disso porque sinto que estou fazendo a coisa certa entregando nas suas mãos a coisa mais valiosa que tenho na vida. Não há ninguém mais digno dela do que você.

    — Obrigado, irmão. — digo.

    — Por nada. Mas isso é tudo o que você vai ouvir de mim a respeito desse assunto. Estou economizando as palavras para o brinde. — alega Klaus.

LEAD SCARSWhere stories live. Discover now