Desculpa

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Juliana tagarelava algo sobre como suas notas haviam melhorado depois que passou a frequentar uma orientadora. Meus pensamentos vagavam tentando entender meu último encontro, há duas semanas.

- Ísis! - Juliana chamou.

- Hum? - Encarei a mesma.

- Você ouviu o que eu disse? - Bufou.

- Desculpa, Ju. - Suspirei.

- É ele, né? - Revirou os olhos. - Vai Sisi, pode desabafar comigo.

- Ele não me ligou desde o nosso último encontro. - Deitei-me em sua cama e agarrei seu travesseiro em posição fetal.

- Por isso saio pegando geral, sofrer por macho é uma merda. - Deitou-se ao meu lado.

- Você não está me ajudando. - Virei-me pra ela.

- Foi mal. - Revirou os olhos. - Já tentou ligar pra ele?

- Tá doida? Lógico que não.

- Por quê? - Levantou as sobrancelhas.

- Vai parecer que eu estou desesperada correndo atrás.

- Já parou pra pensar talvez ele não tenha te ligado com medo de você pensar o mesmo dele? - Levantou-se e pegou meu celular.

- Juliana! - Corri atrás dela mas a mesma entrou no banheiro e trancou a porta. - Não faz isso, por favor.

- Tá chamando. - Avisou.

- Eu vou matar você! - Gritei.

Alguns minutos depois ela saiu do banheiro, sua expressão facial demonstrava frustração.

- Ele não atendeu. - Devolveu-me o celular.

- Ai, que ódio! - Bufei e joguei o celular na cama.


...

Marlon

Amanheci com uma tremenda dor de cabeça, levantei desviando das garrafas de bebida que estavam espalhadas no chão. Resultado da festa que Victor resolveu dar na casa dos pais enquanto os mesmos viajavam. Acabei dormindo no corredor, eu realmente havia bebido muito.

- Porra, mano. - Rafael riu quando cheguei na cozinha. - Onde foi parar a sua calça?

- Sei lá. - Eu vestia apenas cueca box. - Tem algum remédio pra dor de cabeça aí?

- Pega aí. - Jogou uma cartela de comprimidos.

- O que aconteceu ontem? - Tomei o remédio.

- Você tirou a roupa e começou a dançar em cima da mesa de sinuca. - Gargalhou. - Você tava muito doido.

- Eu não lembro disso. - Forcei a memória mas não passou nenhum reflexo. - Sabe onde está o meu celular?

- Aqui. - Tirou do bolso e me entregou. - Você jogou ele na piscina quando alguém te ligou.

- Que merda hein. - Liguei o celular.

- Sorte sua que peguei a tempo, se não teria queimado. - Deu um tampinha no meu ombro. - Tá me devendo uma.

A ligação havia sido da Ísis. Tava explicado o porquê de eu ter jogado o celular na piscina, eu estou evitando essa menina há algumas semanas. Mas ela não sai da minha cabeça.

Há alguns dias descobri que meu celular estava sendo monitorado. Apesar de eu ter tomado o cuidado de não salvar o número da Ísis e apagado todas as nossas ligações, provavelmente Fernando já desconfia do meu envolvimento com ela. Eu preciso acabar com isso agora, antes que seja tarde demais.

...

Mamãe e papai resolveram passar o domingo no sítio da minha vó, Selma, mãe do meu pai.

- Ísis! - Abraçou-me fortemente. - A vó estava morrendo de saudades de você.

- Bença. - Beijei-lhe o rosto.

- Deus te abençoe. - Beijou minha cabeça.

Meus pais a cumprimentaram e entramos na casa. Minha tia Samanta preparava a comida.

- Yuri! - Abraçou meu pai, seu irmão. - Quanto tempo!

- Você continua gostando de cozinhar. - Meu pai retribuiu o abraço.

- Iara. - Abraçou minha mãe e a encarou. - O tempo não passa para você, está cada vez mais bonita.

- São seus olhos. - Mamãe sorriu envergonhada.

Fomos para sala, vovó pegou um álbum de fotos antigo, começou a contar histórias de quando namorava meu avô e como meu pai era desengonçado na infância.

- O almoço tá na mesa. - Minha tia avisou.

Fomos para mesa. Passei alguns bons minutos explicando para minha vó e minha tia o porquê de eu ser vegana, já que o almoço era regado a farofa com bacon, carne assada, maionese, etc. Apesar de eu só comer a salada de cenoura, chuchu e batata, a comida estava deliciosa.

Anoiteceu, vovó não deixou a gente ir embora por decreto nenhum. Então resolvemos ficar e ir na manhã seguinte. Fui para o quarto da tia Samanta, já que meus pais ficaram no quarto de hóspedes. Meia noite e pouca o meu celular começou a tocar.

- Alô. - Atendi sonolenta.

- Desculpa não ter atendido ontem. - Marlon pediu com a voz rouca.

Eu fiquei em silêncio, meu coração acelerou ao ouvir sua voz mas eu não queria demonstrar que estava feliz com aquela ligação.

- Deixa pra lá. - Bufou. - Tchau.

- Desculpa ter ligado do nada. - Deu vontade de matar Juliana mas não posse negar que fiquei feliz por ele retornado a ligação graças a ela.

- Não precisa se desculpar. - Pediu sem demonstrar interesse em continuar aquela conversa.

- Tô morrendo de sono. - Confessei a verdade mas no fundo eu queria passar horas conversando com ele. - Vou dormir.

- Ok. - Respondeu seco. - Boa noite.

- Boa noite. - Falei antes de desligar.

Eu não entendo esse cara, retornou a ligação pra me tratar assim? Que raiva! Eu odeio ele, nunca mais quero ver nem ouvir falar dele.

Glock: Perigo A VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora