2º parte: Zanga no dia de anos

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- Tem calma! Agora tens de te conseguir concentrar!

Finalmente tinha acesso a algumas informações importantes para conseguir descobrir qual era o meu problema. O mais importante agora era saber o que fazer com tudo o que tinha ouvido. Era melhor começar a analisar partes de cada vez, pois se começar a pensar em tudo ao mesmo tempo, apenas me ia conseguir confundir mais.

Sentei-me na cama de pernas cruzadas e relembrei toda a conversa da minha mãe, infelizmente só consegui ouvir partes do que ela estava a dizer:

- Tens a certeza que não podemos fazer nada? Não gostei nada de passar pela minha primeira visão sozinha. Podíamos explicar-lhe tudo. Temos mesmo de fazer como os nossos pais? E suposto ajudar no quê? Tens razão, eu sei que é necessário saber como irá reagir. Infelizmente não a podemos proteger para sempre.

Sabia que algo de muito importante ia acontecer comigo, na noite dos meus anos. Depois seja o que vá acontecer, não parece ser fácil, os dois pareciam preocupados, tenho quase a certeza que os ouvi falar em visões.

Sinceramente agora depois de ter ouvido a minha mãe parece tudo um pouco louco. Quer dizer, visões! Parece o início de um horrível filme de terror! Provavelmente os dois andaram a inalar gases estranhos.

Acho que vou ter esperar e ver o que vai acontecer. O lado positivo é que se os dois também já tinham passado por aquilo e estavam vivos, não podia ser assim tão complicado. Eu tinha a vantagem de saber um pouco mais. Provalvelmente o choque vai ser menor.

Com toda esta confusão, ainda não tinha conseguido dormir nada quando finalmente estava a começar a adormecer, a minha mãe entrou para o meu quarto com o meu pai atrás dela. Claro! Já me tinha esquecido que o meu aniversário era hoje.

- Parabéns – gritaram os dois enquanto a janela se ia abrindo.

Espreguicei-me e bocejei de propósito para tentar dar a entender que tinha estado a dormir profundamente.

- É melhor despachares-te a vestir para irmos abrir os presentes antes que o cão da vizinha os venha roubar. Depois já não os recebes! – Comentou o meu pai.

Olhei para ele revirando os olhos e fazendo um enorme esforço para não me começar a rir. Aquela conversa era bastante desnecessária. Muitas das suas conversas comigo eram daquela maneira. O mais enervante é o tom de voz que utiliza. Nem mesmo um bebé iria gostar.

- A sério? Por favor! Faço dezasseis, não são cinco anos! Sei perfeitamente que as prendas não vão a lado nenhum.

- Kayla!!! – Asseverou a minha mãe.

Olhei para ela e foi aí que percebi o que tinha dito.

- Desculpa! Não queria dizer isto – pedi ao meu pai, mas ele olhava para o chão, sem me responder. Também não sei se devia dizer algo mais. Não era nada bom piorar a situação.

- Veste-te e vem para baixo para o pequeno-almoço - ordenou a minha mãe sem olhar para mim.

Quando os dois saíram, senti-me logo mal pelo que lhe tinha dito.

Não tinha feito de propósito, eu amava o meu pai. Alías ele é o meu pai, nunca me poderia sentir de outra maneira. Por gostar dele é que a maior parte das vezes esquecia-me que não fez parte da minha infância. Na verdade nunca soube exatamente qual era a razão para isso, nunca me deram uma justificação que parecesse verdadeira. Com o tempo acabei por aceitar que nunca iria saber e acabei por nunca mais perguntar. 

O que é certo é que só começou a fazer parte da minha vida quando tinha 10 anos. Era por essa razão que me tratava e falava comigo daquela maneira, pois nunca tinha tido nenhum contacto com bebés.

Como já não podia voltar com o tempo atrás, levantei-me e fui vestir-me. Uns sete minutos depois desci e fui juntar-me a minha família. Apenas os dois constituíam a minha família, visto que não conhecia mais ninguém.

- Desta vez, vesti-me mais depressa- disse-lhes para tentar arranjar um tema de conversa - já não precisam de ralhar comigo.

Os dois olharam para mim e começaram a comer, como se eu ali não estivesse. Respirei junto e também comecei a comer.

Já só me faltava ficarem amuados no meu dia. Eu era a única com razão para isso. A mim é que me tinham andado a mentir sempre que lhes perguntava acerca dos sonhos.

- Vão mesmo continuar chateados comigo? Parecem umas crianças amuadas. Não disse nada de muito mau – exclamei perdendo a paciência – o que disse também não era mentira.

- Nem mereces que te responda. Essa não é a atitude que uma rapariga com dezasseis anos deva ter.

- Até parece que a vossa atitude está melhor! A vossa é que não é para a vossa idade.

Levantei-me e saí de casa a correr. Não conseguia continuar alí.

Sonhos de IlusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora