Meu pai me largou no aeroporto, eu despachei minha mala e fui em direção ao portão de embarque. O guarda conferiu meu passaporte e depois me apontou o caminho. À minha frente, o local de revista. Coloquei minha bolsa sobre a
esteira rolante e passei pelo detector de metal. "Pode seguir", disse a moça.
Caminhei até o portão dez e, quando cheguei à sala de embarque, me sentei.
Olhei no relógio, ainda faltavam quarenta minutos, mas a sala já estava cheia de
pessoas que como eu, iriam para o outro lado do mundo. Muitas delas
literalmente para o outro lado do mundo, pois a última escala do avião seria em
Tóquio.
Me levantei, cruzei a sala e fui ao banheiro. Odeio esses banheiros públicos
com esses espelhos enormes, por mais que você evite, acaba sempre dando de
cara com você mesma, que é que eu fiz com o meu cabelo? Eu estava horrível.
E pior é que eu sempre soube que me detestava de cabelo curto. às vezes a gente
faz cada coisa consigo mesma que é difícil de acreditar. Voltei pra sala de espera,
finalmente o embarque foi anunciado. Os passageiros formaram fila e entraram
no avião. Minha poltrona não era do corredor como eu queria, mas ao menos
ficava na ala de não-fumantes. Sentei-me, agora era só esperar o avião levantar
vôo. Isso me fez lembrar da minha primeira viagem aos Estados Unidos quatro
anos antes. Nova York... O urso! Toda vez que penso em Nova York me lembro
do urso-branco do zoológico do Central Park. Como ele era fofo! Eu adorava vê-
lo mergulhar naquela imensa piscina transparente e descer até o fundo, como se
estivesse em câmera lenta. Aí nós ficávamos nos olhando de pertinho, separados
apenas pelo vidro. Como era lindo! Puxa, já haviam se passado quatro anos.
Muita coisa tinha acontecido nesse tempo, muita coisa.
"Tripulação, preparar para decolagem", anunciou o piloto. O avião começou a
mover-se até pegar velocidade na pista, fez aquele barulhão todo e saiu voando
em direção a outro lugar.
E se há algo de que eu me orgulho nessa vida são os lugares por onde passei. E
lá estava eu, indo para mais um. Um lugar que até quinze dias atrás eu nem sabia
que existia. E ali, dentro do avião, comecei a lembrar.
Fazia muito tempo que eu não encontrava os meus amigos da escola. De
repente me deu uma saudade enorme. Pouco antes de viajar tinha ligado pra
Priscila meio sem jeito. Contei pra ela da minha vida, de como estavam as
coisas. Ela me falou dela e do pessoal da escola com os quais ainda mantinha
contato. Eu disse que estava pensando em viajar de novo.
Dessa vez para fazer um curso de inglês na Califórnia. Ela me ofereceu uns
prospectos de cursos no exterior.
A noite, em casa, olhei um por um e separei só os da Califórnia. Mesmo assimainda eram muitos e, para dizer a verdade, quase todos iguais. Fotos de lugaresbonitos na frente com depoimentos de alunos dizendo o quanto amaram o curso,
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DEPOIS DAQUELA VIAGEM
RandomNo tom descontraído próprio dos jovens, Valéria relata as farras com a turma de amigos, a dúvida entre " ficar" ou namorar, o despertar da sexualidade, a angústia diante do vestibular e muitas outras coisas que atormentam qualquer adolecente. Tudo i...